Família denuncia negligência após morte de segurança em UPA de Curitiba: "médico nunca veio"

Publicado em 26 out 2022, às 13h28. Atualizado às 13h32.

A família do segurança Vitor Loureço Campos Silva, de 40 anos, que morreu na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Boa Vista, em Curitiba, afirma que o homem faleceu por falta de atendimento. Segundo uma amiga da família, ele aguardou por mais de duas horas por um médico, sua mãe chegou a suplicar pela atenção dos profissionais, mas “o médico nunca veio”.

De acordo com a prima de Vitor, Jhessica Maiara Matias Pereira, o segurança começou a se sentir mal no sábado (22), com dor de garganta e fraqueza, pediu dispensa do trabalho, mas achou que se tratava apenas de uma gripe forte, por isso tentou se tratar em casa. “No domingo (23) agravou a situação, eu vi ele na parte da manhã, e até comentei com ele, foram as última palavras trocadas, que podia ser íngua, estava muito inchada a parte do pescoço dele, a língua também, e ele não estava conseguindo nem engolir a saliva”, explicou ela.

Ainda no domingo, Vitor pediu para o pai levá-lo a UPA Campo Comprido, onde foi medicado e liberado. Durante a madrugada de segunda-feira (24), Vitor piorou e os familiares chamaram uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). “Ele não estava mais conseguindo aguentar, começou a passar mal, puxava ar, procurava ar da onde não tinha, sabe”, contou Jhessica.

O rapaz foi encaminhado para a UPA Boa Vista por volta das 2h30, mas não foi examinado com prioridade. “Quando chegou lá, ele não teve aquela triagem, não fizeram nem a triagem nele, e ele buscando atendimento, era nítido que ele estava passando super mal, até os pacientes que estavam ali tentaram prestar um auxílio para ele. A enfermeira foi, bateu na porta do médico, solicitou que ele fosse atendido na frente e, enquanto ela fez isso, foram os últimos minutos de vida dele”, descreveu a prima.

“Ele caiu no chão da UPA, ele acabou fazendo as necessidades fisiológicas dele ali, e aí a enfermeira saiu correndo da porta do consultório onde ela estava solicitando atendimento médico para ele com prioridade, fez uma massagem cardíaca. Ele voltou, colocaram ele na maca com auxílio dos pacientes que estavam ali, duas enfermeiras e mais os pacientes, porque ele é grande, ele é obeso. Depois disso, levaram ele lá para trás. Quando retornaram, retornaram com a notícia do óbito já”, complementou Jhessica.

Ieda Godoy, amiga da família e proprietária da balada na qual Vitor trabalhava há muitos anos, compartilhou nas redes sociais o sufoco passado pelos familiares no momento. “Dona Rose, sua mãe, estava com ele, implorando que chamassem o médico de plantão. E o médico nunca veio!”, argumentou ela.

Vitor morreu na UPA Boa Vista na madrugada desta segunda-feira (24). Segundo a certidão de óbito, a causa da morte foi edema de laringe/amigdalite aguda. Os familiares reforçam que houve negligência”O laudo é esse que deixa a gente indignado, porque traduzindo, morreu de dor de garganta. É indignante. Estamos pedindo toda a ajuda para que isso não passa impune, a gente não quer que o Vitão seja apenas mais um. A gente quer uma pausa, a gente quer que seja revista a forma como as pessoas são atendidas. A gente quer ser tratado como ser humano”, finalizou Jhessica.

Prefeitura abre investigação

O RIC Mais entrou em contato com a Prefeitura de Curitiba, que afirmou que a Secretaria Municipal de Saúde instaurou um processo para investigar o caso. Leia a nota:

“A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) lamenta e se solidariza com a família pela perda. A SMS esclarece que irá instaurar um processo para analisar todo o atendimento prestado ao paciente, para melhor avaliar as condutas clínicas adotadas e então tomar providências pertinentes”.

Homenagens

Vitor deixa família e uma filha adolescente. Ele era segurança, atuava na portaria de uma balada da capital, e fazia parte da bateria da Mocidade Azul, escola de samba curitibana. Muito querido entre familiares, amigos e conhecidos, Vitor, ou Vitão, recebeu várias homenagens nas redes sociais lamentando a partida e questionando a falta de atendimento. Veja:

Nas redes sociais, Ieda Godoy, amiga da família e proprietária da balada na qual Vitor trabalhava há muitos anos, publicou várias mensagens de despedida ao amigo de longa data. “Sempre apresentei o Vitão com “ele é um exemplo. Ele sabe ser querido e bonzinho, mas, se for preciso, ele sabe ser durão e botar moral”. Ele cuidava do Wonka e cuidava de mim. E meu coração está dilacerado com sua partida. Deixou uma filha adolescente e uma família que o amava muito. Quando a gente for pro céu, vai ter festa lá e é o Vitão que estará na portaria”, escreveu ela.

A Mocidade Azul também se manifestou nas redes, em luto. “Com muita tristeza, nossa bateria perde hoje um amigo querido, nosso VITÃO. A Mocidade Azul se solidariza com seus familiares e amigos nesse momento de tamanha dor e tristeza”, disse.

Outros amigos também postaram homenagens e relembraram momentos com Vitor.