Profissional da UTI Covid viraliza após transformar momentos de dor em textos emocionantes
Leandra Alainz é uma jovem fisioterapeuta. No auge dos seus 23 anos, a profissional precisa de força e experiência para encarar a perda de pacientes diariamente na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Centenário de São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre. Na linha de frente no combate a covid-19, Leandra resolveu aliar três grandes paixões: a fisioterapia, os textos e o sentimento de amor por cada paciente.
Depois de atuar cinco em uma clínica de fisioterapia, há pouco mais de um mês e meio, Leandra assumiu uma vaga na UTI do Hospital Centenário. Diante do caos que atinge o sistema de saúde no Brasil, a jovem passou a conviver com momentos dolorosos e a acumular histórias que dificilmente serão esquecidas.
“É o pior momento, nunca tivemos tantos leitos ocupados. Temos pessoas nos corredores, coisa que nunca tinha acontecido”,
conta Leandra, que além de atuar no hospital realiza plantões no Hospital Regional do Guaíba.
Textos viralizam nas redes sociais
A maioria dos brasileiros já está anestesiada com tantas notícias tristes e números que não param de crescer sobre a pandemia no país. Entretanto, o que para muitos são apenas números, para os profissionais da linha de frente, cada morte tem um nome, uma história e uma família que não espera a trágica notícia.
“Nós encontramos os pacientes acordados. Eles chegam lá falando, com medo, com angústia. Chegam falando que são colorados ou gremistas, chegam falando que querem ir para casa e acabamos nos apegando”,
destaca Leandra.
Após a internação, se os prognósticos do paciente com coronavírus não forem bons o único caminho é a intubação e a UTI. Neste momento de transição, é onde Leandra encontra mais inspiração para transformar a realidade de um hospital em textos que toquem a população, principalmente aqueles que ainda não se conscientizaram sobre os riscos da doença.
“Esta transição de internação para UTI é muito difícil, é uma transição de muito choque tanto para os pacientes como para nós. A gente está na internação pensando que vamos conseguir não colocar eles no tubo. A gente prona, faz manejo, a gente faz muita coisa para tentar que esse paciente de internação não vire um paciente de UTI covid. Então sempre pensamos para que isso não aconteça, mas às vezes acontece. E quando acontece é este choque, que eu transmito nos textos”,
comentou Leandra.
Para a fisioterapeuta, sem dúvidas, a intubação é a notícia que nenhum paciente com covid-19 quer receber. Para ela, este momento pode ser descrito como o mais próximo que alguém consciente pode ter da morte.
“A intubação é o momento mais próximo que alguém pode ter da morte consciente. As pessoas entram no tubo sabendo que podem morrer, que existe uma grande chance delas morrerem, então este momento de cara com a morte é muito propício para criar cicatrizes”,
contou emocionada.
Diante de tantas histórias emocionantes, de vidas que se foram por causa do vírus, Leandra resolveu começar a escrever sobre a realidade da doença. Todos os personagens das publicações da fisioterapeuta morreram.
“Sempre gostei muito de escrever, principalmente para recordar. Eu acho que quando escrevemos nós conseguimos reviver os momentos. Conseguimos lembrar daquilo que guardamos lá no fundo. Escrever sobre estes pacientes é uma forma de honrar eles, de concretizar a vida deles. Todos aqueles pacientes que eu escrevi, eles morreram, eles não resistiram a covid. E eu acho que isso é uma forma de eternizar eles, de mostrar que eles lutaram. Isto é algo que me conforta, eu leio o texto e penso ‘meu deus, eu lembro desse paciente’, e a gente não quer esquecer deles, não queremos esquecer que eles lutaram, que eles tinham uma família”,
disse Leandra.
Histórias de Leandra
Apesar do pouco tempo na UTI covid, Leandra já transformou algumas histórias em grandes lições. Os textos nas redes sociais acumulam milhares de likes e comentários de colegas de profissão, de pessoas que perderam entes queridos e daqueles que se preocupam com o próximo.
Confira algumas histórias:
Veja abaixo algumas publicações de Leandra: