UPAs de Curitiba estão em situação precária de atendimento, diz sindicato
O Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar) realizou uma inspeção em duas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) de Curitiba, nos bairros Boqueirão e Sítio Cercado. O Simepar constatou condições precárias de trabalho às equipes médicas e de atendimento à população. Calor excessivo, médicos pressionados, falta de privacidade e sigilo médico no atendimento aos pacientes são alguns dos problemas constatados.
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As inspeções foram realizadas neste mês de janeiro. Uma das grandes queixas dos médicos é sobre o “Sistema Fast de Atendimento”, implementado nas UPAs pela Fundação Estatal de Atenção à Saúde (Feas), que é a responsável pela administração das unidades para a prefeitura de Curitiba.
O sistema possui um “controlador de fluxo”, que pressiona médicos e médicas a realizarem os atendimentos com rapidez e conduzindo os pacientes aos consultórios mesmo sem os profissionais chamarem. Eles reclamam que isso interfere na atuação e autonomia profissional, já que os supervisores de fluxo monitoram até as idas ao banheiro ou pausas de qualquer natureza.
Dependendo do problema que o paciente apresenta, dizem os médicos, muitas vezes é nesessário ficar mais tempo em atendimento com ele. E o sistema padroniza todos os atendimentos e obriga os médicos a correrem contra o tempo. O profissional de enfermagem, que faz o controle de fluxo, muitas vezes não tem condições técnicas de avaliar a necessidade do médico ficar mais ou menos tempo com um paciente.
Também foram identificados, através de relatos dos profissionais, uma série de problemas de pressão psicológica, estresse e cobranças por resultado no ambiente laboral.
Todo mundo escuta o problema de todo mundo
A inspeção constatou que, na UPA do Boqueirão, o atendimento é feito em biombos (baias), também chamados “boxes”. Eles são de utilização geral e obrigatória para os médicos durante as consultas, mas não oferecem privacidade. Todos escutam a conversa de todos e muitos pacientes ficam constrangidos em relatar o seu problema.
Os “boxes” não têm nenhum tipo de isolamento acústico, inviabilizando o sigilo médico, o que vai contra as leis federais que regem a profissão e ética médica. Não há mesa, cadeira, ou computador para que o médico possa sentar e registrar o atendimento ou gerar uma receita. Os boxes não possuem porta, somente uma cortina ou biombo improvisado.
Na inspeção realizada recentemente, os médicos e médicas também reclamaram de excesso de calor nos dias quentes e muito frio quando a temperatura cai. Ou seja, não há nenhum conforto térmico. O teto da UPA do Boqueirão, por exemplo, não possui nem forro. A unidade funciona dentro de um barracão com telhas aparentes e que fazem muito barulho em dias de chuva.
Há também diversos outros problemas, desde rachaduras e infiltações nos prédios das UPAs, mobiliário inadequado e eneferrujado, cadeiras duras e sem ergonomia, entre outros problemas.
Denúncia virou inquérito
Há mais de um ano, o Simepar vem denunciando os problemas nas UPAs ao Ministério Público do Trabalho (MPT). Tanto é que o MPT abriu um inquérito civil, que está em trâmite na Procuradoria Regional do Trabalho da 9ª Região, para investigar a situação. Por isto, solicitou ao Simepar essa inspeção nas unidades.
A Feas, responsável pela gestão das UPAs para a prefeitura de Curitiba, foi procurada para comentar a inspeção e afirmou que não vai se pronunciar sobre o relatório no momento. Veja na íntegra a nota:
“A Fundação Estatal de Atenção à Saúde (Feas) não teve conhecimento prévio dos relatórios do Simepar e só poderá se manifestar depois de avaliá-los criteriosamente. No entanto, de antemão, assegura que, de acordo com princípios e diretrizes da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), preza pela qualidade do atendimento à população e pelo bom ambiente de trabalho dos seus profissionais.”