Varíola dos macacos: médica do PR esclarece riscos da doença, sintomas e como se prevenir

Publicado em 31 maio 2022, às 12h19. Atualizado às 12h20.

Após lutar contra um inimigo invisível, a Covid-19, o mundo está em alerta para uma nova doença que começou a se espalhar: a varíola dos macacos. O surto, que teve início na África, passou a se tornar uma preocupação mais latente para o Brasil nos últimos dias, com a confirmação de casos na América do Sul. Para prevenir que a doença se alastre, o Paraná monitora a situação no Estado, já que há suspeita de pessoas infectadas em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.

De acordo com o Governo do Estado, os serviços de saúde estão sensibilizados para detectar casos suspeitos e interromper a cadeia de transmissão. Até o momento, o Paraná não registrou nenhum caso suspeito. No entanto, desde que a doença começou a ser diagnosticada em maior escala, a pergunta que acaba sendo feita é: “a varíola dos macacos vai se tornar a próxima pandemia?”.

Apesar de ainda estar em investigação e sendo acompanhada pelos órgãos de saúde nacionais e internacionais, os médicos acreditam que ela não tem um potencial tão ‘destruidor’ quanto a Covid-19, devido às suas características.

“Está longe de a varíola dos macacos se tornar uma pandemia. A primeira razão é que é muito difícil transmitir de pessoa para pessoa, ao contrário de um vírus respiratório como o Sars-Cov-2 [a Covid-19]. A transmissão da varíola dos macacos ocorre quando uma pessoa entra em contato com o vírus através de um animal, humano ou materiais contaminados. A varíola dos macacos é um vírus de DNA relativamente grande, que sofre mutações a uma taxa mais lenta do que os vírus de RNA, como coronavírus ou vírus influenza. Os vírus de DNA têm sistemas melhores para detectar e reparar mutações do que os vírus de RNA, o que significa que é improvável que o vírus da varíola dos macacos tenha sofrido mutações repentinas ou em alta taxa para alcançar uma relevante transmissão humana ou manifestar alta variabilidade”, explica a médica infectologista Dra. Camila Ahrens, que atua no Hospital Marcelino Champagnat.

“Isso significa que, uma vez superada a doença, o indivíduo adquire imunidade de longo prazo contra o vírus. Dois grupos genéticos do vírus da varíola dos macacos foram identificados até o momento: o clado da África Ocidental e o clado da África Central. Ambos estão geograficamente separados e têm diferenças epidemiológicas e clínicas definidas. A sequência de DNA mostra que o vírus que causa o surto atual é um tipo leve que circula na África Ocidental e está intimamente relacionado aos vírus da varíola dos macacos, detectados no Reino Unido, Cingapura e Israel em 2018 e 2019”,

relata a médica.

Mesmo se tratando, a princípio, de uma doença com menores chances de letalidade, ainda é preciso entender melhor como ela funciona e se prevenir. Por isso, conversamos com a especialista Dra. Camila Ahrens para saber mais sobre o que é a varíola dos macacos, os sintomas, prevenção e tratamento. Confira a entrevista:

O que é a varíola dos macacos?

Dra. Camila: “A varíola, uma infecção zoonótica viral, é endêmica em certas partes da África. Casos fora da África têm sido tipicamente ligados a viagens internacionais ou animais importados.

A varíola é uma zoonose viral (um vírus transmitido aos seres humanos a partir de animais) com sintomas muito semelhantes aos observados no passado em pacientes com varíola, embora seja clinicamente menos grave. É causada pelo vírus da varíola, que pertence ao gênero orthopoxvirus da família Poxviridae. Existem dois clados do vírus da varíola: o clado da África Ocidental e o clado da Bacia do Congo (África Central). O nome monkeypox se origina da descoberta inicial do vírus em macacos em um laboratório dinamarquês em 1958. O primeiro caso humano foi identificado em uma criança na República Democrática do Congo em 1970″.

Quais os sintomas da doença?

Dra. Camila: “Em indivíduos sintomáticos, a varíola causa uma doença sistêmica, incluindo febres, linfonomegalias, calafrios e mialgias, com uma erupção cutânea característica que é importante para diferenciar da varíola:

  • Erupção cutânea (97%)
  • Febre (85%)
  • Frescos (71%)
  • Linfadenopatia (71%)
  • Dor de cabeça (65%)
  • Mialgias (56%)”

Como a varíola dos macacos é transmitida?

Dra. Camila: “O contato próximo com lesões infecciosas da pele durante o contato sexual pode ser o provável modo de transmissão. A transmissão de pessoa para pessoa pode ocorrer através de grandes gotículas respiratórias e por contato direto com fluidos corporais ou material lesional.”

Como se proteger e evitar o contágio?

Dra. Camila: “Lave as mãos com água e sabão regularmente ou use um desinfetante para as mãos à base de álcool; Coma apenas carne que tenha sido bem cozida.

O que você não deve fazer:

  • Não se aproxime de animais selvagens, incluindo animais mortos;
  • Não se aproxime de nenhum animal que pareça doente;
  • Não coma ou toque em carne de animais selvagens (carne de caça);
  • Não compartilhe roupas de cama ou toalhas com pessoas doentes e que possam ter varíola dos macacos;
  • Não tenha contato próximo com pessoas que estão doentes e podem ter varíola dos macacos.
  • Isolamento geralmente por 3 semanas, até as lesões virarem crostas; as precauções de isolamento devem ser mantidas até que todas as lesões tenham crostas, essas crostas tenham se separado e uma nova camada de pele saudável se formado por baixo.”

Qual a gravidade da doença? Pode levar à morte?

Dra. Camila: “Infecção é geralmente leve e a maioria das pessoas se recupera dentro de algumas semanas sem tomar nenhum remédio. Ibuprofeno e paracetamol podem combater a febre e as dores, mas não há no momento tratamento específico para a varíola dos macacos.

Às vezes, no entanto, algumas pessoas, especialmente as que são imunossuprimidas, podem ficar muito doentes e precisar de internação.”

Qual o tratamento para varíola dos macacos?

Dra. Camila: “No momento, não há tratamentos específicos disponíveis para a infecção por varíola, mas os surtos de varíola podem ser controlados. A vacina contra varíola, cidofovir, ST-246 e imunoglobulina (VIG) de vaccinia podem ser usadas para controlar um surto de varíola. As orientações do CDC foram desenvolvidas usando as melhores informações disponíveis sobre os benefícios e riscos da vacinação contra a varíola e do uso de drogas para a prevenção e manejo da varíola e outras infecções por ortopoxvírus.”

Qual a diferença entre a varíola humana e a varíola dos macacos?

Dra. Camila: “Varíola dos macacos é menos transmissível, menos grave, menor mortalidade.”

Por que novos casos começaram a surgir?

Dra. Camila: “O contato com animais silvestres está aumentando devido ao desmatamento, urbanização descontrolada, turismo e mudanças climáticas. Há uma série de fatores que, juntamente com a baixa imunidade de rebanho, fazem com que os surtos apareçam com mais frequência.

No momento, a varíola parece se espalhar principalmente com atividade sexual, o que não implica que ela seja uma doença sexualmente transmissível. Atualmente estão sendo investigadas outras possibilidades de transmissão, como por meio de aerossóis, caso tenha havido alguma alteração na forma como o vírus se transmite.”

Há vacina contra a varíola dos macacos?

Dra. Camila: “Uma vacina, JYNNEOS TM (também conhecida como Imvamune ou Imvanex), foi licenciada nos Estados Unidos para prevenir a varíola e a varíola dos macacos. Como o vírus da varíola dos macacos está intimamente relacionado ao vírus que causa a varíola, a “vacina contra a varíola também pode proteger as pessoas contra a varíola dos macacos”, diz o CDC em seu site.

Segundo a agência de saúde pública dos EUA, dados da África, onde o vírus da varíola dos macacos é endêmico, indicam que a vacina contra a varíola é pelo menos 85% eficaz na prevenção da varíola dos macacos. A eficácia de JYNNEOS TM contra a varíola dos macacos foi concluída a partir de um estudo clínico sobre a imunogenicidade de JYNNEOS e dados de eficácia de estudos em animais. Os especialistas também acreditam que a vacinação após a exposição à varíola dos macacos pode ajudar a prevenir a doença ou torná-la menos grave.”

Como é possível monitorar os casos e impedir que se alastrem caso a doença chegue ao Paraná?

Dra. Camila: “Se paciente tiver tido viagem internacional nos últimos 30 dias e o paciente apresentar relato de sintomas iniciais de infecção viral sistêmica inespecífica (febre, mialgia, lombalgia, linfonodos, calafrios e prostração) que evolui com lesões epiteliais que aparecem pelo rosto e depois se espalham para outras partes do corpo, incluindo os órgãos genitais.”

O que diz o Governo do Paraná

Em nota, o Governo do Paraná também deu orientações para prevenir a doença, veja na íntegra:

“As investigações epidemiológicas do surto atual de varíola dos macacos demonstram que a principal forma de transmissão é o contato íntimo com fluidos corporais, lesões na pele ou em superfícies de mucosas internas, como boca ou garganta e gotículas respiratórias. Desta forma, é recomendado o isolamento e utilização de máscaras pelos casos suspeitos. Para a população em geral as regras básicas de etiqueta respiratória, desinfecção das mãos e sexo com proteção são suficientes para evitar a propagação da doença”.

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