O acidente com o avião da VoePass que matou 62 pessoas, em Vinhedo, no interior de São Paulo, completa um ano neste sábado (9). As famílias se reúnem pela primeira vez no local do acidente para homenagens. Além disso, eles esperam por justiça e respostas. 

Queda de avião da Voepass, em Vinhedo
Avião que caiu em Vinhedo entrou em chamas após a queda (Foto: reprodução / Redes sociais)

O evento reunirá familiares, amigos, autoridades civis e militares, equipes de resgate e voluntários para um momento de homenagem, reflexão e saudade, segundo os organizadores da cerimônia.

A cerimônia ainda contará com um ato ecumênico, homenagens públicas e o plantio simbólico de árvores, representando a continuidade da vida e a transformação do luto em legado.

Os voluntários e demais profissionais que trabalharam nas operações de resgate receberão placas de honra ao mérito pelos serviços prestados na época do acidente.

Os familiares das vítimas ainda farão um plantio simbólico de mudas de árvores, em homenagem às vítimas do acidente.

Do embarque à queda 

De acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), a aeronave decolou por volta das 11h58 do aeroporto Coronel Adalberto Mendes da Silva – Cascavel (PR). O destino era o Aeroporto Internacional de Guarulhos – Governador André Franco Montoro (SP).

Conforme o relatório preliminar, o sistema de detecção de gelo foi ativado por volta das 12h14, a 13 mil pés de altitude, e permaneceu ligado até o final do trajeto. Já o sistema de degelo foi acionado e desativado diversas vezes, comportamento que chama a atenção dos investigadores.

A aeronave também apresentou alertas de baixa velocidade de cruzeiro (“Cruise Speed Low”), desempenho degradado (“Degraded Performance”) e, durante uma curva, foi emitido o alerta “Increase Speed” (aumente a velocidade), acompanhado de ruídos de vibração.

Às 13h21, o avião entrou em estol (perda de sustentação) e perdeu o controle, entrando em uma atitude de voo anormal, com giros em “parafuso chato”, até colidir com o solo.

Especialistas falam sobre o relatório 

De acordo com Roberto Peterka, especialista em segurança de aviação, os aviões são equipados para evitar que se acumule gelo e que o alarme foi acionado pelo menos três vezes antes da queda. 

“Não, o degelo pode ser ligado e desligado na medida em que ele liga, quebra o gelo, não há mais necessidade e ele é desligado. Mas nesse caso específico, ele foi ligado três vezes e automaticamente ele deve ter sido desligado, provavelmente devido aos pilotos terem constatado que ele surtiu efeito e tirou o gelo da sala. Agora, houve também três alarmes que apareceram para os pilotos no painel de controle, no painel de comando do avião, em momentos em que os dois pilotos estavam atarefados com comunicações, o copiloto entrando em contato com o controle de tráfego aéreo, o comandante entrando em contato com a manutenção da empresa no aeroporto de Guarulhos, o que é normal, que ele vai passando o que precisa ser feito na aeronave, o que acontece para ele pousar e já atender, dando o speech de aproximação para os passageiros, dizendo horários de pouso e etc”, explicou. 

Márcio Patrício, vice-presidente da Abravoo,  explica que esse sistema de degelo servem para evitar que o gelo cole na aeronave e para isso existem alarmes que a própria aeronave possui. 

“E a partir do momento que há essa detecção, os pilotos têm que tomar uma atitude. A fim de quê? A fim de evitar a formação desses gelos e ter um voo seguro. Então, nós não temos como cravar absolutamente nada. O que pode ter acontecido, de repente, é um problema no sistema de alarme, na detecção da formação dos gelos”, defendeu.

A aeronave também apresentou alertas de baixa velocidade de cruzeiro (“Cruise Speed Low”), desempenho degradado (“Degraded Performance”) e, durante uma curva, foi emitido o alerta “Increase Speed” (aumente a velocidade), acompanhado de ruídos de vibração.

Para o especialista em segurança, uma manobra diferente poderia ter evitado esse acidente. Além disso, Peterka apontou que o relatório preliminar aponta que o sistema de degelo foi ligado e desligado três vezes. 

“Nesses três alarmes, provavelmente num voo tenso, eles se distraíram e não prestaram atenção. E foi logo após, quando o controle de tráfego aéreo pediu para ele fazer uma curva, e nessa curva, a velocidade dele, com a asa degradada, estava provavelmente abaixo da velocidade mínima de controle, e aí ele, infelizmente, perdeu sustentação, entrou num parafuso, a partir daí um parafuso chato, e veio até o solo”, completou.

O que falta responder sobre a queda do avião da Voepass

A Polícia Federal está coletando depoimentos e aguarda para se manifestar até a conclusão do inquérito. Além disso, o delegado está apurando como a conduta de profissionais da empresa podem ter contribuído para a queda do avião. 

Outro passo da investigação da PF é entender se houve uma falha humana, já que o relatório do Cenipa já indicou o que levou à queda da aeronave em agosto de 2024. 

Entre os achados preliminares, o CENIPA aponta que havia previsão de gelo severo na rota e que as condições meteorológicas estavam disponíveis aos pilotos. A perda de controle ocorreu em um ambiente propício à formação de gelo, sem que houvesse qualquer declaração de emergência por parte da tripulação.

Para o vice-presidente da Abravoo, Márcio Patrício, os pilotos tinham a formação necessária para comandar o avião em casos de emergência. 

“Eles [pilotos] tinham a formação necessária para pilotar o avião, inclusive em emergência”, explicou. 

A investigação já concluiu a fase de coleta de dados e agora está na etapa de análise. De acordo com o CENIPA, o caso é complexo e está sendo conduzido por uma equipe multidisciplinar composta por especialistas em fatores operacionais, humanos e materiais, além de engenheiros, psicólogos, médicos e outros profissionais.

Famílias das vítimas da queda de avião da Voepass esperam por Justiça

Enquanto aguardam as conclusões das investigações, as famílias esperam Justiça. Para Adriana Ibba, mãe da pequena Liz, uma das 62 vítimas dessa tragédia, a Associação das Famílias luta não só pelas pessoas que perderam as vidas nessa tragédia, mas para que novos acidentes como esse não se repita. 

“Hoje eu luto para que nenhuma outra Liz seja colocada na situação que a minha filha foi. Para que a gente possa pegar um avião e ter segurança. Para que ninguém seja uma pessoa adulta, idosa, no auge da sua carreira ou uma criança inocente como a minha filha era”, afirmou.

Adriana também falou que as vítimas foram colocadas em risco pela companhia e que como consumidora, não sabia dos riscos que a filha estava correndo no voo. 

Ninguém merecia ter sido colocado nesse risco que eles foram colocados. E o que é mais grave, depois do dia 9 de agosto, isso está na decisão da ANAC. A empresa ainda fez 2.687 voos com uma manutenção indevida. Tanto que isso está na decisão da cassação de dois anos da ANAC. Quer dizer, se mata 62 pessoas, faz quase 3 mil voos. Milhares e milhares de pessoas e consumidores foram novamente colocados em risco. Então é um descaso com a vida humana”, concluiu.

O que diz a Voepass

A VOEPASS Linhas Aéreas divulgou uma nota oficial , em memória às vítimas do voo 2283, que caiu em Vinhedo no dia 9 de agosto de 2024, deixando 62 mortos. A empresa classificou o acidente como o episódio “mais difícil” de sua história e afirmou que permanece solidária às famílias das vítimas, mantendo apoio psicológico e logístico, além de colaborar com as investigações.

“No dia 9 de agosto de 2024, vivemos o episódio mais difícil de nossa história. A queda do voo 2283, na região de Vinhedo (SP), resultou em perdas irreparáveis. Um ano depois, seguimos solidários às famílias das vítimas, compartilhando uma dor que permanece presente em nossa memória e em nossa atuação diária. Em mais de 30 anos de operações na aviação brasileira, jamais havíamos enfrentado um acidente. Desde o início de nossa trajetória, sempre priorizamos a segurança, o respeito à vida e a integridade em todas as nossas decisões. A tragédia nos impactou profundamente e mobilizou toda a nossa estrutura, humana e institucional, para garantir apoio integral às famílias, nossa prioridade. Nas primeiras horas após o acidente, formamos um comitê de gestão de crise e trouxemos profissionais especializados — psicólogos, equipes de atendimento humanizado, autoridades públicas, seguradoras, além de suporte funerário e logístico. Desde o início, nosso cofundador, José Luiz Felício Filho, esteve à frente das ações, participando pessoalmente das reuniões com os familiares. Também apoiamos a participação das famílias na primeira reunião oficial com o CENIPA para a apresentação do relatório preliminar. Temos atuado de forma transparente junto às autoridades públicas e seguimos empenhados na resolução das questões indenizatórias, já em estado bastante avançado. Mantemos o suporte psicológico ativo e continuamos apoiando homenagens realizadas pelas famílias ao longo deste ano. Nos solidarizamos com toda a forma de homenagem às vítimas do acidente. Seguimos colaborando com as investigações em andamento, reafirmando nosso compromisso com a apuração dos fatos e contribuindo com a melhoria contínua nos processos de segurança da operação aérea. Continuamos caminhando com responsabilidade, humanidade e empatia. Nossa solidariedade permanece firme — com os familiares das vítimas, com toda sociedade brasileira”, afirmou.

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Guilherme Fortunato

Editor

Jornalista há quase 10 anos, especialista em previsão do tempo, coberturas eleitorais, casos policiais e transmissões esportivas. Aborda pautas de acidentes e crimes de repercussão, além de política.

Jornalista há quase 10 anos, especialista em previsão do tempo, coberturas eleitorais, casos policiais e transmissões esportivas. Aborda pautas de acidentes e crimes de repercussão, além de política.