A Polícia Federal de Guaíra está nas ruas de quatro estados para cumprir 12 mandados de busca e apreensão na manhã desta quinta-feira (04). A Operação intitulada como ‘Las Fábulas’ investiga o delito de lavagem de dinheiro oriundo do contrabando de cigarros na região de fronteira com o Paraguai.
Aproximadamente 90 policiais federais estão cumprindo ordens judiciais nas cidades de Guaíra/PR, Guaratuba/PR, Itapema/SC, Goiânia/GO e Paracatu/MG.
A investigação, que já dura aproximadamente 18 meses e é conduzida pela Delegacia de Polícia Federal em Guaíra, teve início após verificação de que um dos envolvidos, condenado por contrabando de cigarros e participação em organização criminosa, teve evolução patrimonial exponencial, com aquisição de um hotel, construção de casas de alto padrão, sítios, pesqueiro (de fachada) e movimentação bancária incompatível com a renda declarada ao fisco.
Durante as investigações, o grupo passou a adquirir imóveis ainda em construção na região do litoral catarinense. Foram identificados pelos menos quatro apartamentos de luxo adquiridos pelo investigado, um deles avaliado em pelo menos R$ 3,4 milhões.
Além dos mandados de busca e apreensão, a polícia solicitou o sequestro de 12 imóveis, dentre eles apartamentos de luxo em Itapema/SC, alguns ainda em construção, um hotel em Guaíra, um pesqueiro, casas de alto padrão, terrenos e outros bens. O total em bens imóveis já identificado soma quantia de aproximadamente R$ 16,8 milhões.
Além disso, a Justiça Federal determinou o sequestro de outros imóveis que poderão ser identificados a partir das buscas desta manhã e também o bloqueio imediato as contas bancárias de pelo menos 35 pessoas e empresas. O congelamento das contas poderá chegar a R$ 20 milhões. As ordens de bloqueio de contas bancárias e sequestro dos imóveis objetivam a descapitalização do grupo, visando assim inibir práticas criminosas futuras, sobretudo em relação aos investigados e empresas fictícias.
Os investigados poderão responder pelo crime de lavagem de dinheiro, com penas que variam de 3 a 10 anos para cada ato de lavagem.
Imóveis em Santa Catarina
O contrabandista acumulou, nos últimos anos, ao menos R$ 16,7 milhões em imóveis, fruto de atividades ilícitas. As aquisições se deram, em grande parte, a partir da conexão com dono de uma construtora no litoral catarinense, que negociou os apartamentos de luxo. Foram pelo menos quatro apartamentos à beira-mar, alguns ainda em construção e outros já prontos.
Algumas das negociações entre o contrabandista e empresários catarinenses se dava a partir de pagamentos em espécie, segundo o que era declarado pelos próprios investigados. A operação apurou ainda que empresários tinham conhecimento do contrabando e não se importavam em dividir voos de jatinho particular com os suspeitos condenados pela Justiça e usando tornozeleira eletrônica.
A investigação aponta ainda, por exemplo, que um hotel, de propriedade de um dos contrabandistas investigado, registrado em nome de interposta pessoa, foi anunciado para venda por valor 600% (seiscentos por cento) superior ao que foi declarado em Escritura. O mesmo ocorreu com um sítio/pesqueiro e com outros terrenos em Guaíra/PR. Em contrapartida, o contrabandista investigado adquiriu, dos empresários catarinenses, diversos apartamentos, alguns ainda na planta na região de Itapema, uma das regiões mais valorizadas de Santa Catarina.
Durante as buscas foram identificados documentos de outros imóveis na região do litoral catarinense.
Remessas de dinheiro de Goiás e Minas Gerais
A par do complexo mecanismo de lavagem de dinheiro operado pelo grupo na aquisição de imóveis, a Polícia Federal constatou que o principal investigado utilizava o hotel, outras empresas e até familiares para receber vultosas transferências de valores, advindos de empresas de Goiás e Minas Gerais.
A investigação revelou que o contrabandista era um dos beneficiários, ou seja, apenas um dos “clientes” de uma complexa estrutura formada por empresas fictícias e seus respectivos sócios, tendo como propósito operacionalizar a lavagem dos recursos oriundos do contrabando de cigarros e outros delitos. Isto porque, no mesmo endereço, em Goiânia/GO, existem pelo menos 15 empresas registradas, todas fictícias. Uma destas empresas, em Goiânia/GO que fez remessas de valores para Guaíra/PR, nunca funcionou no endereço em que era registrada.
Das 15, pelo menos três efetuaram remessas de valores para o hotel ou para familiares do investigado, apesar de não possuírem qualquer relação comercial. As pesquisas revelaram ainda que o proprietário destas empresas fictícias, que também é alvo da investigação, é um cozinheiro com renda mensal de aproximadamente dois salários. As empresas fictícias de Goiânia tiveram movimentações financeiras que superam R$ 100 milhões de reais nos últimos meses.
Em Minas Gerais, são empresas de fachada, ou seja, empresas que de fato existem, mas que não possuem relação comercial com a região de Guaíra/PR, mas que mesmo assim efetuaram remessas de dinheiro para o contrabandista. Como exemplo a remessa de valores de uma fábrica de extintores e de uma loja de conveniência em Minas Gerais para o Hotel em Guaíra.
A operação foi batizada de “Fábulas” em referência às histórias fantasiosas e fictícias e que no final sempre possuem um ensinamento moral, uma lição.




