Um adolescente de 14 anos confessou ter matado a tiros, o pai, a mãe e o irmão mais novo, em Itaperuna, no Rio de Janeiro, no dia 21 de junho. O caso brutal, com fortes indícios de um crime premeditado e a sangue-frio, segundo os investigadores, chocou o Brasil devido ao comportamento do suspeito do crime. Frieza, falta de remorso e arrependimento, foram alguns dos sinais descritos pelos policiais durante o depoimento do menor de idade e que chamaram atenção. O menino está uma unidade socioeducativa que fica entre Campos dos Goytacazes e São Fidélis, no estado carioca.

Atenção! O diagnóstico de qualquer transtorno psicológico depende de uma avaliação clínica individual criteriosa feita por um profissional capacitado. O texto pretende contextualizar e informar sobre os sintomas e não diagnosticar o jovem que confessou o crime.
Nas redes sociais, várias pessoas associaram a personalidade do adolescente que confessou as mortes com um perfil “psicopata”. Mas afinal, o que pode estar por trás de um crime como esse? Quais os sinais de alerta de possíveis traços psicopáticos e a complexidade de concluir um diagnóstico?
Adolescente que matou a família: psiquiatra alerta para sinais de Transtorno de Conduta
Em entrevista exclusiva ao portal RIC, o Dr. Rodrigo Borghi, psiquiatra e pesquisador, explicou que antes de qualquer incitação ao adolescente, somente um diagnóstico formal, com uma avaliação clínica detalhada e presencial pode ser capaz de determinar se o jovem que matou os pais e o irmão possui algum transtorno.
No entanto, comportamentos relatados, como planejamento cuidadoso do crime, ausência de empatia evidente, falta de remorso e manipulação após o ato sugerem fortemente a presença de traços significativos de insensibilidade emocional, compatíveis com um quadro grave de Transtorno de Conduta, que segundo o especialista é o termo correto, já que em crianças e adolescentes não se utiliza o termo “psicopatia” formalmente.
Esses sinais indicam uma situação extremamente séria, exigindo intervenção especializada imediata, com cautela diagnóstica para evitar consequências prejudiciais decorrentes de rótulos prematuros”, completou Rodrigo Borghi.
A psicopatia é frequentemente retratada em filmes e séries como sinônimo de assassinos em série, frios e manipuladores. Mas a realidade clínica é bem diferente e mais complexa. “O diagnóstico é extremamente desafiador por diversas razões. O termo psicopatia não consta diretamente como diagnóstico formal independente nos sistemas diagnósticos principais, como DSM-5 e CID-11, sendo abordado sob o diagnóstico amplo de Transtorno de Personalidade Antissocial“, explica o psiquiatra sobre registros em adolescentes.
A dificuldade está também no que a medicina chama de “Máscara da Sanidade”, termo popularizado pelo psiquiatra Hervey Cleckley, que descreve indivíduos com traços psicopáticos como capazes de aparentar normalidade e até charme superficial, enganando facilmente até mesmo profissionais experientes.
Sinais de transtornos na infância e na adolescência
Conforme o psiquiatra, os sinais podem aparecer precocemente entre criança de 2 a 5 anos, veja abaixo:
- Ausência notável e consistente de empatia;
- Ausência de remorso genuíno;
- Crueldade deliberada com animais;
- Agressão persistente instrumental (planejada e fria)
- Emoções superficiais;
- Falha na resposta à disciplina tradicional;
- Dificuldade em expressar emoções mais profundas como amor e afeto.
No entanto, o Dr. Rodrigo Borghi, reforça que “é essencial avaliar esses sinais dentro do contexto do desenvolvimento normal da criança para evitar rótulos precipitados”. Já em adolescentes, os sinais frequentemente aumentam em gravidade e complexidade. “Fatores como o desenvolvimento físico e cognitivo avançado, maior autonomia, influência significativa dos pares, e acesso facilitado a substâncias e armas contribuem para essa intensificação”.
Outro fator importante nesta faixa etária está relacionada as transformações no cérebro.”A adolescência também é marcada por transformações cerebrais importantes, com um desequilíbrio entre sistemas emocionais e o de controle de impulsos (maturação incompleta do córtex pré-frontal)”, completou.
Também é comum que outros transtornos, como o Transtorno Desafiador Opositivo (TOD), o Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor (TDDH) e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), apareçam de forma associada. Essa combinação pode intensificar os comportamentos antissociais e elevar significativamente a chance de evolução para condições mais graves.
Sinais de Transtorno de Personalidade Antissocial em adultos:
- Falta profunda de empatia;
- Ausência genuína de culpa ou remorso;
- Afetividade superficial;
- Grandiosidade;
- Comportamento manipulativo;
- Mentira patológica;
- Impulsividade;
- Irresponsabilidade consistente e comportamento criminoso ou antissocial frequente.
Transtorno de Personalidade Antissocial: diagnóstico e tratamento
Uma avaliação minuciosa e longitudinal é essencial para a conclusão precisa desse diagnóstico. Conforme Rodrigo Borghi, o diagnóstico é clínico, envolvendo entrevistas detalhadas, histórico completo da vida do indivíduo e revisão cuidadosa de informações obtidas de múltiplas fontes. No adulto, utiliza-se escalas e ferramentas para apoiar o diagnóstico.
“Não existe cura específica para a psicopatia, especialmente em adultos. Contudo, intervenções precoces em crianças e adolescentes com transtorno de conduta podem ser eficazes. As abordagens mais comprovadas incluem treinamento parental, Terapia Multissistêmica (MST), Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), treinamento de reconhecimento emocional e uso criterioso de medicamentos para controlar sintomas específicos como impulsividade extrema e agressividade”,
revelou Rodrigo.
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