Foz do Iguaçu - Quase sete meses após o crime, o caso da morte de Zarhará Hussein Tormos segue repercutindo. A jovem estudante foi encontrada morta dentro do próprio carro, no dia 28 de fevereiro, em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná. Um casal foi preso suspeito do crime, que segue repleto de mistérios.

A reportagem do Portal Ric adiantou em primeira mão que ciúmes e inveja profissional podem ter sido a motivação para a morte de Zarhará Tormos. Contudo, o inquérito policial não apontou uma motivação clara para o crime.
A esteticista Pamela da Silva de Campos e o namorado dela, Bruno Martini Vieira, foram presos no dia 28 de março. Eles foram denunciados pelo Ministério Público do Paraná e aguardam a decisão da Justiça para saber se vão para júri popular.
O Ric.com.br preparou uma reportagem com os detalhes da investigação e o que a Polícia Civil pensa sobre o crime.
Morte de Zarhará Hussein: entenda a cronologia do crime
Eventos que antecederam o crime
Zarhará Hussein Tormos procurou a delegacia de Foz do Iguaçu no dia 11 de novembro de 2024, para pedir medidas protetivas contra seu ex-namorado, relatando perseguição e comportamento possessivos.
De acordo com as investigações, no dia 10 de novembro de 2024, a estudante recuperou o gato que havia sido subtraído pelo ex-namorado.
Além disso, o delegado Marcelo Pereira Dias, da Polícia Civil, informou que no dia 10 de janeiro de 2025, Zarhará começou a receber mensagens de ameaça de morte por um número com DDD da região.
“Considerando a data das mensagens de ameaça, é que nós conseguimos retroceder ali pelo menos um mês antes do crime, né, que as ameaças foram no início de janeiro de 2025”, disse o doutor Marcelo Dias em entrevista exclusiva.
O inquérito aponta também que as mensagens enviadas para a vítima e uma pichação na casa de Zárhara Hussein, com a palavra “marmita”, indicavam a possibilidade de um envolvimento da moça com um homem casado. Porém, o delegado disse que essa informação não foi confirmada e que a pichação entrou no contexto das ameaças.
“Essa informação, ela só foi registrada no âmbito das ameaças com que ela sofreu antes ali do desaparecimento e da morte. Então, as pessoas próximas da vítima foram ouvidas, colegas da faculdade, amigos e também familiares, mas essa versão não confirmou o envolvimento dela com pessoas sabidamente casadas, certo? Então, só foi feita essa referência no contexto das ameaças e que ela sofreu ali através de mensagens aí de aplicativo de um número que não era o DDD daqui da cidade, era da região do estado do Paraná, mas não era aqui da cidade”, contou.
Conforme o inquérito policial, a vítima registrou um boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher no dia 29 de janeiro de 2025. A jovem estudante na época acreditava que as mensagens foram encaminhadas pelo ex-namorado. Contudo, a polícia descobriu que o rapaz não tinha envolvimento com as ameaças e nem com o crime.
“Desde o início, ele foi considerado e como uma pessoa suspeita assim, sobretudo porque se tratava de uma morte de uma vítima que possui uma medida protetiva de urgência. Então, partiu-se dessa possibilidade, não a única, mas uma possibilidade, né? E e ao passo que a investigação foi caminhando, foram esgotando qualquer tipo relação dele, seja porque ele prestou o depoimento, ele foi interrogado posteriormente para advogado, ele não se furtou de apresentar sua versão, dar detalhes, apresentou um álibi que conseguimos comprovar posteriormente do local onde ele tava naquele dia”, contou o delegado.
Desaparecimento de jovem estudante
O último registro de Zarhará Tormos com vida foi por volta das 21h56 do dia 26 de fevereiro de 2025, quando ela saiu da faculdade e caminhou em direção ao local onde o carro estava estacionado. Uma câmera de segurança flagrou também o carro da jovem seguindo em direção ao local onde o corpo foi encontrado.

Veja a cronologia do dia do crime:
• 16h36min e 17h19min: O veículo GM/Corsa preto (placa AUG-4E94), de propriedade de Pamela da Silva de Campos, é flagrado por câmeras de segurança passando duas vezes em frente à residência da vítima, Zarhará, na Rua Córdoba.
• Aproximadamente 18h00min: Zarhará posta em suas redes sociais que estava em frente à faculdade UniAmérica. Esta é a data e hora consideradas para o início de seu desaparecimento.
• 21h10min – 21h12min: O GM/Corsa preto é registrado na Avenida General Meira, deslocando-se em direção à Avenida das Cataratas, onde fica a faculdade.
• 21h17min: O mesmo Corsa preto é visto rondando as imediações da faculdade UniAmérica. O carro segue para a rua onde o veículo de Zarhará estava estacionado.
• 21h56min: É registrado o último vídeo de Zarhará com vida, saindo da faculdade e caminhando em direção ao local onde seu carro estava estacionado.
• 22h08min: O padrasto de Bruno, Rafael Baes Dias, solicita um carro por aplicativo (99) para levar Bruno de sua casa até as proximidades da faculdade.
• 22h17min – 22h18min: O carro da vítima, um GM/Onix vermelho, é visto na Rua Astorga, dirigindo-se ao local onde o corpo seria encontrado mais tarde.
• 22h20min: A corrida de aplicativo solicitada por Rafael para Bruno é finalizada.
• 22h34min: O Corsa preto é flagrado novamente na Avenida das Cataratas, seguindo em direção ao local do crime. No mesmo horário, o Onix da vítima é visto retornando pela Rua Astorga, em direção à rodovia.
• 22h41min: O carro da vítima retorna mais uma vez para a Rua Astorga, em direção ao local do crime.
• 22h48min: O Corsa preto, conduzido por Bruno, chega à Rua Astorga e estaciona próximo ao Museu de Cera, permanecendo com os faróis apagados por cerca de 14-15 minutos.
• 23h02min – 23h03min: O Corsa preto manobra e se desloca em direção ao local do crime.
• 23h04min – 23h06min: O Corsa preto retorna rapidamente pela Rua Astorga e foge pela Avenida das Cataratas.
• 23h10min: O veículo é registrado em fuga pela Rua Itaboraí e Avenida Felipe Wandscheer.
• 23h29min: O GM/Corsa preto chega à residência de Pamela (Rua Fernando Gonçalves Neves, 182). Imagens mostram Bruno descendo do carro, abrindo o portão e estacionando na garagem.
• 23h39min: Bruno e Pamela são vistos saindo da residência e indo para a casa ao lado (nº 170), onde Bruno morava com a mãe. Pamela carrega uma bolsa de cor clara, semelhante à da vítima.

Corpo é encontrado amarrado dois dias depois
A mãe de Zarhará Hussein Tormos registrou boletim de ocorrência na madrugada do dia 28 de fevereiro de 2025, relatando o desaparecimento da filha. Contudo, o corpo da jovem foi encontrado em uma lavoura, no bairro Remanso, dentro do carro da vítima. A estudante estava com as mãos e pernas amarradas com fita adesiva e apresentava ferimentos por arma de fogo.
“Descobrimos que o crime efetivamente aconteceu ali. Descobrimos o cadáver dia 28 de fevereiro, mas conseguimos identificar que ela teria sido executada no dia 26 de fevereiro”, falou o delegado do caso.
No final da tarde do dia 28 de fevereiro, um boletim de ocorrência foi registrado sobre o achado do corpo da vítima. O laudo de necropsia confirmou que a estudante foi assassinada com disparos de arma de fogo na cabeça. O inquérito policial foi aberto para apurar o crime no dia 2 de março.

Como a polícia chegou até o envolvimento da esteticista e do namorado dela
Conforme o relato do delegado Marcelo Pereira, os investigadores chegaram até Pâmela e Bruno através de vestígios e provas deixadas pelo casal. O doutor explicou também que foi necessário o uso da tecnologia para chegar até os acusados.
“Nós encontramos vestígios digitais dela no veículo, na fita. Ah, nós conseguimos, né, também com um pouco de de empenho, identificar o veículo utilizado, porque a complexidade desse caso envolve muitas vezes a utilização de de recursos de câmeras e e nem todo lugar ele é monitorado. A qualidade às vezes das imagens não permitem você identificar uma placa, por exemplo”, explicou.
Outro detalhe importante levantado por Marcelo Dias durante a entrevista foi que o celular utilizado nas ameaças contra a jovem, tinham ligação com Pâmela e chegou a ser utilizado dentro da casa da acusada.
“Ao longo do inquérito conseguimos identificar a origem das ameaças e posteriormente chegamos ao endereço da investigada. Mas então com análise bastante minuciosa conseguimos identificar que aquele telefone utilizado para as ameaças estava vinculado a ela”, revelou Dias.
Durante o anúncio da prisão de Pamela da Silva de Campos, em março deste ano, o delegado disse que a esteticista já estava presa pelo crime de tráfico de drogas e respondia em liberdade com o uso de tornozeleira eletrônica. Apesar da tentativa da acusada de burlar a localização, a ferramenta foi crucial como provas para a polícia chegar até a esteticista.
“O dispositivo de monitoração instalado na investigada tentou conectar-se às antenas de telefonia próximas ao local onde a vítima deixou o carro estacionado (imediações da Faculdade UniAmérica) e às antenas próximas ao local onde a vítima foi executada”, revelou o inquérito policial.

Qual envolvimento do namorado
Ao ser questionado sobre o envolvimento do namorado de Pâmela, Bruno Martini Vieira, no crime, o delegado do caso explicou como a versão apresentada pela defesa dele nos autos foi desconstruída pela polícia.
“No interrogatório, o Bruno disse que não tinha conhecimento do envolvimento dela no crime. Na versão dele, a namorada pediu para ele buscar esse veículo, que teria sido deixado perto da faculdade da vítima e estava com defeito. Então, pegou o veículo estacionado, a chave teria sido deixada na roda ali dianteira do veículo. Ele deu a partida, o veículo funcionou normalmente. Ele saiu dali, passou na casa de duas outras pessoas e após sair da casa desse segundo amigo, ele estaria se dirigindo para a própria residência no ocasião em que, segundo ele, teria recebido um contato dela (Pâmela) para que a buscasse na região onde o crime de fato aconteceu”, contou.
Porém, o Marcelo Dias afirmou que o álibi apresentado por Vieira foi uma construção para justificar sua presença nos locais relacionados ao crime. A polícia encontrou algumas divergências no depoimento do acusado e conseguiu câmeras que mostram ele chegando em casa com a namorada 20 minutos depois do crime.
“Essa versão não se sustentou em virtude aí de contradições e também de outros elementos indiciários aí, sobretudo porque ele apagou as mensagens do telefone que se comunicava com a Pâmela, de não conhecer o local do crime, posteriormente dizer que esteve no local do crime. Ele em tese foi buscar um veículo que estava danificado sem qualquer auxílio material de alguém, seja alguém para rebocar o veículo, seja para fazer eh um conserto, não tem conhecimento de mecânica, a princípio, né, para consertar”, falou Dias.
Outro ponto da investigação é que Bruno teve conhecimento prévio da morte de Zarhará Tormos, já que mensagens entre os acusados apontam que eles conversaram sobre o rastreamento do celular, o notebook da vítima e que Vieira teria alertado a namorada sobre a identificação do aparelho.
“Eles falam sobre o possível rastreamento de telefones através da inclusão de um novo chip, um número de telefone do Paraguai. Então ele avisa ela que pelo IP daria para o rastrear o aparelho. Então isso na nossa ótica é o eles estão falando sobre o aparelho de telefone celular da vítima. Há também falas ali entre os dois investigados no sentido de que ela usaria o 38, se ele quisesse, poderia testar a munição dele, que ela iria passar na casa dele para pegar o rolê. Então, essas essas informações consideradas num contexto nos leva a crer que o investigador Ele sabia também do que estava acontecendo”, concluiu.

Caso Zarhará Tormos: provas cruciais seguem desaparecidas
O relatório final da investigação, assinado pelo delegado, confirma que o notebook, o celular e a bolsa da vítima não foram localizados, mas o rastreamento do notebook foi crucial para a identificação dos acusados do crime.
“Sim, nós tivemos uma informação de que o notebook havia sido ligado, né, posteriormente a descoberta do cadáver. E a localização que o dispositivo permite ali […] nós conseguimos detectar que havia sido ligado e apresentava uma uma localização aproximada da casa dessa investigada”, contou o doutor.
Tanto o notebook, quanto o celular da jovem ainda não foram encontrados e são consideradas pela polícia peças-chave para encontrar a motivação para o assassinato da jovem estudante em Foz do Iguaçu.

Da parceria ao assassinato: qual relação entra a vítima e a esteticista?
A motivação do crime ainda é incerta, mas a inveja profissional e o ciúme são as principais hipóteses da investigação. Zarhará, como influenciadora digital com muitos seguidores, divulgava em suas redes sociais os serviços de estética (extensão de cílios) prestados por Pamela. Conversas recuperadas do celular da vítima mostram que elas tiveram um desacerto anterior. Zarhará diz em uma mensagem: “Da última vez eu fiquei chateada”.
Segundo a apuração da polícia, Pamela demonstrava um “certo rancor” e “raiva desproporcional” da vítima. Pouco antes de ser presa, Pamela comprou mais de 3.000 seguidores para seu Instagram, em uma aparente tentativa de se equiparar à popularidade de Zarhará Tormos.
“Ao passo em que a vítima fazia publicidades, a vida pessoal da investigada não estava indo bem. A estudante tinha adquirido recentemente um imóvel e um veículo, demonstrando sucesso profissional. Já a Pâmela estava sob monitoramento de tornozeleira, já tinha condenação por tráfico de drogas e posteriormente foi presa. Esse contexto pode demonstrar um contraste entre elas, que poderia estar no contexto da motivação”, revelou o delegado.
Marcelo Dias falou também na entrevista que acredita sim que a esteticista teria condições de planejar um crime tão cruel. Além disso, mencionou que o modo como ela planejou e executou o assassinato, mostra o perigo oferecido pela acusada.
“Sobretudo porque a vítima foi encontrada com as pernas e as mãos amarradas ali, totalmente incapacitada de oferecer qualquer tipo de resistência, disparos de arma de fogo direto diretamente na cabeça, no rosto. Então isso demonstra a agressividade e o perigo oferecido pela investigada”, concluiu.
O doutor também descartou a possibilidade de envolvimento de outras pessoas na morte da jovem estudante.
O que alegam as defesas?
A defesa de Pamela da Silva de Campos nega a autoria do crime e contesta as provas apresentadas pela acusação. Durante o interrogatório policial, Pamela exerceu seu direito constitucional de permanecer em silêncio, mas os advogados argumentam que os indícios, como as impressões digitais encontradas na fita adesiva e no carro da vítima, não comprovam a autoria do homicídio, podendo ser explicados pela relação profissional que Pamela mantinha com Zarhará, que divulgava seus serviços de estética.
Já os advogados de Bruno Martini Vieira, desde o interrogatório policial até as manifestações nos autos, sustenta que o acusado não teve autoria e envolvimento consciente no crime.

Quais os próximos passos do processo?
O processo está na fase final de instrução, que serve para coletar todas as provas (depoimentos de testemunhas, interrogatórios dos réus, laudos periciais). Após o fim da fase de instrução, as partes (Ministério Público, Assistência de Acusação e as defesas dos réus) apresentaram suas alegações finais. Este é o momento em que cada parte argumenta sobre as provas produzidas e apresenta suas teses.
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