"Estamos vivendo uma guerra de facções", admite delegado após chacina que deixou 4 mortos

Publicado em 8 fev 2022, às 14h07.

O delegado Thiago Nóbrega, da divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), deu entrevista coletiva no início da tarde desta terça-feira (8) para falar sobre a chacina que deixou quatro pessoas mortas e três baleadas no bairro Portão, em Curitiba, e afirmou que há uma guerra entre duas grandes facções atuantes no Paraná, tanto na capital e na Região Metropolitana, como no Litoral e no Interior.

Nóbrega explicou que já ouviu os dois adultos que sobreviveram ao atentado: Chaiane Kania Vaz, de 29 anos, e Ivan Ribeiro Toginsk, de 21 anos. Eles contaram à polícia que estavam dando uma carona para o casal que foi assassinado a tiros – Anderson Olimpio Bueno Miranda, de 28 anos, e Bruna Bispo Dias, de 20 anos – e que teriam parado na rua após um pedido de Anderson, que disse que encontraria um conhecido no local.

“Foi tudo muito rápido. Eles estavam parados ali no local, visto que as vítimas fatais, o casal, estavam aguardando a chegada de um conhecido, eles apenas encostaram o carro para aguardar a chegada deste suposto conhecido quando então emparelhou este veículo Ford Ka. Segundo as vítimas, elas visualizaram três pessoas no veículo, duas no banco da frente e uma no banco de trás, e que a do banco de trás que teria aberto os vidros e efetuaram os primeiros tiros”, explicou o delegado. Há a suspeita, no entanto, que mais pessoas possam estar envolvidas na chacina.

Veja o vídeo do momento da chacina:

Ainda, a polícia acredita que o casal assassinado tenha sido vítima de uma emboscada. “Possivelmente armaram sim uma emboscada. O casal que foi morto eu acredito que eles eram os procurados pelos atiradores, infelizmente, como o carro estava cheio, todos foram alvejados. Nós tivemos crianças mortas e, por sorte, esse casal sobreviveu e uma das crianças sobreviveu […]”, disse Nóbrega. “A gente acredita que o casal que morreu marcou encontro com indivíduos que a gente desconhece e esse casal, possivelmente o homem que morreu,  fez contato previamente e passou a sua localização para o interlocutor”.

Sobre a violência da chacina, que deixou duas crianças, de 6 e 2 anos mortas Christopher Augusto Vaz, de 7 anos, e Guilherme Bispo, de 2 anos – e um bebê, de sete meses baleado, o delegado afirmou que o Paraná está sendo o cenário de uma guerra entre facções.

“Tudo leva a crer que nós estamos vivenciando uma guerra entre facções. Nós já temos suspeitas, temos várias investigações em andamento, nós não podemos adiantar muitas informações para não atrapalhar as investigações, mas nós estamos sim vivendo uma guerra de facções envolvendo não só Curitiba, como também Região Metropolitana, cidades do Interior, cidades do Litoral, não descartamos também o envolvimento de criminosos vindo de outros estados”,

pontuou o delegado.
(Foto: Paulo Fischer/ RICtv)

A Polícia Civil afirma que a guerra é por disputas de poder entre os criminosos, em sua maioria com envolvimento com tráfico de drogas. “São guerras entre facções que estão infelizmente querendo avançar para a nossa cidade, Curitiba e Região Metropolitana, estão querendo dominar pontos para expandir o comércio de entorpecentes e estão agindo desta forma: eles matam pessoas, dão tiros aleatoriamente, nós tivemos aí essa chacina e outros episódios com várias vítimas, então eles dão tiros a esmo, sem qualquer critério, demonstrando que são temidos, que não tem o menor zelo pela vida humana ou respeito pelas leis”, disse Nóbrega.

“São diversas as facções que temos conhecimento, mas neste caso em específico a gente acredita que a guerra envolva duas facções. São duas facções fortes, que acabaram entrando neste recente conflito e ocasionando estas mortes bárbaras por disputa de território, por disputa de comando, estão tentando ampliar suas áreas de atuação e acabam fazendo essas barbáries e executando muitos inocentes”,

descreveu o delegado.

Carro incendiado

A Polícia Civil confirmou que o carro encontrado incendiado a cerca de 2km do local da chacina realmente foi o veículo utilizado pelos suspeitos. Segundo o delegado, os criminosos usam essa tática de colocar fogo no automóvel para evitar qualquer pista que possa identificá-los. O carro, um Ford KA, tinha alerta de roubo em Curitiba.

(Foto: Paulo Fischer/ RICtv)

Chacina em Curitiba

Por volta das 21h desta segunda-feira (7), moradores do bairro Portão, em Curitiba, ouviram diversos tiros. Atiradores, em um veículo Ford Ka, dispararam contra um Fiat Pálio, da cor branca, que estava estacionado na rua Pinheiro Guimarães. Dentro do carro estavam sete pessoas, sendo quatro adultos e três crianças.

“Nesta noite um veículo saiu de Campo Largo com sete pessoas no interior, um veículo Palio. Na sequência ao chegar no bairro Portão, aqui em Curitiba, um veículo Ford Ka emparelhou e efetuou diversos disparos de arma de fogo, atingindo seis das sete pessoas que estavam no carro”,

explicou o tenente Tozetti.

De acordo com equipes de resgate, um casal baleado não resistiu e foi confirmado óbito no local. Já outros dois adultos foram baleados, mas resistiram. “As vítimas sobreviventes poderão esclarecer este fato melhor do que ninguém”, destacou o delegado Victor Menezes, da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Além dos quatro adultos baleados, outras duas crianças, com idades entre 2 e 6 anos, foram atingidas por disparos na cabeça. Um dos pequenos, agora identificado como Christopher, morreu logo após dar entrada na ambulância, já a outra criança morreu no hospital cerca de quatro horas após o crime.

Foi confirmado nesta terça-feira (8), que um bebê de colo, de sete meses, que a princípio teria saído ileso, também foi atingido por disparos e levou um tiro no dedo do pé. No momento do atendimento, o bebê ficou com os policiais e depois foi levado ao hospital.

Ainda não há informações sobre a motivação do crime. Membros da Polícia Civil já trabalham para revelar novos detalhes e na busca da identificação dos suspeitos. “Não temos informação, as razões e o motivo que levaram a essa situação”, finalizou o tenente.