O que se sabe até agora sobre o caso do PM que matou a ex-mulher e tirou a própria vida

Publicado em 14 set 2022, às 10h44. Atualizado às 11h29.

No final da tarde desta terça-feira (13), o policial militar Dyegho Henrique Almeida da Silva matou a ex-mulher Franciele Cordeiro e Silva a tiros e cometeu suicídio em um episódio dramático e chocante registrado no meio da rua, no bairro Rebouças, em Curitiba. A Polícia Militar foi acionada logo após a mulher ser baleada, enquanto dirigia um carro na Rua Francisco Nunes. No entanto, mesmo após quatro horas de tentativas de negociações, o PM manteve a vítima refém e não permitiu que ela fosse socorrida. Franciele morreu ainda dentro do veículo e Dyegho tirou a própria vida.

Veja a cronologia do crime:

  • Nesta terça-feira (13), o policial militar voltou às atividades na corporação após ficar afastado por conta de um atestado médico. Ele recebeu a arma da PM e saiu da sede em direção a Rua Francisco Nunes.
  • No bairro Rebouças, já no final de tarde, 14 minutos após deixar a sede da PM, o policial abordou o carro da ex-mulher. Ele estava de moto, desceu do veículo e começou a atirar. Franciele estava com a filha de 11 anos no automóvel e ainda deu a ré ao perceber os tiros. Ela bateu em outro carro e foi obrigada a parar.
  • A adolescente de 11 anos conseguiu sair do carro correndo, sem ferimentos, gritando que o padrasto havia atirado na mãe. A Polícia Militar foi acionada e Dyegho entrou no carro da ex.
  • A mulher foi baleada e ficou refém do ex-companheiro dentro do veículo. As equipes começaram as tentativas de negociação para que a Franciele pudesse ser socorrida e para que o policial se entregasse.
  • As negociações duraram cerca de quatro horas, sem sucesso.
  • Por volta das 21h30, Dyegho atira contra si mesmo e comete suicídio. A mulher não resistiu aos ferimentos e morreu pouco antes, dentro do veículo.

Câmeras de segurança registraram o momento em que o carro de Franciele é abordado pelo policial em uma moto. Assista:

Imagens também flagraram algumas tentativas de abordagens durante as negociações, veja:

A Polícia Militar confirmou as duas mortes e emitiu uma nota lamentando o crime. Confira na íntegra:

“Sobre os fatos ocorridos no final da tarde/início da noite desta terça-feira, a Polícia Militar do Paraná, inicialmente, se solidariza com os familiares das vítimas e lamenta o acontecido.

Todos os procedimentos de segurança foram adotados pelas equipes policiais desde a primeira intervenção e as tratativas foram feitas de forma incessante.

Neste momento é fundamental mover todos os esforços para amparo das famílias e as motivações serão devidamente apuradas posteriormente.”

Uma coletiva de imprensa foi marcada para às 11h desta quarta-feira (14), onde mais detalhes sobre a situação devem ser revelados pela Polícia Militar.

Quem é o policial que matou a ex-mulher no Rebouças

Dyegho Henrique Almeida da Silva, de 33 anos, era natural de Belford Roxo, no Rio de Janeiro. O soldado estava na Polícia Militar do Paraná desde 2013, pertencia a 1ª classe do Centro de Operações Policiais Militares (COPOM) e acumulava Boletins de Ocorrência e processos administrativos.

Nos últimos meses, Dyegho chegou a ser afastado das atividades da Polícia Militar do Paraná (PMPR), após pegar um atestado médico. Ele também havia relatado estar com problemas financeiros e no relacionamento com Franciele. Nesta terça-feira (13), o comandante da instituição convidou o soldado para retornar ao batalhão e entregou a arma novamente ao policial. Cerca de 14 minutos após deixar a sede da PMPR, o policial assassinou a ex-mulher e permaneceu com o corpo da vítima por quatro horas dentro de um carro até o momento em que tirou a própria vida.

Antes de cometer o crime, Dyegho era respeitado entre os colegas de trabalho como um agente fiel e dedicado. Anteriormente ao ingresso na PMPR, o rapaz fez cursos na Marinha. Já no Paraná, após entrar para a corporação, o soldado se formou no Curso Tecnólogo em Segurança Pública pelo Instituto Federal do Paraná (IFPR).

Em um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), o policial escreveu sobre o tema “Violência Doméstica”. Em 17 páginas, Dyegho descreve as ocorrências atendidas na capital paranaense referentes a violência contra a mulher. Além disso, ele chegou a sugerir um treinamento especial para os policiais em casos da Lei Maria da Penha.

Atualmente Dyegho cursava Direito na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e estava prestes a se formar.

Relacionamento conturbado

O relacionamento do casal durou cerca de um ano e foi marcado por brigas, discussões e Boletins de Ocorrência (BO). Na última sexta-feira (9), a mulher registrou a última denúncia contra o soldado da Polícia Militar do Paraná (PMPR). A vítima recebeu ameaças, ouviu que “não sabia do que ele (ex-marido) era capaz de fazer” e quatro dias depois foi assassinada.

Franciele e Dyegho terminaram o relacionamento em agosto deste ano, entretanto, durante o período que estiveram juntos protagonizaram muitas brigas. No ano passado, uma das discussões terminou com um colchão queimado no apartamento do casal, após problemas de convivência.

Em maio deste ano, pelo menos dois Boletins de Ocorrência foram registrados envolvendo Franciele e Dyegho. Em ambos, a motivação seria brigas por causa da divisão de bens na separação.

O último boletim de ocorrência foi registrado por Franciele no dia 9 de setembro, quatro dias antes do crime. Na ocasião, a mulher revelou que estava sofrendo ameaças do ex-companheiro e visualizou o suspeito fazendo rondas perto do apartamento onde morava. A mulher ainda relatou que não estava mais dormindo na residência por medo de Dyegho.

Antes de matar Franciele a tiros, o policial militar publicou um vídeo em uma rede social afirmando que estava sendo vítima de um relacionamento abusivo. “Só pra todo mundo saber, que homem também sofre relacionamento abusivo. Que homem é abusado, esculachado. Que homem passa por muita coisa na mão de uma mulher. E isso afeta o psicológico, afeta tudo. No primeiro sinal de abuso, fuja rapaziada. Vocês não merecem.”, disse o policial, na chuva.

Assista:

Gravidez indesejada

Franciele era mãe de três filhos, de 6, 11 e 13 anos. A menina de 11 anos, inclusive, estava no carro com a mãe no momento em que o padrasto chegou atirando. Ela não foi atingida e conseguiu sair correndo do veículo.

Segundo informações de conhecidos, em março deste ano o casal teve uma filha, Cecilia Almeida da Silva. Entretanto, no período da gestação o casal teve diversas brigas e o soldado chegou a sugerir um aborto. Quando a mulher estava com dois meses de gestação, ele teria colocado um medicamento para Franciele sofrer um sangramento, porém, a vítima percebeu e impediu.

Já com sete meses de gestação, o homem tentou novamente e desta vez o parto precisou ser realizado às pressas. Cinco dias depois, o bebê prematuro não resistiu.

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