Duas jovens, uma delas menor de idade, que estavam na residência onde o professor Ronaldo Pescador, de 40 anos, foi morto no bairro Alto Boqueirão, em Curitiba, aumentaram o volume de um aparelho musical para que os vizinhos não ouvissem ele ser torturado até a morte

“Nós temos depoimentos que trazem que as meninas que estavam ali presentes, uma menor e a […], que elas aumentaram o som para evitar que os vizinhos escutassem”, explicou o delegado Tito Lívio Barichello, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), nesta quinta-feira (19). Além disso, as duas teriam sido responsáveis por limpar o sangue do chão e das paredes da residência e também por ajudar a enrolar o corpo de Ronaldo no tapete em que ele foi encontrado.  

Sete pessoas envolvidas no crime

Sete pessoas estavam na residência no momento em que o crime aconteceu. Destas, dois homens estão presos, um é considerado foragido e as outras quatro – entre elas as duas jovens – não tiveram a prisão autorizada pela Justiça.  

Para a polícia, todos têm envolvimento na execução da vítima e tiveram suas prisões preventivas solicitadas, no entanto, conforme o delegado, a Justiça permitiu a prisão apenas dos suspeitos diretos pelo assassinato. “Cabe ao juiz de direito e cabe ao Ministério Público opinar porque muitas vezes existe a autoria, a autoria é quando você pratica a conduta típica de matar alguém. Agora, existe a participação, que se dá por instigação e cumplicidade, incentivar a cumplicidade, é oferecer algum auxílio material, ao meu ver, apesar de não constar isso, o Poder Judiciário compreendeu que eles instigaram, que foram partícipes, mas isso ainda vai ser analisado”, declarou. 

O responsável pelo caso ainda ressaltou que o local onde o professor foi morto é pequeno e que era impossível que os participantes da ‘after party’ não ouvissem a vítima sofrendo. “É um local muito pequeno, de aproximadamente uns 15 m². Então, todos participaram direta ou indiretamente do crime. Não é possível que num espaço de menos de 15 m², alguém tenha passado muitas horas com o professor sendo torturado, que não tenha visto e que não tenha anuído, que não tenha concordado de alguma forma”. 

Prisões preventivas 

Dois suspeitos de envolvimento com o crime, Joe Mateus Mariano e o Marcelo Hotmayer foram presos na última semana e já prestaram seus depoimentos sobre tudo o que aconteceu. Segundo Barichello, o contexto do crime segue a mesma linha: a festa rave, o professor na casa para a after party, o professor sendo torturado. Porém, alguns detalhes entre os testemunhos divergiram e, por isso, o inquérito será estendido até que tudo seja esclarecido. 

“Muitas situações surgiram porque passamos a interrogar os presos e os interrogatórios não fecham um com o outro. Por isso, teremos que fazer a reconstituição do fato, teremos que verificar a prova pericial para imputar claramente a cada um a conduta que lhe é cabível para não cometermos injustiças”, pontuou o delegado. 

Joe, à esquerda, e Marcelinho, à direita, foram presos por envolvimento com a morte do professor. (Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Para finalizar, o delegado destacou que a polícia fará tudo para punir os responsáveis por um crime tão brutal. “Nós vivemos em uma sociedade de plural que não tem qualquer tipo de preconceito e não aceita. Então, opções sexuais, manifestações políticas são muito bem-vindas e fazem parte da nossa sociedade e da cultura. É injustificável que alguém sofra qualquer tipo de lesão, qualquer tipo de ameaça, e muito mais que perca a vida, em virtude de certas condutas em relação a natureza sexual. O respeito ao ser humano tem que estar acima de tudo”. 

Foragido

A DHPP divulgou a imagem do homem que está foragido. Ele se chama Guilherme de Jesus Oliveira, de 30 anos, e qualquer informação sobre seu paradeiro pode ser repassada, de forma anônima, ao disque-denúncia pelo telefone 181 ou pelo Instagram do delegado Tito Barrichello

Guilherme, na imagem acima, é procurado pela polícia. (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Passo a passo do professor antes de ser morto

Entre a noite e a madrugada dos dias 29 e 30 de novembro, o professor foi até uma festa rave no bairro Alto Boqueirão. Lá, ele conheceu os jovens que mais tarde participariam de seu assassinato e permaneceu em suas companhias até que deixaram a festa para realizar uma ‘after party’. 

Antes de irem até a residência, onde o crime ocorreu, o professor comprou 10 buchas de cocaína para que todos consumissem juntos, e, de acordo com as investigações, ele teria pago a droga em troca de favores sexuais que seriam prestados posteriormente.   

Residência onde o professor foi morto no bairro Alto Boqueirão. (Foto: Reprodução/RIC Record TV)

Na sequência, por volta das 6 ou 7h da manhã, a turma foi até uma residência e começou a pós-festa, regada a bebida alcoólica e uso de drogas. Até que, em certo momento, o professor se desentendeu com algum dos participantes devido a sua orientação sexual e foi esganado. “O professor Ronaldo foi esganado como as mãos, ele perde a consciência, e as pessoas que estavam no local acreditavam que ele tivesse perdido a vida já, tivesse morrido, mas isso não aconteceu. Em certo momento, o professor recobra os sentidos e passa a se debater, nesse momento ele é levado então ao quarto, que é uma peça muito pequena, lá havia um colchão de casal e esse colchão de casal foi queimado. Nesse local, o professor sofre inúmeras lesões com a utilização de um martelo, de um cinto, além de torturas de outra natureza”, detalhou Barichello. 

Sobre o tempo em que o professor Ronaldo permaneceu dentro da residência, o delegado explicou que: “segundo prova testemunhal, o professor chega na casa por volta das 6 ou 7h da manhã, e ele perde a vida por volta das duas ou três horas da tarde”. 

Ronaldo foi encontrado dentro de seu próprio veículo, na manhã do dia 1º de dezembro, em um terreno baldio localizado nas proximidades do local onde ocorreu a festa rave e a residência onde foi torturado e morto. Ele estava amarrado com fios elétricos, enrolado em um pedaço de carpete e com um body preto feminino na  boca.