A família de Daniela Eduarda Alves, que foi morta a facadas em janeiro deste ano, em Fazenda Rio Grande, vive um dilema nove meses após o crime. Ainda indignados com a demora do atendimento realizado pela Polícia Militar (PM) – a viatura chegou ao local três horas após a primeira ligação – os pais da vítima querem uma indenização do Estado por danos morais. Entretanto, o Estado se defende e apresentou um documento que pede inclusive a suspensão da pensão que é concedida a filha de Daniela.

O ex-companheiro e principal suspeito pelo crime, Emerson Bezerra da Silva, permanece preso e irá a júri popular. Atualmente, a pequena Lívia, de dois anos, que presenciou o crime contra a mãe, vive com os avós, Rose e Mauri.

Família questiona demora para atendimento

A família de Daniela pede indenização e quer que o Estado pague pela demora em fazer o atendimento da ocorrência. De acordo com os registros apresentados pela advogada Caroline Salmen, foram feitas oito denúncias por meio do número 190 e a primeira viatura só chegou ao local três horas depois.

“Eles tiveram três horas para fazer o atendimento a ocorrência, mas tiveram oito ligações, oito chamados desesperadores. Então, nestas três horas, com certeza, se a polícia tivesse feito o atendimento, seja na primeira ligação ou na segunda, o resultado morte poderia ter sido evitado”, conta Caroline, advogada da família

Uma vizinha do casal, que também mora na Região Metropolitana de Curitiba, estava em casa na madrugada do dia 14 de janeiro, quando Daniela foi morta. “Se a polícia tivesse vindo teria evitado. Ele ficou tempo, tempo, esfaqueando ela, quebrando as coisas na casa. Mesmo depois, que ela não respondia, dava para escutar barulho. Depois ficou uns 20 minutos sem responder nada e dava para escutar ele quebrando as coisas ainda lá”, revelou a testemunha.

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Casal tem uma filha, a pequena Lívia que presenciou o crime (FOTO: REPRODUÇÃO/ RIC)

Por danos morais, a família pede uma indenização no valor de R$ 100 mil.

Estado se posiciona contra ação da família

Se por um lado a família, que ainda sofre a dor do luto, busca a indenização que acredita ser justa, do outro o Estado apresenta argumentos para negar a ação. Em ofício, o Estado se defende e alega que a demora do atendimento não é uma garantia que a morte seria evitada. Além disso, foi apresentado a Justiça, por parte da Procuradoria Geral do Estado um documento contestando o pedido da família.

Entre as alegações, o Estado exige que a advogada da família comprove que haveria tempo para salvar a vida de Daniela entre a ligação e o momento da morte.

Para aumentar a polêmica, o Estado solicitou a suspensão da pensão paga à filha de Daniela, que está com os avós. A justificativa é o benefício do INSS que a criança também recebe, 100% do salário de contribuição da mãe. Outro argumento é o fato de Mauri não ser o pai de sangue da vítima. “Não comprova vínculo afetivo com Daniela”, destaca no documento.

Em outra parte do ofício, o Estado questiona se pode ser responsabilizado, mesmo que no mesmo momento em que se deram os fatos, todas as viaturas estivessem em uso, atendendo outras ocorrências.

Um procurador ainda destaca que Emerson Bezerra agiu em legítima defesa, segundo o réu.

Família chora a ausência de Daniela todos os dias

O semblante de dor ainda faz parte da rotina de Rose, mãe de Daniela, e Mauri, padrasto. O homem convive com a família há mais de 13 anos e acompanhou todo crescimento da vítima. Agora, após o crime, sua relação com Daniela é contestada pelo Estado.

“É muito difícil lidar com isso, é muito difícil seguir para frente. Lembrar da alegria que Daniela dava para essa família. Porque onde Daniela estava era alegria, não tinha tristeza. A Daniela brincava, dava risada, sorria, levantava a moral de todo mundo. Não há dinheiro, não há nada que traga ela de volta. Eu daria a minha vida para a Daniela estar aqui, para não ver o sofrimento da Lívia e da Rose”, declarou Mauri.

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Daniela tinha 23 anos e no dia da morte, levou a filha ver o mar pela primeira vez (FOTO: REPRODUÇÃO/ RIC)

A mãe de Daniela revelou que pensa na filha todos os dias. Além de enfrentar a ausência de perder uma filha, a mulher tem que se mostrar forte para a netinha, Lívia. Segundo a avó, várias vezes ela vê a criança conversando com as estrelas.

“Antes ela tava esperando a mãe dela chegar do trabalho, agora ela não espera mais. Mas ela fala pra mim todo dia, ela vai tomar banho ‘a mamãe está aqui comigo’. Ela sai lá fora e conversa com as estrelas”, contou Rose, emocionada.

Todos os dias eu pensa na minha filha, nela aqui comigo. Eles não tem noção, não têm ideia, é muito difícil”, finaliza a mulher.

Relembre o caso Daniela

Daniela foi morta com inúmeros golpes de faca pelo companheiro depois de passar o dia com a mãe, o padrasto, o irmão e a filha na praia. Segundo informações, quando chegou em casa, o marido não estava e, por isso, ela foi dormir. No entanto, algum tempo depois, ele retornou e deu início as agressões.

Depois de assassinar a esposa, Emerson, mesmo todo sujo de sangue e com vários cortes nas mãos, pegou a filha e foi de carro até a casa de sua mãe no bairro Sítio Cercado, em Curitiba. Foi nesse momento que o padrasto ligou para a polícia e contou o que havia ocorrido.

Guilherme Becker
Guilherme Becker

Editor

Guilherme Becker é formado em Jornalismo pela PUCPR, especializado em jornalismo digital. Possui grande experiência em pautas de Segurança Pública, Cotidiano, Gastronomia, Cultura e Eventos.

Guilherme Becker é formado em Jornalismo pela PUCPR, especializado em jornalismo digital. Possui grande experiência em pautas de Segurança Pública, Cotidiano, Gastronomia, Cultura e Eventos.