O julgamento de Emerson Bezerra da Silva, réu confesso da morte da esposa Daniela Eduarda Alves foi retomado na manhã deste sábado (25). O júri popular iniciou na sexta-feira (24), mas após se entender noite adentro, por volta das 22h, a juíza responsável suspendeu a sessão.  

Doze testemunhas foram ouvidas na sexta-feira, entre elas, familiares da vítima e do acusado, além de policiais militares que atenderam a ocorrência no dia do crime. 

Depoimento do réu

Emerson deu sua versão neste sábado. Ele respondeu as perguntas da Justiça por aproximadamente uma hora. Parentes da vítima se emocionaram ao ouvir detalhes de como o tudo aconteceu e ao ver fotografias da cena do crime

“Não tem como não se emocionar ao olhar como a Daniela ficou, ela desfigurada, não tem como reconhecer que é a Daniela”, contou Mauri Ferreira Júnior, padrasto Daniela.

Conforme declarou, eles discutiram por cerca de uma hora e, foi quando a esposa caiu em uma mesa de vidro, que ele foi até a cozinha, pegou a faca de desferiu dois golpes de faca contra ela. O lauto do Instituto Médico Legal feito no corpo de Daniela apontou 19 ferimentos espalhados pelo corpo. Os quais, a defesa alega que em sua maioria foram feitos pelos cacos de vidro da mesa. 

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Mesa onde acusado afirma que a esposa se feriu. (Foto: Reprodução/RIC Record TV)

O acusado também nega que a filha tenha visto a mãe ser assassinada pelo pai, segundo contou, a criança estava em um quarto ao lado e assim que percebeu que a esposa estava morta, ele foi até lá, pegou a menina e tampou seus olhos para passar pela sala. O que contraria a versão de vizinhos que ligaram para a polícia e informaram que a criança estava junto.

“A Justiça de Deus não falha e Jesus Cristo vai fazer por nós, pela Daniela e pela pequena Lívia, de 3 anos, que todo dia pergunta da mãe. Ela é xérox da Daniela pequenininha.[…] Da Justiça de Deus Ninguém escapa”, disse ainda o padrasto. 

Durante o julgamento, ele declarou estar arrependido e disposto a pagar pelo o que fez, no entanto, só demonstrou emoção quando indagado sobre como era o seu relacionamento com a família da esposa. Nos momentos em que os familiares se emocionaram ou mesmo quando as fotografias do corpo de mulher foram exibidas, ele apenas abaixou a cabeça ou olhou para os lados.

Feminicídio

expectativa da família é que Emerson Bezerra seja condenado com uma pena elevada. Já a defesa espera que o réu seja declarado culpado, mas busca evitar que o homem seja condenado por feminicídio, para diminuir a pena.

“O crime de feminicídio ele pressupõe alguns requisitos, é uma violência de gênero, tem que ser morta por uma condição de mulher. E, durante todo o debate ficou esclarecido que Emerson não tinha essa possessividade, não tinha essa hierarquia, pelo contrário, ficou mais claro de que efetivamente Daniela mandava dentro de casa, tanto que peitava ele. Daniela era na verdade uma guerreira, ela é a representante sim do sexo feminino, ela trabalhava, ela era independente, ela não pedia nada pro Emerson”, alegou o advogado de defesa Luís Gustavo Janiszewski.

A acusação acredita que seja difícil a defesa comprovar que não houve feminicídio, pois existem provas contundentes contra o réu. 

Durante o intervalo do julgamento, Mauri Ferreira Júnior, padrasto Daniela, lembrou que Daniela estava há tempos tentando se separar do marido, mas ele não aceitava. “Ela queria a separação porque descobriu a traição do Emerson com outra mulher e o Emerson não aceitava, não queria ir embora. Dizia que não ia deixar as coisas pra ir embora, tanto é que quando nós conseguimos comprar nossa casa eu falei pra Daniela ‘venha  morar com nós, deixa esse móveis pra lá, você conquista de volta’. Daí, ela falou ‘ eu não quero incomodar ninguém. Essa é a cruz que eu tenho que carregar, de me acertar com o Emerson, ele ir embora e eu continuar minha vida”. Infelizmente, acabou como tudo mundo sabe. 

Mauri não concorda que não se trata de caso de feminicídio, ele afirmou que Emerson era ciumento e não deixava a esposa ir a lugar nenhum sozinha, além disso, costumava ir atrás dela mesmo quando a vítima ia até a casa da familiares.“Onde a Daniela ia, ele ia atrás, se ela fosse lá na minha casa, que dava seis quadras, logo ele ia atrás”.

“E onde está o celular da Daniela? Quando a gente foi limpar a casa, achou só a capinha. Ele sumiu com o celular da Daniela porque o celular deve ter muitas provas do que ele falava”, pontuou ainda o padrasto.

Sobre a falta dos pais na vida da criança, Mauri explicou que embora pergunte muito da mãe, ela não costuma falar sobre o pai“Ela não toca no assunto, não fala a palavra pai, a Rose [mãe da vítima] me contou que ela falou assim ‘o papai é ruim né vovó’. Daí, a Rose falou não sei, porque nós não vamos descrever ele como monstro, quando ela crescer, ela virar mulher, ela vai decidir o destino dela, ela vai fazer o julgamento dela”, concluiu. 

O crime

Daniela foi morta com inúmeros golpes de faca pelo companheiro depois de passar o dia com a mãe, o padrasto, o irmão e a filha na praia em janeiro de 2019. Segundo as investigações, quando chegou em casa em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba, o marido não estava e ela foi dormir. Porém, algum tempo depois, ele retornou e deu início as agressões.

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Emerson apresentava inúmeros ferimentos quando foi preso. (Foto: Reprodução/RIC Record TV)

Depois de assassinar a esposa, Emerson, mesmo todo sujo de sangue e com vários cortes nas mãos, pegou a filha e foi de carro até a casa de sua mãe no bairro Sítio Cercado, em Curitiba. Foi nesse momento que o padrasto ligou para a polícia e contou o que havia ocorrido.

Demora da polícia

Vizinho ligaram pelo menos 8 vezes para a Polícia Militar solicitando uma viatura no local, mas os policiais chegaram na residência apenas 3 horas depois, quando Daniela já estava morta. As gravações telefônicas foram anexadas ao processo e a família da vítima moveu uma indenização contra o Estado já que a morte poderia ter sido evitada.

Ouça os pedidos de socorro feitos pelos vizinhos.

À época, a PM confirmou que recebeu os chamados, mas que não possuía viaturas disponíveis no momento porque elas estavam em outros atendimentos. A instituição também ressaltou que, após o crime, atendeu o chamado do padrasto de Emerson – que ligou avisando que o homem havia matado a esposa – e prendeu o suspeito.