O presidente do Sindicato das Classes Policiais Civis do Estado do Paraná, o Sinclapol, Kalmin Salmen concedeu uma entrevista na tarde desta quinta-feira (5) sobre o caso do delegado que matou a esposa e a enteada dentro da própria casa. As vítimas foram encontradas mortas abraçadas atrás do sofá. Para o representante da categoria, o crime não tem justificativa e Erik Busetti deve ficar na cadeia o resto da vida.
“Estamos chocados com este crime brutal que não absolutamente nenhuma justificativa. Ninguém vai conseguir provar que exista uma justificativa plausível que um cidadão, que trabalha com adolescente”, contou Kalmin.
Para o presidente do Sinclapol, não será aceita a justificativa que o homem teve um momento de surto. Pois, segundo ele, após matar a mulher e a enteada, ele teve a tranquilidade e consciência de levar a filha menor para a vizinhança.
“Ele sabia sim o que ele estava fazendo. Se alguém falar que ele estava em um momento de loucura , de insanidade, que ele estava em surto, esse surto dele tem limite. Porque a partir do momento que ele acabou de executar as duas pessoas ele se acalmou. Pegou a outra filha, não deixou que a filha visse a cena do crime, e levou para um vizinho. E calmamente falou para o vizinho que iria se matar, mas nem isso ele teve coragem de fazer”, destacou o presidente.
“Ninguém da polícia vai defender, acredito eu”
De acordo com Kalmin, o delegado agiu de maneira covarde e não honrou os princípios que fazem parte da postura de um policial. “A polícia, toda polícia, está indignada, chateada, está triste e revoltada com esse cidadão que deveria demonstrar conhecimento, cautela, controle, técnica e de forma brutal, covarde, tirou a vida de duas pessoas que estavam tranquilas em casa”, relatou.
A investigação informou que Maritza Guimarães de Souza, de 41 anos, e a filha Ana Carolina de Souza, de 16 anos, estavam comendo pipoca e assistindo filme no momento que foram mortas. O presidente da Sinclapol reforçou a brutalidade do crime e informou que o sindicato acompanhará de perto a resolução.
“Vamos acompanhar o Ministério Público até ver esse senhor, que ninguém da polícia vai defender, acredito eu, na cadeia para o resto da vida e expulso da polícia o mais breve possível. Tenho certeza, dou minha palavra, que esse senhor não fica na polícia, porque na polícia não tem lugar para covarde”, falou Kalmin.
Perfil da vítima e do suspeito
Durante a entrevista, o presidente da Sinclapol também comentou sobre a postura profissional do delegado Erik Busetti e da escrivã Maritza Guimarães. De acordo com o sindicato, esta não foi a primeira vez que o homem é acusado de agressão.
“Ele era um delegado que maltratava algumas pessoas que trabalhavam com ele, nós temos relatos de ele ter feito isso fisicamente, com palavras, então é uma pessoa desqualificada. Ele já tinha que ter sido expulso ou no mínimo afastado antes”, contou o presidente.
Já pelo lado da escrivã, Kalmin comentou palavras carregadas por emoção. “Era uma pessoa amada, querida, que amava o que fazia […] nós não vamos deixar ela sozinha neste momento, nós vamos proteger a filha dela”, declarou emocionado.
Uma homenagem a vítima está programada para esta quinta-feira (5), antes do corpo ser levado para Piraí do Sul, nos Campos Gerais do Paraná, onde será sepultado. A despedida em Curitiba será na Escola Superior da Polícia Civil, no bairro Portão.
O que diz a defesa
O advogado Claudio Dalledone Jr., que representa o policial, declarou que Busetti está visivelmente abalado e que é, provável, que o processo venha a tramitar em segredo de Justiça.
“Ele está desgraçado, moído, acabado, como todos. Há um luto enorme em toda a polícia do Paraná e quiçá posso falar até do Brasil. Creio que esse processo irá tramitar em segredo de Justiça, devido as questões que envolvem. […] Mesmo que não tivesse segredo, são questões de ordem que dizem respeito somente ao cliente e o advogado”, diz.
O crime
O delegado Busetti matou sua esposa e a enteada, na noite desta quarta-feira (4), dentro do sobrado onde viviam em de um condomínio no bairro Santa Cândida, em Curitiba.
No momento do crime, estavam em casa Maritza, uma filha do casal de 8 anos e Ana Carolina. De acordo com a polícia, a criança dormia e acordou quando ouviu os tiros. Momento em que Busetti foi até o quarto, pegou a filha e levou a menina até casa de vizinhos.
“Ouvi vários tiros, umas 23h45 da noite. Passou 5 minutos, o delegado saiu da casa dele com a filha já no colo. E aí começou a “bater nos vizinhos” [sic] pra deixar a filha dele menor. Ele já chegou e disse ‘fica com minha filha que eu fiz uma besteira’. Ele estava com a camisa toda rasgada, falou que entrou em luta corporal com ela, mas aí eu já não sei”, conta uma testemunha, que não quis se identificar.
Ele teria a intenção de tirar a própria vida, mas foi convencido a desistir pelos vizinhos. Na sequência, ele ligou para a polícia, confessou o crime e esperou pela chegada dos policiais. Em resposta ao ser perguntado sobre a motivação dos assassinatos, ele respondeu com frieza “vocês não têm ideia do que eu estava passando”.

O casal – que estava junto há pelo menos 10 anos– passava por um processo de separação. Moradores do condomínio declararam que o delegado aparentemente era uma boa pessoa e sempre conversava com todos. Ainda de acordo com algumas testemunhas, antes do crime, eles ouviram uma briga entre o delegado e a esposa.
Uma ambulância do Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate) chegou a ser chamada, mas quando chegou ao local, as vítimas já estavam mortas.