A dentista Kauany Tonndorf, de 24 anos, relatou com exclusividade ao Balanço Geral Curitiba como se desenvolveu o relacionamento que terminou em cerca de 12 horas de cárcere privado, tortura, agressões psicológicas e abusos sexuais, praticados pelo então companheiro em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.

O relato veio a público nesta segunda (15), dias após a prisão do suspeito, que responde pelos crimes de tentativa de feminicídio, estupro de vulnerável, tortura, lesão corporal, ameaça e registro não autorizado de intimidade sexual.
Dentista torturada em Pinhais foi espancada com chutes e socos
De acordo com a Polícia Civil do Paraná (PCPR), a dentista procurou a corporação após ser torturada no dia 7 de dezembro. Ela contou que foi mantida em cárcere privado por aproximadamente 12 horas, período em que foi torturada e espancada com socos, chutes, puxões de cabelo e chineladas, além de ter sofrido injúrias e ameaças de morte. As agressões só cessaram quando a mulher conseguiu fugir da residência.
Segundo a polícia, esse não foi o primeiro episódio de violência. Nos dias 3 e 4 de dezembro, Kauany já havia sido agredida e violentada pelo homem. Em uma das ocasiões, teve a cabeça arremessada contra um espelho, o que provocou perda temporária da visão e da audição do lado direito.
De acordo com a vítima, o agressor se mostrou um príncipe no início
Em entrevista, a dentista contou que conheceu o agressor na academia e que, no início, ele se mostrou atencioso e cuidadoso.
“No começo ele se apresentou como um príncipe encantado, era prestativo, carinhoso, me mandava flores”, relatou.
No entanto, após cerca de dois meses de relacionamento, quando passou a morar com ele, começaram os sinais de controle e violência. Kauany contou que o companheiro passou a interferir na forma como ela se vestia para treinar, proibindo o uso de shorts e tops, e justificava o comportamento como “zelo” e “proteção”.
Com o tempo, segundo a vítima, as restrições aumentaram. Ela foi impedida de fazer trabalhos como modelo fotográfica, teve o uso das redes sociais controlado, era monitorada constantemente por meio da localização do celular e teve rastreadores instalados no carro. Além disso, foi afastada da família e de pessoas próximas.
A dentista afirma que tentou encerrar o relacionamento, mas passou a ser ameaçada
O homem dizia que mataria seus familiares caso ela se separasse. As agressões físicas, segundo Kauany, começaram após as tentativas de rompimento. Em um dos episódios, o suspeito teria levado documentos de casamento para que ela assinasse. “Ele chegou com os papéis do casamento apenas para eu assinar, e eu me recusei”, contou.
Sobre o dia em que conseguiu fugir, Kauany afirmou acreditar que não sobreviveria.
“Eu achei que daquele dia eu não iria passar. Desde o café da manhã, ele começou a brigar e me bater muito”, relatou.
Agressor tentou dopar a vítima mas não conseguiu
Ao longo do dia, as agressões continuaram. No fim da noite, após reclamar que estava surda do ouvido direito em razão dos socos, o homem teria entregue comprimidos de zolpidem e um relaxante muscular.
Segundo a vítima, ela ingeriu apenas o relaxante e fingiu tomar os outros medicamentos. “Joguei no chão e empurrei com o pé. Ele perguntou se eu tinha tomado e eu disse que sim”, disse.
Em seguida, os dois foram para o quarto. O suspeito acreditava que ela iria perder a consciência. Após novas agressões, ele foi ao banheiro tomar banho. Foi nesse momento que Kauany conseguiu fugir.
“Saí correndo, consegui pegar o carro e o controle do portão e fui até a casa do meu pai. Lá, acionamos a polícia. Acredito que, se eu não tivesse fugido, não estaria com vida hoje”, afirmou.
O homem foi preso em flagrante
O homem foi preso em flagrante na última quinta-feira (11). De acordo com o delegado Lucas Maia, responsável pelo caso, com o suspeito foram apreendidas diversas munições e uma grande quantidade de anabolizantes.
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