Passados quase 20 anos de seu resgate, a orangotango fêmea que foi usada durante anos como “prostituta” em um bordel na ilha de Bornéu, na Indonésia, ainda precisa de cuidados especiais. Apesar de saudável, Pony não pode ser devolvida a natureza para viver uma existência independente, porque os anos de abuso e fora de sua habitat natural fizeram com que ela não saiba como se comportar, e permanece em um centros de reabilitação.

“Pônei vive uma vida saudável dentro do complexo atualmente. Aos 21 anos, faltam a ela habilidades naturais e comportamentais, que não permitem que ela seja colocada em outros tipos de recintos. Esperamos que ela possa algum dia ter a chance de viver na ilha santuário, explicou Nico Hermanu, do Borneo Orangutan Survival Foundation, na terça-feira (14).

A história de Poney é tão cruel que é difícil de ser contada, mas é preciso, para que as pessoas tenham consciência do que pode acontecer quando o ser humano acredita que está acima de todos os seres, não respeita os animais e o mundo em que vive. Roubada de sua mãe quando bebê, em alguma momento a orangotango foi levada para uma casa de prostituição e foi ensinada a praticar atos sexuais.

Quando foi encontrada, Pony estava acorrentada a uma parede, deitada em um colchão sujo com o rosto cheio de maquiagem, usando joias e perfume. Sabendo o que era esperado, a macaca costumava girava os quadris quando um cliente batia na porta, antes de ser estuprada por homens com o dobro de seu tamanho.

Entre as barbaridades a que era submetida, ela tinha o corpo totalmente depilado a cada dois dias, mesmo que isso lhe causasse feridas horríveis e que pioravam com as picadas de mosquitos da região em que vivia, para que seu corpo ficasse mais atraente para os clientes.

“Foi horrível. Ela era uma escrava sexual – era grotesco. Ela estava coberta de abscessos, e colocaram maquiagem e brincos nela. Ela deve ter sentido muita dor. Foi horrível pensar em como ela deve ter ficado apavorada. Quando descobri que ela era usada para prostituição e não apenas um animal de estimação, fiquei horrorizada. Talvez, em minha ingenuidade, nunca tivesse pensado que seria humanamente possível fazer uma coisa dessas com um animal”,

lembra o conservacionista dinamarquês Lone Droscher-Nielsen, que fez parte da equipe que resgatou Pony em 2003.

Na época, homens que trabalhavam em uma fazenda de óleo de palma próxima, em Bornéu, entravam no bordel e podiam pagar algumas libras para fazer sexo com uma prostituta ou então com a orangotango.

Foi necessário uma força-tarefa para tirá-la do bordel e 35 policiais armados precisaram obrigar os proprietários a entregar a macaca. Um idosa, que tomava conta do local, chorou amargamente quando viu Pony sendo levada embora, mas não foi porque tinha afeição pela orangotango, mas porque estava perdendo uma boa fonte de renda.

No início, os conservacionistas precisavam evitar que qualquer homem chegasse perto dela, mas com o tempo, ela foi se acostumando.

“À medida que ela melhorava, os cuidadores do sexo masculino foram lentamente apresentados a ela. Ela não parecia mais ter medo deles e estava feliz com qualquer companhia que pudesse ter”,

conta Michelle Desilets, que trabalha como voluntária cuidando de orangotangos órfãos em Bornéu.

Mas infelizmente, devido à sua falta de habilidades de sobrevivência por ter passado tanto tempo em cativeiro humano, é provável que ela nunca será solta de volta na selva.