O passado do assassino confesso de Rachel Genofre começa a ser esclarecido durante a investigação que apura detalhes de como a criança foi morta. Nesta quarta-feira (23), em uma coletiva de imprensa, a Polícia Civil do Paraná prestou esclarecimentos sobre o interrogatório de Carlos Eduardo dos Santos, realizado na terça-feira (22), e divulgou depoimentos colhidos para traçar o perfil psicológico e modus operandi do criminoso.
De acordo com a delegada Camila Cecconello, desde os anos 80, Carlos Eduardo passava de cidade em cidade, não se fixava em ponto nenhum, e costumava fingir ser um homem religioso. Ele também se apresentava como advogado e usava sua profissão falsa para aplicar golpes financeiros.
“A primeira esposa dele tinha 12 anos e ele 17. De lá pra cá, ele teve outros relacionamentos, alguns filhos e o que ficou bem perceptível na descrição de todas essas testemunhas é que, num primeiro momento, pra essas mulheres, ele representava ser um homem perfeito” disse Cecconello.
Ainda conforme a delegada, ele mudava de personalidade assim que os líderes religiosos e companheiras passavam a perceber suas mentiras e seu passado nebuloso. “Ao ser confrontado, ele começava a apresentar um comportamento extremamente agressivo, terrorismo psicológico com ex-companheiras, violência física, por algumas vezes, e perseguição”.
Assassino de Rachel Genofre seduziu menina de 12 anos
Entre as testemunhas ouvidas, estão suas esposas. A primeira, com quem ele permaneceu casado por cinco anos e teve dois filhos no estado de São Paulo, contou que conheceu Carlos Eduardo com apenas 12 anos de idade e ambos viviam na mesma rua.

“Quando eu me envolvi com ele, eu era também uma criança, eu engravidei com 13 anos. […] Não foi nada forçado, mas foi naquela insistência “deixa, deixa, deixa””, explicou quando indaga sobre a possibilidade de ter sido abusada sexualmente por ele.
A mulher, que não quis se identificar, contou que se separou do marido, no ano de 1985, após ele estuprar uma criança que ela cuidava. Inclusive, esse foi o primeiro boletim de ocorrência registrado contra Carlos Eduardo por abuso sexual.
“Ele convenceu a esposa a ganhar mais um dinheirinho cuidando do filho de um amigo, uma criança de 4 anos, quando ele acabou abusando dessa criança”, reforçou o delegado Marcos Fontes, da Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP).
2ª esposa conheceu o assassino na igreja
Já a segunda esposa explicou à polícia que conheceu o assassino de Rachel Genofre em uma igreja no interior de Santa Catarina e só descobriu a verdadeira personalidade do homem quando já estava grávida.
“Ele pregava na igreja, era o homem mais santo da face da Terra. Aí, ele assim, ‘eu quero casar porque eu quero me formar pastor e é preciso a gente se casar’. Só falava de Deus. Quando a gente já tava com os papel tudo pra casar começou a vir umas ligação estranha, um dia ele esqueceu o computador aberto, a minha filha viu, ele com umas conversas com umas mulheres. E aí, eu comecei a juntar muita coisa. Aí, um dia um cara ligou e falou ‘olha, eu vou dizer uma coisa pra você. Eu sei que você é inocente. Mas esse vagabundo me deu um golpe, de estelionato, e começou a falar”, contou.
Ela também pontuou que após se separar de Carlos Eduardo passou a ser ameaçada de morte por ele, junto com seus filhos, e precisou mudar de cidade.
“Bem nessa fase, ele era tudo certinho, Deus daqui, Deus de lá, homem perfeito era ele, de terno e gravata, Bíblia embaixo do braço, dentro de casa era uma educação. Mas aí, era muita mentira e eu deixei dele e ele começou a me ameaçar de morte. Ele ligava e falava ‘eu tô te vendo assim, assado, vou matar tu e teus filhos. E eu grávida, desesperada. Ele dizia assim ‘eu tô seguindo teus filhos, já que tu não meu quer deixar assumir o filho que tá na tua barriga, eu vou matar teus filhos’. Ai foi onde eu fui embora”, disse.
Forçava 3ª esposa a ter relações sexuais
A última esposa de Carlos Eduardo, que se relacionou com ele após 2008, declarou que teve pouca convivência com o marido, pois ele viajava muito, mas após descobrir suas mentiras, passou a ser ameaçada por ele.
“Depois de algumas brigas que a gente tinha, eu acabei descobrindo que ele usava documentos falsos, até o do irmão dele mesmo falecido. Foi uma experiência conturbada, eu não sabia muito da vida dele, recebi várias ameaças, muitos telefonemas de gente desconhecida”, lembra.

Ela também contou que era forçada a ter relações sexuais com ele e que era dopada com cocaína pelo assassino de Rachel Genofre. “Ele me forçava ter relação sexual com ele, ele me dopava com cocaína, durante o tempo que eu vivi com ele, eu não tive muito o que fazer. Ele me trancava em casa com os meninos, eu tinha que pedir ajuda pra outras pessoas me libertar”, finalizou.
Carlos Eduardo foi transferido de uma penitenciária de São Paulo para o Paraná, onde permanecerá até a conclusão do inquérito sobre a morte de Rachel.