
Criança, de cinco anos, foi vítima de bala perdida pouco depois da meia noite de primeiro de janeiro de 2018 em meio a comemoração de réveillon da família
“Hoje é um vazio, é um buraco, infelizmente é o dia mais triste, por mim eu pularia essa coisa de Ano Novo”, define Valéria Aparecido, de 35 anos, um ano após o crime que marcou sua vida. Momentos após celebrar a chegada de 2018, o filho de Valéria, Arthur Aparecido Bencid Silva, 5 anos, foi atingido por uma bala perdida e morreu. A morte do garoto de forma trágica e repentina fez do período de festas serem dias sem comemoração para a família.
Menino de cinco anos morre de bala perdida no Ano Novo
Vestidos com uma camisa estampada com o rosto sorridente de Arthur, Valéria e o pai do garoto, David Santos da Silva, de 34, falaram ao R7 sobre a sensação de impunidade por não ter nenhuma resposta por parte da polícia para o crime, um depois. “Acho que a polícia não está fazendo nada, eles nunca nos chamaram para novos depoimentos, nem para receber nenhuma informação”, lamenta David.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP), não respondeu nenhuma das questões feitas pela reportagem do R7 sobre o andamento das investigações sobre a morte do garoto, que se limitou a afirmar que a investigação procede, “com oitivas de participantes da festa”.
Entretanto, a última vez que alguém que estava na festa foi ouvido pela polícia, segundo a família, foi em abril de 2018. O avô do garoto chegou a procurar informações sobre o andamento das investigações na sede do DHPP, mas também não obteve nenhuma resposta.

Investigação complexa, segundo polícia
No entanto, em julho deste ano, em entrevista ao R7, o então delegado Geral da Polícia Civil, Paulo Bicudo, chegou a dizer que o caso é uma investigação complexa. “Algumas investigações a polícia não consegue e isso é fato, por mais que se empenha, por melhor que sejam os policiais destacados para aquele caso. Alguns ficam sem o devido esclarecimento”, afirmou.
Já a mãe de Arthur avalia que a polícia trata a investigação com descaso, e na esperança por respostas, pede ajuda de quem tenha alguma informação que possa elucidar de onde partiu o tiro que matou seu filho. “Alguém deve ter visto, alguém viu algo e se viu deve procurar a polícia. Uma denúncia anônima ajudaria muito no caso do meu filho. Uma pessoa atirou para cima e matou meu filho, será que essa pessoa não vai fazer isto de novo?”, diz Valéria.
Vazio e tristeza para a mãe de Arthur Bencid Silva
“Eu também tenho a camisa do Arthur né mamãe?”, diz Laura, 3 anos, irmã mais nova de Arthur, ao sentar em um degrau de uma escada e olhar para os pais vestidos com a camiseta. “Ela brincava muito com ele, ela sente falta”, diz Valéria com os olhos repletos de lágrimas.
“Ficou um espaço vazio na rotina que tínhamos com ele e com a Laura”, diz David, contando que Arthur gostava do período de festas e da oportunidade de reencontrar e brincar com os primos na reunião familiar. Hoje, o período de festas é tratado como um dia normal s pela família, arrasada pela morte do filho vítima de bala perdida.
“Eu tento de tudo para me manter forte, mas por dentro estou sangrando. É uma dor que não termina nunca”, diz Valéria, que hoje busca forças na filha para seguir em frente. “Ela que me dá juízo que me faz ter forças e seguir aqui. Metade de mim foi embora”, diz ela.
Posse de armas no Brasil
Arthur foi vítima de um disparo de arma de fogo em meio a discussão sobre novas regras para facilitar a posse de armas no Brasil, a família crítica qualquer flexibilização para ampliar a possibilidade de porte de uma arma. “Eu não concordo com essa ideia de qualquer cidadão ter posse de arma, dentro de casa. É uma arma perigosa que você mata querendo ou não querendo e não tem volta. Se desta maneira [como são as regras para armas atualmente] eu já perdi meu filho, imagina quantos Arthur não vão morrer no mundo por aí”, diz Valéria, mãe de Arthur.
Tragédia de Réveillon
No último 1° de janeiro, Arthur brincava com no quintal da casa de um familiar na Vila Sônia, zona sul de São Paulo. Durante a queima de fogos, um projétil de arma de fogo atingiu o garoto, fazendo com que o menino caísse no chão imediatamente. Familiares levaram a criança, em seguida, para um hospital particular em Taboão da Serra, na região metropolitana paulista.
Por não possuir UTI pediátrica na unidade, o hospital afirmou, à época, que começou a solicitar vaga para o menino ser transferido. “O processo de transferência foi prolongado devido ao tempo de busca de vaga na rede SUS”, informou. A procura pela vaga teria durado das 1h11 até 4h53 — o que resulta em agoniantes 3h42 para a família Bencid. A criança foi levada para o Hospital Geral de Pirajussara, em Embu das Artes, onde morreu na noite daquele dia.
Também naquela época, a Secretaria de Saúde do Estado afirmou que o hospital privado não registrou o pedido de vaga de forma correta. Segundo a assessoria, os pedidos devem ser registrados na “central de regulação de vagas”, e o Hospital Family não teria cumprido este procedimento.