
O grupo oferecia serviços especiais em troca de dinheiro. O Balanço Geral teve acesso exclusivo ao caso e aos depoimentos das vítimas
Um convite surpreendente de uma quadrilha conhecida como “Cartomantes do Batel” oferecia serviços especiais em troca de dinheiro. O grupo atendia em um sobrado luxuoso no bairro Batel, em Curitiba.
Quadrilha de cartomantes usava do poder de persuasão
Na abordagem, integrantes procuram por vítimas e diziam que precisavam realizar serviços espirituais para ajudar essas pessoas a melhorarem de vida. Os golpes, de vários níveis, se aproveitavam de situações de saúde, amor, trabalho e dinheiro para “seduzir” as vítimas.
Um dos integrantes da quadrilha abordava as vítimas e dizia que havia um trabalho espiritual contra a pessoa. Após convencidos, uma cartomante dizia que precisava de dinheiro para desfazer o trabalho.
Ao todo, a investigação calcula que o golpe pode chegar em valor aproximado de R$ 3 milhões contra 37 pessoas.
Primeiro caso foi denunciado em 2013
Os quatro suspeitos de estarem envolvidos no crime já tinham passagem pela polícia. Eles foram presos em 2013 quando um casal denunciou o caso na polícia depois de perder R$ 380 mil em serviços espirituais.
Hoje, os quatro suspeitos respondem ao crime em liberdade, e ainda serão ouvidos no processo.
Exclusividade no caso
Nossa equipe de reportagem do Balanço Geral teve acesso exclusivo às primeiras nove vítimas das cartomantes do Batel.
Uma das vítimas, uma mulher de 54 anos, deu aos suspeitos o que tinha de mais importante: o carro, que ainda estava financiado.
De acordo com ela, o bem era a única coisa que tinha naquele momento. “Eu falei pra ela que a única coisa que eu tinha era o meu carro, que estava financiado. E ela disse que tudo bem, que o carro dava porque ela tinha um amigo que poderia comprar e quitar o veículo. Então, no dia seguinte eu levei o carro, entreguei, e ela foi embora com o meu carro”, afirma uma das vítimas.
A mesma mulher ainda afirmou que fez coisa muito pior. Ela disse que chegou a pegar dinheiro escondido da conta da própria filha para continuar alimentando os trabalhos espirituais que as cartomantes diziam executar.
Outra vítima de 60 anos entregou algo ainda mais caro as cartomantes: uma casa no valor de R$ 100 mil. Segundo ela, a mulher a abordou e disse que tinha uma coisa feita para a família, e que precisaria ir até a casa da vítima para desfazer o trabalho.
Em depoimento, a mulher perguntou que tipo de trabalho havia sido feito, pois ninguém tinha entrado em sua casa. “Ela disse que não precisava alguém ter entrado, mas que ela queria ir até lá para desfazer”. Segundo ela, a cartomante pediu dinheiro para executar o desmanche. “Eu disse que não tinha o dinheiro e que estava vendendo o meu imóvel para ir morar em outro lugar”, conta.
Após um tempo, a mesma vítima informa que as cartomantes descobriram que ela havia vendido o apartamento. “Nesse momento, elas começaram a me perseguir”, explica.
Suspeitas serão ouvidas em setembro
As cartomantes serão ouvidas no início de setembro. Humberto Félix, advogado das suspeitas, afirma que não vai pedir redução de pena em caso de condenação, pois ele quer a absolvição total das clientes.
De acordo com o Humberto, no momento da contratação não foi dito que o dinheiro seria devolvido. “Todos que se dizem vítimas foram procurar espontaneamente as acusadas, sendo cientes que todos os trabalhos espirituais eram pagos. Isso improcede a afirmação de que o dinheiro seria devolvido. Os trabalhos espirituais foram realizados”, contesta.
Segundo ele, não há nenhuma prova de recibo, pagamento ou transferência no valor informado pelas vítimas.
Duas suspeitas já foram presas em 2013
Os argumentos da primeira defesa que teve como vítima um casal que perdeu R$380 mil prendeu duas das vítimas em 2013. Na época, elas foram condenadas a um ano e quatro meses de prisão.
O sobrado no Batel onde funcionavam os atendimentos foi confiscado pela justiça para pagar as eventuais vítimas com um valor de R$ 3 milhões. A polícia também tomou das vítimas dois carros importados no valor de R$ 100 mil e R$ 180 mil.
Investigação suspeita de golpe que ultrapassa R$ 3 milhões
Matheus Laiola, delegado responsável pelo caso, suspeita que os bens foram comprados com os golpes. “Na época dos fatos nós pedimos a quebra do sigilo bancário junto ao Poder Judiciário, mas como houve a transferência por parte da delegacia do delegado que presidia, no caso eu, a gente não conseguiu estabelecer esse vínculo pois não houve retorno dos bancos”, conta o delegado.
O delegado ainda conta que há alguns anos, antes da investigação ser iniciada em Curitiba, havia fortes indícios que no oeste do Paraná, em Toledo, essa mesma quadrilha teria agido. “A tendência é que esse patrimônio que eles tinham adquirido havia sido da prática ilícita”.
Humberto Félix, advogado das cartomantes, afirma que o dinheiro dos patrimônios foi de herança e destino, já que umas das vítimas teria ganho na quina um bom dinheiro no passado.
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