Curitiba e Foz do Iguaçu - O segundo dia do júri do caso Jorge Guaranho, acusado de matar o guarda municipal Marcelo Arruda, em julho de 2022, prosseguiu nesta quarta-feira (12) com a participação de testemunhas e o depoimento do réu.

Júri do Jorge Guaranho
O júri acontece em Curitiba. Já o crime ocorreu em Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná (Foto: Bárbara Hammes / RICtv)

O júri desistiu de ouvir a esposa de Guaranho, que havia sido arrolada anteriormente. Em seguida, Alexandre José, amigo de Arruda, foi ouvido por videochamada. Ele relatou estar presente no local no momento do crime e foi questionado como informante pela defesa.

Após um intervalo, Guaranho foi chamado para prestar o depoimento, com a defesa solicitando um tempo para se reunir com ele antes do início das perguntas. A juíza concedeu o tempo necessário. Durante o interrogatório, Guaranho respondeu às perguntas dos advogados de defesa e dos jurados. Ele detalhou a sua versão do dia do crime, incluindo sua ida ao churrasco, onde afirmou ter visto imagens da festa de Arruda em um celular.

Guaranho descreveu a discussão com Arruda após a reprodução de uma música associada a Bolsonaro, dizendo: “Eu falei Bolsonaro mito” e relatou que a discussão foi “bem boba”. Sobre o momento em que Arruda atirou pedras e terra, Guaranho afirmou: “Quando cheguei, parei meu carro e o Marcelo chegou perto de mim e me xingou. Não me xingou, xingou a música, falou palavrão da música”. O acusado também disse que, quando Arruda atirou as pedras, foi uma investida contra ele.

Guaranho diz que filho foi atingido por pedra no olho

Em relação ao seu retorno ao local do crime, Guaranho explicou que o motivo de voltar foi uma situação envolvendo seu filho: “Aí no final, na minha última ré, eu falei Bolsonaro, Bolsonaro mito. E ele (Arruda) falou cadeia”. Ele ainda afirmou que, no momento da briga, o filho havia sido atingido por uma pedra no olho, embora não tenha percebido isso na hora. “Meu filho foi atingido também, no olho, mas não vi na hora”. Ele completou que sua casa era muito próxima ao local do conflito: “Muito rápido”. Quando questionado sobre a ameaça à Pamela Silva, viúva de Marcelo Arruda, que pediu para ele não voltar, Guaranho justificou: “Porque me senti ofendido, porque me deu muita raiva, fiquei put*”.

Guaranho também afirmou que não tinha intenção de matar ninguém. “Não fui nem pra brigar, quem dirá matar […] Porque eu não queria matar ninguém”. Sobre a situação em que atirou, Guaranho explicou: “Fui lá dentro conferir se ele tinha largado a arma. Ou eu me abrigava onde estava. Quando eu vejo o Marcelo vindo com a arma ali, apontada pra mim, eu saco minha arma. Quando percebo que ele tá andando na minha direção, ali é perigo”, complementou.

Acusado diz que não tinha intenção de matar Arruda

Questionado sobre o “tiro de misericórdia” mencionado por um informante, Guaranho respondeu: “Se eu quisesse matar o Marcelo tinha matado desde antes” e completou: “Quando atirei no Marcelo, tinha plena consciência que não o matei”.

Em resposta a questionamentos sobre a qualificação do crime, disse que não agiu por motivação política: “Não fui para crime de ódio”. Ele também negou que tenha colocado outras pessoas em risco durante a discussão, dizendo: “Não” e afirmou: “Claro” quando questionado se se defendeu.

Quando perguntado se considerava alcoolizado no dia do crime, Guaranho explicou: “Naquele dia tomei uns dois copos de bebida, uns três. Eu tinha muita resistência a bebida, destilado. Eu tava inteiro na churrasqueira. Acendi, lavei a churrasqueira, grelha. Não tava bebendo o tempo todo. Um copo, dois, em 3/4 horas. Na época, se eu bebia três copos de whisky estava sóbrio. Naquele dia, não estava consumindo muito álcool, fiquei na churrasqueira”.

Guaranho também explicou sua reação ao não ter se identificado como policial na primeira vez em que teve um confronto com Marcelo Arruda, dizendo que rapidamente falou “polícia” quando Arruda apontou a arma para ele. O acusado afirmou ainda que não pensou em atirar na primeira vez. “Porque na primeira não era uma agressão com arma, na segunda foi uma ameaça”.

Sobre o motivo de mostrar a arma na primeira vez, Guaranho disse: “Foi pra repelir o Marcelo, entendi que levaria um soco. Apontei e disse ‘polícia’”. O acusado descreveu a sequência dos fatos, dizendo que ao ver Arruda passando, achou que ele havia aberto a porta do carro e acelerou o veículo em resposta, tentando proteger a família.

O acusado revelou também que só percebeu que o filho havia sido atingido quando o garoto começou a chorar, algo que ele nunca tinha visto antes. Em seguida, decidiu voltar ao local, sendo que a decisão foi rápida e impulsiva. “Fui até lá, mas quando cheguei inflexível, Marcelo estava apontando arma. Agora que a gente vê que aconteceu toda essa tragédia, dá para pensar. Mas naquele momento foi assim… eu não pensei. Eu não fui lá pra matar o Marcelo, quando cheguei encontrei aquela situação. Tentei até o último segundo não atirar”. Ele afirmou ainda que, se Arruda tivesse permanecido em um local mais distante, talvez fosse possível um diálogo, mas a situação se agravou quando ele se aproximou apontando a arma.

A defesa continuou a buscar esclarecer que Guaranho não agiu com intenção de matar. “Eu não fui lá para matar ninguém. Eu não tinha essa intenção. Foi automático. Tanto que dei dois tiros e parei”. Quando questionado se sua atitude foi adequada, Guaranho reafirmou: “Tentei ao máximo não atirar. Pedi pra baixar, e naquela hora que eu atirei foi a hora que não tive mais escolha. A hora que eu atirei, eu senti ali que se eu não atirasse seria eu o baleado. Foi instinto de sobrevivência. Se ele tivesse pelo menos parado, poderíamos ter conversado e baixado a arma juntos. Não foi decisão, foi instinto”.

Guaranho se diz arrependido de crime

Sobre o impacto do ocorrido em sua vida pessoal e o arrependimento, Guaranho se mostrou arrependido, dizendo: “O que tenho pensado há mais de dois anos. Uma tragédia que acarretou tudo isso, fatalidade pra duas famílias. Marcelo deixou a família dele. Penso isso o tempo todo. Foi uma fatalidade. Cresci sem pai, sei como é. Infelizmente foi uma fatalidade que não tem como… não vai ter um dia que não vou pensar nisso”. Ele também fez questão de enfatizar que não tinha motivação política para o que aconteceu: “Se ele não tivesse vindo para cima de mim com aquela arma, não importaria partido, não teria atirado. Eu quero que a família do Marcelo saiba que eu jamais quis isso. Jamais quis atirar no Marcelo. Jamais tive motivo por político, eu mesmo namorei uma menina do PT”.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de falhas de memória devido aos ferimentos, Guaranho explicou: “Eu tive gravemente na época dos fatos, hoje eu consigo ter boa memória retrograda. Pode ter dificuldade, mas vai repetindo até fixar. De lá pra cá foi gradual”.

A defesa também reiterou que as sequelas físicas que Guaranho sofreu e os tratamentos médicos que ele teve de seguir desde a situação, como cirurgias e fisioterapia, explicavam em parte seu estado mental e físico.

Familiares se emocionam com depoimento de Guaranho

Guaranho continuou sendo questionado sobre seu arrependimento pela morte de Marcelo. Ele expressou um profundo pesar: “Total arrependimento pela morte do Marcelo. Era pra eu ter morrido, tomei três tiros na cabeça. Marcelo saiu falando do local, morreu de madrugada. Meu arrependimento sempre vai ser o Marcelo. Filhos sem pai. Acusaram-me o tempo todo de querer matar ele. Eu não queria, tentei não atirar. O que tenho para falar e para a família e todo mundo, não existe que foi por partido. Vou carregar para sempre. Não tem como não levar as feridas de ter participado da morte de uma pessoa”. Após o relato, familiares do acusado choraram discretamente, com lenços secando as lágrimas.

Em seguida, o acusado foi questionado se Marcelo deixou de ser uma ameaça no momento em que ele atirou. Guaranho explicou que, para ele, haviam opções claras: “Eu podia ter pego o carro, mas sabia que Marcelo ainda estava armado. Se entrasse no carro, Arruda iria atirar mais em mim e eu teria que revidar”. Ele enfatizou que, na sua avaliação, Marcelo ainda representava um risco para ele, o que justificava o disparo: “Não tinha deixado de ser perigo. Ele efetuou esses disparos em mim”. Ainda reforçou que atirou apenas em resposta à agressão, após Marcelo ter atirado nele, atingindo seu joelho e coxa.

A defesa também procurou explicar a escolha de Guaranho sobre onde atirar. Quando perguntado se poderia ter atingido uma parte do corpo não vital, Guaranho respondeu: “Eu tentei evitar o coração, peito dele, porque treino alvo no tórax. Eu tentei atirar na região mais baixa possível. Policial é treinado para atirar no meio do peito, mas tentei atirar mais embaixo, mas infelizmente ele morreu de hemorragia no hospital”.

O interrogatório foi então encerrado e a sessão suspensa, que será retomada nesta quinta-feira (13), às 9h da manhã.

Relembre o caso de Jorge Guaranho e Marcelo Arruda

Em 9 de julho de 2022, durante as comemorações do seu 50º aniversário, o guarda municipal Marcelo Arruda foi morto a tiros em sua própria festa, que tinha como tema um dos candidatos às eleições presidenciais daquele ano.

O acusado, o policial penal Jorge Guaranho, teria invadido o evento sem ser convidado, resultando em uma discussão que terminou em tragédia.

Marcelo, além de trabalhar na segurança pública, era tesoureiro municipal do Partido dos Trabalhadores (PT) e foi candidato ao cargo de vice-prefeito de Foz do Iguaçu nas eleições de 2020.

*Com informações da repórter Bárbara Hammes, da RICtv.

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Jonathas Bertaze

Repórter

Jonathas Bertaze é formado em Jornalismo desde 2023, pós-graduado em Assessoria, Gestão de Comunicação e Marketing e especializado na cobertura de pautas de Segurança, como crimes e acidentes, além de Cotidiano e Loterias, com resultados da Caixa Econômica.

Jonathas Bertaze é formado em Jornalismo desde 2023, pós-graduado em Assessoria, Gestão de Comunicação e Marketing e especializado na cobertura de pautas de Segurança, como crimes e acidentes, além de Cotidiano e Loterias, com resultados da Caixa Econômica.