Adolescente é filho de ex-presidiários e disse ao juiz que quer levar uma vida diferente da que os pais viveram
Um menino de 11 anos, da cidade de Joinville, em Santa Catarina, está emocionando o Brasil com uma carta de agradecimento que ele escreveu ao juiz de execuções penais que autorizou a mãe do garoto, presa por furto, para passar os últimos dias de vida em casa. Em dezembro de 2014, o adolescente foi pessoalmente ao gabinete do Juiz João Marcos Buch, acompanhado da avó paterna, e pediu que sua mãe, presa há seis anos e em fase terminal por conta do vírus HIV, pudesse morrer “com dignidade” na casa da família.
O magistrado se comoveu com o pedido e foi até o hospital onde a detenta estava internada. Chegando lá, constatou que a mulher tinha metade do corpo paralisado, devido a uma lesão cerebral. Em decorrência da Aids, a mãe do menino contraiu toxoplasmose e isso causou a paralisação. “A mulher estava algemada pelo tornozelo. Entendo que seja o protocolo de segurança, mas não era razoável”, contou Buch. Diante da cena e do pedido do menor, o juiz autorizou a prisão domiciliar.
A mulher morreu no dia 25 de março, em um hospital de Florianópolis. Antes disso, passou as últimas semanas de vida na casa de uma irmã, junto dos dois filhos, o menino de 11, que fez o pedido, e o caçula de 9 anos.
Algumas semanas depois da morte da mãe, o adolescente pediu que a avó o ajudasse a escrever uma carta de agradecimento ao juiz. O menino, que também é soro positivo, contou ao juiz sobre a vida errada que os pais levavam e disse que pretende fazer escolhas diferentes no futuro.
Leia a carta na íntegra:
Olá, senhor juiz. Minha avó disse que eu podia deixar um recado aqui, que o senhor ia ver. Tenho 11 anos e sou filho da (*). Sei que o senhor vai lembrar, sou neto da (*) e só queria agradecer ao senhor. Cresci vendo meus pais fazendo coisa errada e sendo presos. Por muitas vezes entrei na prisão para visitar meu pai ou minha mãe. Por muitas vezes vi eles ganharem a liberdade e novamente serem presos. Mas hoje esse é um passado que não faz mais parte do meu presente. Quis Deus que meu pai saísse da prisão em dezembro, de condicional e fosse trabalhar. Minha mãe, quis Deus que ela ficasse bem doente e o senhor foi lá soltar. Eu tava segurando a mão da minha vó quando ela foi na sua sala pedir para aquelas moças que alguém fizesse alguma coisa pra minha mãe morrer com dignidade e o senhor fez. Também sou soropositivo, essa escolha não fui eu quem fez, mas tenho direito às próximas. E desde já quero ser um homem honesto. Obrigado, senhor juiz João Marcos.
* Os nomes foram mantidos em sigilo para preservar a identidade do garoto, que também é portador do vírus da Aids.