Curitiba - A preocupação da sociedade paranaense com o Comando Vermelho cresceu neste final de outubro. Seria possível a fuga de líderes do Comando Vermelho para o estado em razão da operação das forças de segurança do Rio de Janeiro no Complexo de Favelas do Alemão? É a pergunta jogada na imprensa para uma resposta certeira das autoridades na mídia: “estamos preparados.”

Comando Vermelho opera há anos no Paraná
Do interior ao litoral do Paraná, o Comando Vermelho é uma realidade há décadas

É importante que, em uma eventual debandada, exista um preparo com inteligência. É fato que o crime organizado se combate com inteligência, não com letalidade policial. Prova disso foi a Operação Carbono Oculto, comandada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, que, sem disparar um único tiro, desmantelou um esquema bilionário de tráfico de drogas, armas, venda ilegal de combustíveis e lavagem de dinheiro operado pelo PCC no Paraná e em São Paulo. Lembrando que o PCC é hoje o maior cartel de drogas do mundo.

Leia também: Operação Tank: Relatório do MPF aponta Curitiba como núcleo central de lavagem de dinheiro ao PCC

Monitorar líderes do Comando Vermelho neste momento é essencial. Agora, é preciso lembrar que o Comando Vermelho já está no Paraná, e há bastante tempo. Sua posição no estado se consolida de fato lá em 2016, quando, associado ao PCC, promoveu uma das mais ousadas operações do crime organizado na América Latina, assassinando Jorge Rafaat Toumani, o Rei da Fronteira, em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, na divisa com Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul.

Com a morte de Rafaat, PCC e Comando Vermelho assumiram o controle do tráfico de cocaína que vem da Bolívia e do Peru, por exemplo, para seguir ao mercado europeu via portos do Brasil. Logo, o Comando Vermelho se estabeleceu no Mato Grosso do Sul e também no oeste do Paraná, em cidades como Toledo, onde o Ministério Público do Paraná mantém investigações constantes sobre a atuação da facção carioca.

Além de Toledo, a facção também tem ramificações em Palotina e Foz do Iguaçu, segundo um relatório recente do MP. É pela região oeste do Paraná que entram a cocaína, a maconha, o crack e as armas que alimentam o crime organizado dentro e fora do Brasil. Sim, é um negócio internacional, e o Paraná é um dos territórios mais importantes e, infelizmente, prósperos para a atuação do Comando Vermelho, do PCC e do Cartel do Sul nas rotas internacionais do tráfico de drogas e armas.

E por falar em rotas internacionais, saindo da região oeste do Paraná, encontramos o Comando Vermelho em Curitiba, com negócios de fornecimento de drogas em grandes favelas da capital. No Parolin, uma das maiores favelas da cidade, os negócios da facção fluminense acontecem em um território que tem um nome familiar ao crime carioca. Parte da droga que movimenta as biqueiras do Parolin é negociada na parte baixa da favela, conhecida como Cidade de Deus.

Leia também: Operação Tank: MPF descobre “Banco” do PCC em Curitiba

O Comando Vermelho também tem negócios na região do Alto Boqueirão, posição estratégica, afinal, os trens que seguem para o litoral passam por ali. O motivo é assunto para outro texto, mas as investigações da Polícia Federal estão bem adiantadas em relação a uma operação envolvendo a facção carioca e trens que vêm do oeste do estado em direção ao litoral.

Litoral é território cobiçado pelo Comando Vermelho

No litoral do estado, o Comando Vermelho aparece com força e atuação relevante. Protagoniza disputas sangrentas com o PCC pelo domínio do porto, chegando a formar aliança com a facção paranaense Cartel do Sul, do narcotraficante internacional Marcos Silas. A guerra tem motivo e cifras, bilhões de dólares com a exportação de cocaína para o continente europeu e parte do continente africano.

Em Guaratuba, também há atuação do Comando Vermelho, e por um motivo especial, a proximidade com o estado de Santa Catarina, onde a organização criminosa carioca disputa espaço nos portos de Itapoá, Itajaí e Navegantes. Logo, Guaratuba é um entreposto relevante, de muita importância para o Comando.

Em resumo, o Comando Vermelho já está no Paraná, e há muito tempo. Seus líderes circulam pelo estado, alguns estão aqui tocando as operações criminosas, operando guerras, formando alianças. Por isso, é importante essa preocupação “a mais” sobre a presença de líderes do Comando Vermelho no estado. Talvez as medidas preventivas e de inteligência consigam mirar os verdadeiros barões da droga e do crime na organização, e evitar que o Comando Vermelho faça do Paraná o que o PCC fez, um solo fértil para operar negócios lícitos e ilícitos, movimentando bilhões de dólares em operações criminosas internacionais a partir das fronteiras do estado.

Quer receber notícias no seu celular? Entre no canal do Whats do RIC.COM.BR. Clique aqui!

jornalista pedro neto posando para foto, de camisa preta e com o fundo branco
Pedro Neto

Colunista

Pedro Neto é curitibano, jornalista investigativo e especialista em gestão de crises. Com mais de 20 anos de estrada, acompanha de perto os bastidores dos casos criminais que mais repercutem no Paraná e no Brasil.

Pedro Neto é curitibano, jornalista investigativo e especialista em gestão de crises. Com mais de 20 anos de estrada, acompanha de perto os bastidores dos casos criminais que mais repercutem no Paraná e no Brasil.