A RIC Record TV Curitiba teve acesso à diversos depoimentos de testemunhas que foram ouvidas pela Polícia Civil no caso do assassinato de Ana Paula Campestrini, morta na última terça-feira (22), quando chegava no condomínio onde morava, no bairro Santa Cândida, em Curitiba. Os depoimentos trouxeram revelações que ajudaram a entender melhor o relacionamento entre a vítima e o ex-marido, Wagner Cardeal Oganauskas, suspeito de ser o mandante do crime.
Wagner e Marcos Antônio Ramon, suspeito de ser o atirador que executou Ana Paula, estão presos desde a última quinta-feira (24) e negam participação no crime. Wagner era presidente do clube Sociedade Morgenau, onde Marcos Antônio atuava como diretor financeiro.
Conforme as investigações da Polícia Civil, Ana Paula teria sido atraída para o clube para fazer uma carteirinha de sócia e poder acompanhar os filhos nas atividades que realizavam no local. Câmeras de segurança flagraram a mulher sendo seguida por um motociclista desde a saída do clube até o portão de casa, onde foi assassinada. A polícia acredita que Marcos Antônio recebeu R$ 38 mil para matar a ex-esposa de Wagner, com quem foi casado por 17 anos e brigava na Justiça pela partilha dos bens após o divórcio.
Até o momento, mais de 20 pessoas foram ouvidas nas investigações, entre elas funcionários do clube, os suspeitos de envolvimento no crime, familiares e amigos da vítima e os policiais que fizeram o atendimento no local da ocorrência.
Funcionário
Um dos funcionários do clube, que viu uma foto vermelha sem placas no galpão da sociedade recreativa, foi ouvido pela polícia e afirmou que, no momento em que viu o vídeo do assassinato, achou que o veículo era o mesmo que estava guardado no galpão. Ele não soube precisar, no entanto, as características do veículo.
Empregada
Uma mulher que trabalhava na residência de Wagner como empregada doméstica também foi interrogada como testemunha. Ela contou que as coisas começaram a ficar complicadas quando o suspeito levou outra mulher para morar com o casal, em uma espécie de relacionamento poligâmico.
Conforme o relato da empregada, foi nessa época que Ana Paula teria decidido se separar e sair de casa, afirmando que era homossexual. A outra mulher também teria ido embora da residência no mesmo período. Com relação à isso, a delegada Tathiana Guzella, da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) disse que há algo com esse contexto, mas que as investigações estão focadas após a separação de Wagner e Ana Paula.
A empregada ainda contou que Ana Paula foi impedida de ver os filhos, de 9, 11 e 17 anos por Wagner e que sempre tentava se reaproximar das crianças. “Os meninos já eram carentes porque a mãe não estava, ele [Wagner] não deixava ela [Ana Paula] ver as crianças, isso eu posso te afirmar, ela tentava [fazer as visitas], na Justiça”, disse a testemunha.
Wagner
Wagner Cardeal Oganauskas, suspeito de ser o mandante do assassinato da ex-esposa, mãe de seus três filhos, disse em depoimento que foi Ana Paula quem decidiu se separar, “do dia para a noite”, e sair de casa.
“A separação foi uma surpresa, foi uma coisa da noite para o dia que ela decidiu se separar. Primeiro ela falou que não queria mais o relacionamento e depois, para mim, ela falou que queria tentar uma outra vida, na linha de relacionamento homoafetivo. A saída dela de casa não teve briga além da discussão normal, mas ela escolheu sair de casa.”
Disse ele.
Além disso, Wagner demonstrou não aceitar bem o fato de Ana Paula ser homossexual, afirmando que isso iria contra tudo o que os filhos aprenderam durante a vida. “Ela percebeu que o estilo de vida que ela gostaria de levar seria contrário à tudo o que as crianças aprenderam na vida inteira deles, e ela queria curtir um pouco a vida, nas palavras dela, mas ela resolveu sair de casa e me deixou com as crianças lá”, disse o ex-marido.
Sobre as restrições que diversas testemunhas relataram que ele impunha sobre Ana Paula, dificultando o relacionamento dela com os três filhos, Wagner alegou que as visitas da mãe estavam “atrapalhando a rotina das crianças”.
“Nunca ouviram eu falando mal da mãe para eles […] ela sozinha se afastava dos filhos, até a psicóloga que tratava as crianças falava, que ela tinha uns momentos assim, a psicóloga conseguia fazer as crianças irem dormir na casa ela, daí ela fazia alguma coisa e as crianças ficavam mais dois meses sem querer falar com ela”.
Descreveu Wagner.
Com relação à disputa na Justiça pela divisão de bens após o divórcio, o suspeito argumentou que tentou, por diversas vezes, fazer acordos com a ex-esposa e o advogado, mas que nunca obteve sucesso: “essa questão patrimonial, eu tentei várias vezes chegar com propostas, tentar obter uma proposta de acordo da parte deles, até hoje não veio uma”.
Wagner é advogado tributarista, com patrimônio estimado em cerca de R$ 2 milhões, mas apesar de ter sido determinado pelo juiz o pagamento de uma pensão do ex-marido para Ana Paula, ela nunca chegou a receber o dinheiro mensal e nem mesmo parte do patrimônio adquirido durante os 17 anos em que permaneceu casada.