Casos de abuso sexual, violência e assédio motivaram mães com filhos em um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) de Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, a denunciarem docentes do local. Em reportagem exclusiva do portal RIC, essas mulheres detalham os crimes registrados contra as crianças de 3 a 6 anos. Por motivos de segurança, os nomes dessas pessoas foram alterados.

Isabella é mãe de Yuri, de seis anos, e conta que o filho foi vítima de abuso sexual e agressão física em pelo menos duas oportunidades nesse CMEI, localizado no bairro Guaraituba. O primeiro caso ocorreu em outubro de 2024 (veja mais em vídeo abaixo) e o menino, segundo a mãe, foi despido, além de ter as partes íntimas tocadas em frente aos demais alunos.
“A professora obrigou a criança a abaixas as calças na frente da turma. Ela pegou nas partes íntimas dele, puxou e deu um soco, além de jogar água no rosto dele”, relata Isabella.
Segundo a vítima, as demais crianças da sala riram durante as agressões sofridas por Yuri. A motivação da violência da docente teria sido uma briga entre o menino e outros alunos, na qual a criança teria mordido um colega.
Os pais de Yuri procuraram a direção do CMEI para trocar o menino de sala. Após semanas de insistência, conseguiram a transferência. Mas no dia 12 de agosto, a docente reencontrou a criança em um corredor da escola e jogou spray de pimenta no rosto da vítima.
Segundo Isabella, a direção da escola não afastou a profissional após a agressão e apenas recomendou a família de Yuri que a criança “não ficasse próximo a docente”.
Veja vídeo em que Yuri relata as agressões sofridas
Mães citam desassistência e até pedido de agressão feito a crianças em CMEI

Sara é mãe de João, de quatro anos, e relatou que os casos de desassistência às crianças do CMEI são frequentes.
“Meu filho por ser pequeno, não sabe se limpar sozinho. Um dia ele chegou em casa com a cueca toda suja, de cocô. Ele me disse que a professora não quis ajudar ele, mas ele nem sabe enrolar o papel na mão sozinho”, contou Sara.
A mulher ainda relata que durante a fila de uma refeição no CMEI, uma docente se irritou com uma das crianças e incitou o filho dela a agredir esse colega. “Dá um tapa nele para a profe”, teria dito a profissional, antes de se negar a servir a alimentação para o aluno.
Sara disse que o comportamento de João mudou nos dias seguintes dessa ocorrência. “Ele começou a ficar mais quietinho em casa, ele começou a vir com os machucados. Quando eu perguntava o que tinha acontecido, o olhinho dele enchia de água, e ele não queria falar”, complementou.
A mulher ainda questiona a falta de retorno da coordenação e direção da escola sobre os questionamentos dos pais. Sara relata que chegou a esperar mais de uma semana para uma reunião após o caso da incitação a agressão contra um colega.
“Nunca vem resposta, só um carimbo, nenhum feedback do que aconteceu com a criança. Eu sinto que as crianças são muito negligenciadas. A grande maioria pelo que eu vejo é sempre a mesma coisa. Criança que negam de dar água e comida”, finalizou.
Taís também é mãe de um aluno desse CMEI em Colombo. Gabriel tem cinco anos e denunciou uma docente da escola por casos de assédio e agressão.
Na primeira ocorrência, em junho, a criança teria pedido ajuda a uma docente após não encontrar um lugar para sentar durante o almoço. Segundo a denúncia, a profissional mandou o menino “calar a boca” e deu um forte puxão no braço de Gabriel.
Já no dia 19 de agosto, Gabriel estava na sala de aula e disse que a professora o acertou com uma mesa. Após relatar o ocorrido, a docente negou a acusação e constrangeu o menino na frente dos demais alunos. Além disso, segundo Taís, a mulher tirou a camisa da criança para ver uma possível marca, sem pedir qualquer autorização aos pais.
“Levaram meu filho de cinco anos para a diretoria, só ele e a diretora, e não me passaram nada. Não tem nada na agenda, não tem nada no Whatsapp. Isso é coagir, é manipular a criança. Eu tive que saber pelo meu filho de cinco anos, porque elas não me passaram nada. A gente deixa nosso filho na escola para poder trabalhar e acaba chegando para pegar a criança e escuta uma bomba dessas”, finaliza Taís.
Secretaria da Educação de Colombo cita investigação dos casos e suporte às mães
A reportagem procurou a Secretaria Municipal de Educação de Colombo sobre as denúncias feitas pelas três mães de casos de abusos sexuais, assédio e agressões contra alunos. O órgão se manifestou via nota (ver na íntegra abaixo), em que cita estar investigando as ocorrências e que prestou suporte às pessoas que procuraram a instituição.
A Prefeitura de Colombo, por meio da Secretaria Municipal de Educação, informa que, desde que tomou conhecimento da situação envolvendo uma criança atendida em um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) da rede pública, fato que recentemente ganhou repercussão nas mídias sociais, adotou de forma imediata todas as providências cabíveis no âmbito de sua responsabilidade institucional.
A Secretaria está conduzindo uma investigação criteriosa, com base nos princípios da legalidade, imparcialidade e ampla defesa, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) e o Estatuto dos Servidores Públicos Municipais. Informamos que, de forma preventiva, a educadora envolvida foi afastada deste CMEI.
O CMEI em questão foi prontamente contatado, e sua equipe gestora tem colaborado integralmente com o processo de apuração. No dia 30 de julho (quarta-feira), a mãe da criança compareceu à Secretaria, acompanhada de seu advogado, sendo acolhida com respeito e escutada com atenção, tendo a oportunidade de relatar detalhadamente os fatos que envolvem seu filho.
Até o momento, não recebemos formalização de novas denúncias. Reforçamos ainda que todos os pais que procuram a Secretaria com demandas ou atendimentos relacionados ao tema são prontamente acolhidos, e as medidas necessárias são tomadas em cada caso.
Destacamos que, caso a apuração dos fatos comprove conduta incompatível por parte de servidor público, todas as medidas legais serão adotadas.
Duas das mães citadas na reportagem prestaram boletins de ocorrência na Polícia Civil do Paraná (PCPR). Procurada, a Polícia também se posicionou por nota com a seguinte declaração: “A PCPR segue apurando a denúncia. Diversas testemunhas foram ouvidas e a equipe policial também procedeu com análise de documentações. A investigação segue em andamento a fim de concluir o inquérito policial”.
Uma das mães também procurou a Vara da Infância e Juventude de Colombo, ligada ao Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), mas até o fechamento dessa matéria o caso não havia avançado na instituição. Procurada pela reportagem, a autarquia não respondeu os questionamentos.
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