Curitiba - Jean Machado Ribas, o marido acusado de manter a esposa em cárcere por cinco anos, foi preso nesta quinta-feira (27), um dia após ser solto. A decisão segue medida cautelar impetrada pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) contra a Vara Criminal de Rio Branco do Sul, que havia liberado o réu a recorrer da sentença em liberdade.

O réu recebeu uma pena de 6 anos e 22 dias de reclusão e 1 ano e 12 dias pelos crimes de cárcere privado, lesão corporal, dano emocional, ameaça e descumprimento de medidas protetivas da Lei Maria da Penha.
O Ministério Público apontou que a prisão preventiva do réu auxilia a manter a “proteção da vítima e garante a aplicação nda lei penal”.
Ainda foi solicitado pelo Ministério Público que o crime de descumprimento de medidas protetivas tenha a dosimetria da pena aumentada de três meses para, no mínimo, dois anos.
“Com a reformulação da dosimetria da pena que se espera, haverá um incremento significativo da pena final, que deverá ultrapassar dez anos, e o regime para início do cumprimento da reprimenda será o fechado, estando presentes, ainda, os requisitos que ensejaram a decretação da prisão preventiva”, diz o Ministério Público do Paraná.
Marido chegou a mudar depoimento e negou crimes contra esposa

Após ser preso pela, primeira vez, Polícia Civil do Paraná (PCPR) no dia 16 de abril, Jean mudou o depoimento e negou que tenha mantido a esposa em cárcere privado.
Em entrevista aos repórteres Antônio Nascimento e Juliana Henzch da Banda B, o advogado do réu, Amauri Jhonsson, Jean teria se confundido no primeiro depoimento.
“Quando ele (Jean) foi ouvido pela primeira vez, quando preso em flagrante, não foi tão bem no depoimento por, talvez, estar acompanhado de alguém que não conhecia e não tinha confiança. Mas ele não reconhece nem de longe o cárcere privado, violência física, emocional e psicológica. O que ele diz é que havia entre os dois ciúmes excessivo e que ela se tratava de problemas psíquicos, o qual ele relevava e entendia a situação. Nunca chegou a bater nela, nem a amarrar”, explicou Johnson.
Esposa denunciou abusos por bilhete deixado em posto de gasolina

A esposa, que era vítima de violência doméstica e cárcere privado em Itaperuçu, Região Metropolitana de Curitiba, tentou ser resgatada pela primeira vez ao deixar um bilhete com pedido de socorro em um posto de gasolina do município.
“Me ajude moro no município de Itaperuçu. Sofro muita violência em casa”, disse a mulher no bilhete.
Segundo o aspirante a Oficial da Polícia Militar do Paraná (PMPR) Alexandretti, policiais fizeram diligências na zona rural de Itaperuçu após encontrarem o bilhete, mas não encontraram a mulher ou o marido na residência.
Mas a mulher conseguiu encaminhar um e-mail para a Casa da Mulher Brasileira no dia 14 de março e os policiais conseguiram prender o marido e resgatar a mulher.
A mulher relatou que o marido era acobertado por familiares, que eram coniventes com as agressões e o cárcere privado realizado nos últimos cinco anos. Em diversas ocasiões, a vítima disse ter sido amarrada, amordaçada e estrangulada.
Além disso, o marido utilizava uma câmera de segurança, presa em um poste de energia e voltada para a entrada da casa para monitorar a esposa.
A mulher também não era autorizada a ver ninguém, nem mesmo familiares, sem o aval ou a presença do marido.
A vítima também não tinha direito a ter um celular próprio, tendo que dividir o mesmo aparelho com o marido. Sendo que foi desse smartphone que ela conseguiu fazer a denúncia à Casa da Mulher.
Vítima gravou abusos cometidos pelo suspeito

Áudios gravados pela esposa mantida em cárcere privado por cinco anos pelo marido mostraram diversas ameaças cometidas pelo homem neste período.
Os áudios foram obtidos pela Banda B. Confira abaixo algumas das ameaças feitas pelo marido a esposa.
- Marido: “Se eu souber alguma coisa de você, eu te mato na mesma hora. Pode ser hoje, amanhã, um ano, não interessa”;
- Esposa: “Se eu morrer e você ver que não fiz nada? Você falou ‘aquele dia quase te matei’, e eu nem fiz nada pra você”;
- Marido: “A hora que eu te matar, é quase certeza que eu me mato também”;
- Esposa: “E o filho?”;
- Marido: “O filho fica com a mãe”;
- Marido: “Se você não fez, você não morre. Se eu nunca descobrir nada, você não morre”;
- Esposa: “Aquele dia eu não fiz nada pra você e você quase me matou […]. Toda vez você me bate, se eu tivesse escondendo as coisas eu tinha falado porque eu sei que eu tenho medo”;
- Marido: “É que eu nunca peguei pra te matar de verdade, né”;
- Esposa: “Matar de verdade? Se aquele dia eu pensei que eu ia morrer?”;
- Marido: “Eu não quero matar ninguém, não quero ser nenhum matador, não quero matar nada de ser humano. Não é minha vontade matar. Eu sei que eu não quero. Só que alguma coisa tua se eu descobrir, não penso nem meia vez e já te mato”;
- Esposa: “O que mais dói em mim, é você me bater, Jean. Você me bate como se eu fosse um homem. Você me bate de verdade. Se fosse um tapa… mas você me afoga, você me dá soco, você tampa a minha respiração, você sobe em cima de mim, você puxa o meu cabelo”;
- Esposa: Não foi, um inferno, Jean. Aquilo lá nunca mais sai da minha cabeça. É olhar para tua cara e eu lembro de você me socando em cima do sofá. Eu não aguento mais entrar aqui, olhar no sofá e lembrar aquele dia que você me sufocou naquele sofá ali e o filho olhando para minha cara. Desde aquela vez que você me deixou com o rosto doendo. Você me deu um murro na cara, coisa que eu nem estava fazendo, e você me deu um murro na cara.
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