O maringaense Tiago Rossi completa 29 anos nesta segunda-feira (7). Na terça (8), ele troca o bolo de aniversário por um fuzil. Os parabéns serão substituídos por explosões. Tiago viaja para Ucrânia como voluntário de guerra.

Os desejos de saúde e paz de amigos e familiares, comuns nesta data, nunca foram tão sinceros. “Estou com medo”, diz ele, enfático, um dia antes do embarque. Tiago irá integrar a Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia, uma unidade militar formada por estrangeiros que queiram combater os russos no país.

“Vou atuar como ‘sniper’, que é minha especialidade. Terei outro brasileiro, um militar, que será meu ‘olheiro’, que é quem ajuda o atirador a calcular a distância do alvo, velocidade e direção do vento, entre outras coisas. Vou fazer parte de uma unidade formada por 10 pessoas, de 5 nacionalidades diferentes. Todos militares. Eu serei o único civil“, afirma.

Sobrevivente

Tiago é um sobrevivente. Ele recebeu uma descarga elétrica enquanto lavava a calçada, em 2018, proveniente de uma máquina lavadora de alta pressão. Um acidente doméstico que ocasionou diversas paradas cardiorrespiratórias, o deixou 5 dias em coma e 10 dias na UTI. Tiago afirma ter sequelas do acidente até hoje.

Empresário e investidor, ele afirma que sempre foi apaixonado pelo mundo das armas. Filho de policial militar da reserva, Tiago se tornou instrutor de tiro em 2020. No entanto, é a primeira vez que ele irá trocar os alvos artificiais. “Nada se compara a uma guerra. Estarei enfrentando pessoas reais. Mas tenho uma missão e terei que cumpri-la”, ressalta ele.

Jovem de 29 anos é instrutor de tiro desde 2020 | Foto: Arquivo pessoal

Mas qual a motivação do jovem maringaense, que não tem parentes, amigos ou descendência ucraniana? “Decidi ir para lá porque quero ajudar a defender o povo ucraniano. Tem pessoas comuns lá, que estão tendo que pegar em armas e ir para a linha de frente para defender o seu povo e a sua terra, sem qualquer preparação, por conta de uma invasão repentina. Quem está morrendo nesta guerra são estes civis. Não penso se o Putin está certo ou errado. Não é por isso que quero lutar. É porque aquelas pessoas precisam de ajuda”, explica Tiago.

Longa viagem

O avião de Tiago sai do aeroporto de Guarulhos (SP), mas o destino final não pode ser divulgado por questões de segurança. Como o espaço aéreo ucraniano está comprometido, ele deve provavelmente desembarcar em algum país vizinho e realizar a entrada na Ucrânia por terra.

Mas o início desta saga começou bem antes. “Há um mês atrás, eu conversava com amigos de outros países que também são atiradores sobre a chance de haver uma invasão russa e acabamos falando sobre a possibilidade de lutarmos em defesa dos ucranianos. Quando houve de fato a invasão, eles foram. Alguns dias depois, a embaixada ucraniana entrou em contato comigo. Eles tinham minha ficha, sabiam que eu era treinado. Pensei em recusar o chamado, mas conversei com amigos que estão lá na Ucrânia e entendi a organização de combate que tem sido feita por eles. Além disso, pelo fato de eu ter sido chamado justamente para o posto que sou especialista, resolvi aceitar“, disse.

Prestes a embarcar, ele se mostra decidido. “A partir do momento em que aceitei o chamado, nunca me passou pela cabeça desistir. O clima na minha família é de velório, mas penso que estarei ajudando inúmeras famílias ucranianas. Sei que é muito perigoso, mas sinto que é uma maneira de ajudar pessoas que estão sofrendo”, destaca.

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7 mar 2022, às 12h29. Atualizado às 12h56.
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