
Mais de 600 mil Rohingyas fugiram da violência extrema e perseguição em Mianmar, cruzando a fronteira para Bangladesh, desde 25 de agosto
* Do R7
Mais de 600 mil Rohingyas fugiram da violência extrema e perseguição em Mianmar, cruzando a fronteira para Bangladesh, desde 25 de agosto. Rohingyas formam uma etnia muçulmana não reconhecida em Mianmar, apesar de viver lá. O total dessa população em Bangladesh chega a quase 1 milhão de refugiados.
“Passaram por estupros e assassinatos da família em Mianmar. São pessoas que têm sido massacradas a tempos e o país não as reconhece, então, não têm cidadania. Agora, estão em uma situação muito precária e sujeitas a epidemias no acampamento de refugiados”, relata Ana Lemos, diretora de comunicação da organização Médicos sem Fronteiras (MSF) no Brasil.
Horrores da guerra
As vítimas que chegam a Bangladesh revelam horrores aos profissionais dos MSF. Elas vêm de vilarejos incendiados e chegam com ferimentos de bala e machados, queimaduras graves provocadas por explosivos. A mulheres ainda revelam histórias horríveis de violência sexual e massacre de bebês.
“Famílias inteiras agora vivem em cabanas de plástico, nos terrenos inundados por lama. Temos que impedir um desastre de saúde pública. Centenas de milhares de pessoas continuam presas em Mianmar, vivendo esse terror e isoladas da ajuda humanitária”, completa a presidente internacional de MSF, Joanne Liu, em apelo na conferência de doadores em Genebra, na Suíça.
Organizações expulsas
Ana Lemos revelou ao R7 que a MSF e outras organizações internacionais foram expulsas das áreas de conflito em Mianmar, o que piora muito a situação, pois o atendimento em peso ficou em Bangladesh.
A organização aumentou de 200 para 3 mil profissionais para ajudar os refugiados. Estão construindo latrinas garantir o mínimo de ajuda sanitária e também novas clínicas. Mas, mesmo assim, não é suficiente.
A fuga de Mianmar a Bangladesh acontece pela proximidade dos dos países e da área de conflito. Por enquanto, as fronteiras estão abertas aos refugiados.
Violência extrema
Depoimentos ao MSF de recém-chegados ao centro médico em Bangladesh revelam detalhes do massacre. Uma mulher de 25 anos contou aos médicos como aconteceram seus ferimentos no ventre e no pescoço.
“Militares nos atacaram em 30 de agosto, eram mais de 150. Começaram a matar os homens na nossa frente e os queimaram. Levaram mulheres para dentro das casas e feridam com machados. Um me esfaqueou perto da vagina. Outro, em minha garganta. Eu segurava meu bebê de 28 dias no meu colo. Atingiram a cabeça do meu bebê com algo pesado e ele morreu. Vi quando seu crânio se abriu e seu cérebro saiu. Consegui chegar aqui, mas não sei para onde vou depois que receber alta. Não tenho nada”
A situação com os refugiados que chegaram a Bangladesh beira o caos. “Adultos que morrem de desidratação por causa de um caso simples de diarreia”, completa a presidente da MSF, Joanne Liu, em comunicado.
Ela revela a magnitude do problema que esse povo enfrenta, mesmo após a fuga do horror.” A vulnerabilidade em que vivem as pessoas é chocante. Famílias inteiras sob cabanas não têm acesso a água limpa, latrinas, alimentos ou cuidados de saúde”.
Horror e comoção
Outro depoimento de uma paciente conta como uma refugiada conseguiu chegar a Bangladesh com um bebê morto no colo.
“Militares levaram grupos de mulheres para as casas e as esfaquearam. Um soldado me esfaqueou na garganta e no queixo. Entrei na floresta, onde encontrei quatro mulheres que sangravam. Depois de três dias de caminhada, entramos em um barco para Bangladesh. Perdi meus seis filhos, um com três meses de idade. Quando fugi, levei um bebê. Depois, percebi que não era meu, era outro, morto. A barriga tinha sido cortada”.
Depoimentos dessa mulher que perdeu os filhos e atravessou a fronteira sangrando são anotados pelos profissionais da MSF. Mas Cindy Scott, profissional de saúde mental da organização, conta que as pessoas chegam muito traumatizadas, e algumas, simplesmente não conseguem falar, tamanho o horror.
ONU
Devido ao grande número de refugiados que entrou no país, Bangladesh declarou a situação como “insustentável” em visita à Organização das Nações Unidas (ONU) nesta segunda (23), em relato da Reuters.
Mas o MSF implora ao governo que deixe suas fronteiras abertas, e, à comunidade internacional, que mande ajuda urgente para evitar que o caos se instale de vez. “Desde os anos 90 não vemos nada parecido, precisamos de ajuda”, reforça Ana.
Lui completa que ainda “centenas de milhares de pessoas” continuam presas em Mianmar, no meio do terror e sem ajuda humanitária, uma vez que as organizações internacionais foram impedidas de atuar na área de conflito do país.
Nesta segunda (23), A ONU pediu 434 milhões de dólares para ajudar 1,2 milhão de pessoas por seis meses. Mas Ana Lemos lembra que o cumprimento da entrega do dinheiro depende dos países honrarem com a doação.
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