
A operação deflagrada nesta quarta-feira prendeu 27 investigados por desvios milionários de verbas da UFPR destinadas à pesquisa e bolsas de estudo
A Operação Research – missão integrada da Polícia Federal, Procuradoria da República e Tribunal de Contas da União – identificou “fraudes grosseiras” na Universidade Federal do Paraná – como o caso de um cozinheiro de pizzaria que recebeu pouco mais de R$ 318 mil entre 2013 e 2016 e um motorista de furgão que levou mais de R$ 515 mil no mesmo período – ambos sem nenhum vínculo com a instituição.
Para o delegado Igor Romário de Paula, da PF no Paraná, se houvesse “um mínimo de controles internos” na UFPR seria possível impedir “fraudes grosseiras”.
A Operação Research foi deflagrada nesta quarta-feira (15) e prendeu 27 investigados por desvios milionários de verbas da UFPR destinadas à pesquisa e bolsas de estudo.
Ao autorizar a Research, o juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14 ª Vara Federal no Paraná, apontou para “essa vergonhosa fraude milionária, com desvios descarados de dinheiro público destinado à pesquisa acadêmica de alto nível”. Ele destacou que “ao longo de, pelo menos, três anos, duas servidoras da UFPR atuaram direta e materialmente para autorizar pagamentos mensais a um grupo de, no mínimo, 27 pessoas que jamais tiveram qualquer vínculo com a Universidade”.
Os auditores do Tribunal de Contas da União – que atuam na 2ª Diretoria da Secretaria de Controle Externo do órgão no Paraná – alertaram que “nenhum dos referidos beneficiários possui vínculo com qualquer universidade federal de ensino, tampouco são servidores públicos na esfera federal”.
“De forma ainda mais agravante, constatou-se que os beneficiários, em sua maioria, não possuem curso superior e exercem profissões tais como cabeleireiro, motorista, cozinheiro etc. e alguns deles ainda possuem cadastro em Programas Sociais do MDS (Ministério do Desenvolvimento Social), figurando como beneficiários de programas sociais”, assinala relatório do TCU.
Paulo Allan Rolland Bogado, que ganhou R$ 357.550, mora em Curitiba e é sobrinho dos também beneficiários Carlos Alberto Galli Bogado (R$ 323.025, residente em Antonina/PR) e Marco Ronald Rolland (R$ 81.000, tio de Paulo).
“Tem coisa bem pior aqui”, disse um auditor do TCU que participa da Operação Research. “Um é assistente administrativo, outro recebe aposentadoria por invalidez, recebeu R$ 739 mil.”
O auditor relata que foi ao gabinete da ministra Ana Arraes, do TCU. “Quando estive no gabinete da ministra Ana Arraes, em novembro, ela perguntou: ‘tem certeza? não tem nenhuma confusão?”
Os levantamentos junto à Diretoria de Pesquisa e Pós-graduação mostram que os prejuízos podem alcançar R$ 90 milhões no período entre 2013 e 2016.
Os investigados deverão ser indiciados por crime de peculato (desvio de recursos públicos) e associação criminosa.
Confira o que diz a Universidade Federal do Paraná.
“Diante da operação deflagrada nesta quarta-feira pela Polícia Federal, a Universidade Federal do Paranáinforma:
- As suspeitas de irregularidades no pagamento de bolsas e auxílios são objeto de investigações internas na UFPR desde dezembro de 2016, quando a própria universidade também tomou a iniciativa de encaminhar o caso à Polícia Federal, para investigação criminal.
- Assim que tomou conhecimento da suspeita de desvios de verba pública, em dezembro de 2016, a administração anterior da Reitoria determinou a abertura de sindicância para apurar responsabilidades. O procedimento é conduzido por uma comissão formada por dois professores e uma servidora técnico-administrativa e, por força de lei, corre em sigilo. O prazo para conclusão do trabalho é de 60 dias, prorrogáveis por mais 60. A previsão de término dos trabalhos é meados de abril de 2017.
- Por determinação do atual reitor, Ricardo Marcelo Fonseca, as duas servidoras suspeitas de envolvimento no caso foram suspensas do exercício de suas atividades funcionais, nos termos da Lei 8112/90.
- O reitor Ricardo Marcelo Fonseca também determinou a criação do Comitê de Governança de Bolsas e Auxílios, visando aperfeiçoar os mecanismos de controle sobre esse tipo de pagamento. Também está criada, por meio de portaria, uma comissão para trabalhar no Plano de Transparência e de Dados Abertos da Universidade, instrumento para garantir que a sociedade tenha acesso a todas as informações de caráter público.
- A Universidade Federal do Paraná tomou todas as providências cabíveis para esclarecer os fatos e responsabilizar os eventuais envolvidos. Com o resultado da investigação, a UFPR solicitará a restituição dos valores ao erário.
- A gestão do reitor Ricardo Marcelo Fonseca reafirma seu compromisso com a transparência e a ética. Reforça ainda que condena veementemente qualquer prática ilícita e que continuará colaborando com as investigações, tanto no âmbito do Tribunal de Contas da União quanto da Polícia Federal.”