
Reportagem do Balanço Geral mostrou vários casos recentes de acidentes com armas de fogo entre policiais civis e militares no Paraná
A policial militar Nayhara Cordeiro Cardoso foi atingida por um tiro acidental que saiu da própria. Ela estava saindo da viatura quando a arma, uma pistola Taurus, caiu no chão e, mesmo com a trava de segurança acionada, disparou.
“Eu só pensava que eu não podia morrer ali, com um tiro dado pela minha própria arma”, lembra a policial.
Nayara ficou 18 dias internada na Unidade de Terapia Intensiva em estado grave. Hoje, com metade de um pulmão comprometido, Nayara ainda tem o projetil alojado em seu corpo.
Uma perícia realizada na pistola utilizada pela policial apontou defeito de fabricação no armamento. O advogado de Nayhara, Paulo Ferraz, entrou na justiça contra a Taurus, e a empresa deve arcar com todos os custos do tratamento médico da policial em decorrência do acidente.
A reportagem do Balanço Geral Curitiba mostrou ainda o caso de um investigador da Polícia Civil, que pediu para não ser identificado, que sofreu um acidente com uma pistola Taurus particular.
O policial estava em casa e teve a mão atingida por um tiro quando a arma caiu no chão. A trava de segurança da pistola também estava acionada.
O delegado Guilherme Rangel explicou que a Polícia Civil instaurou inquérito policial para apurar a responsabilidade da empresa no caso do investigador que ficou com uma sequela na mão. “O inquérito está investigando a ocorrência de dois crimes: indução do consumidor a erro, considerando que o policial comprou uma arma e espera que ela traga segurança para si e para sua família, e também lesão corporal”, disse Rangel.
A página “Vítimas da Taurus” no Facebook compartilha histórias de pessoas feridas por disparos acidentais e também imagens de testes feitos com pistolas da marca Taurus por todo o país. Os vídeos, que foram reproduzidos na reportagem do Balanço Geral Curitiba (veja abaixo), mostram as armas disparando sozinhas, sem a manipulação do gatilho.
Outro lado
A Forjas Taurus é a maior fabricante de armas no país e abastece as polícias em todo o território nacional. Em nota, a empresa disse que a empresa está sob nova gestão desde 2015 e que iniciou um programa gratuito de revisão e manutenção para todas as forças de segurança do país.
A empresa também afirma que “todas as perícias realizadas até hoje dentro das normas aplicáveis comprovam que não há defeito ou falha no projeto ou nos mecanismos de segurança e funcionamento dos produtos”.
O Exercito Brasileiro, responsável pelo controle de armas no Brasil, também se manifestou sobre a reportagem. Questionado sobre um possível “monopólio” da Taurus no fornecimento de armas para as forças policiais, o Exército disse que “pauta sua atividade de acordo com a legislação em vigor” e que “não mantém a Taurus como principal fornecedora de armas aos policiais, uma vez que não tem atribuição legal para isso”.
Nota da Taurus
“Desde que assumiu o controle da companhia, em meados de 2015, a nova gestão da Taurus iniciou um programa gratuito de revisão e manutenção, oferecido a todas as forças de segurança do País, inclusive à Polícia Civil do Paraná. A iniciativa tem como objetivo ajudar a sanar quaisquer problemas decorrentes de manutenção pouco frequente ou inadequada e ajudar a evitar acidentes.
Todas as perícias realizadas até hoje dentro das normas aplicáveis comprovam que não há defeito ou falha no projeto ou nos mecanismos de segurança e funcionamento dos produtos Taurus. Ainda assim, a companhia abriu diálogo com grupos que representam pessoas afetadas por acidentes com armas de fogo para apoia-las no que for possível. A Taurus continua aberta ao diálogo”.
Assista à reportagem especial do Balanço Geral Curitiba, dividida em duas partes:
Parte 1:
Parte 2:
Nota do Exército Brasileiro
Na inspeção realizada na fábrica da Taurus, foi verificado que a empresa, até passado recente, tinha deficiências no controle de qualidade da fabricação de produtos em escala industrial. Diante da análise técnica do PROTÓTIPO, não foi constatada, entretanto, a ocorrência de erros no projeto originário nem na avaliação realizada pelo Centro de Avaliação do Exército.
Após análise sumária, decidiu-se pela adoção das seguintes medidas acautelatórias:
– Apreender as pistolas modelo 24/7 .40 S&W existentes na linha de produção da empresa FORJAS TAURUS S/A ou em estoque, até que o Processo Administrativo Sancionador (PAS) a que responderá a empresa tenha solução;
– Determinar a suspensão da fabricação dos referidos armamentos até que seja comprovado que a empresa solucionou os problemas de qualidade apresentados pelos produtos;
– Proibir a sua comercialização até ulterior decisão do PAS;
– Excluir da apostila do Título de Registro da empresa os Relatórios Técnicos Experimentais (ReTEx) referentes às Pistolas Taurus modelo 24/7, calibre .40, ficando sua reinclusão condicionada a nova avaliação técnica;
– Reiterar as recomendações anteriormente enviadas à empresa, tendo em vista as ocorrências relatadas e objetivando prestar maior assistência a todos os adquirentes – pessoas físicas ou jurídicas – de quaisquer armas de fogo fabricadas pela FORJAS TAURUS S/A, para que proceda, em caráter de urgência, a implementação e a ampla divulgação dos seguintes procedimentos, destinados a todos os modelos de armas fabricadas e comercializadas pela empresa:
- Orientações, em mídias e no site da empresa, quanto à necessidade de manutenção preventiva periódica, bem como quanto aos procedimentos para sua realização;
- Inclusão de planos de manutenção periódica, em assistência técnica própria ou credenciada pela empresa, nos manuais de instruções das armas, em linguagem de fácil compreensão, que demonstre a necessidade de manutenir adequadamente o armamento, inclusive com orientação sobre necessidade de troca, se for o caso, de peças após algum período de tempo ou quantidade de tiros; e
- Extensão dos recalls disponibilizados aos produtos adquiridos pelos Órgãos de Segurança Pública, a todos os demais adquirentes, com o objetivo de proteger e preservar a vida, saúde, integridade e segurança destes, bem como de evitar ou minimizar quaisquer espécies de prejuízos, quer de ordem material, quer de ordem moral.
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