Cascavel - Uma vítima dos abusos sexuais cometidos por um padre em Cascavel, no Oeste do Paraná, relatou em entrevista a repórter Rafaela Schuinka da RICtv Oeste o caso, ocorrido em 2010. Na época, ambos eram seminaristas.

Padre suspeito de abusar adolescentes no Paraná é preso pela Polícia Civil
Testemunhas apontaram comportamento abusivo do padre desde 2010. (Foto: Reprodução/RICtv)

“Sempre dividíamos quarto. Porém, em uma noite, ele por três vezes, estava por cima de mim, em todas eu o retirei, ele estava com as mãos em minhas genitais. Daí na quarta vez eu pedi que ele se retirasse, se não teríamos outro tipo de problema. Eu fiquei bem alterado, fiquei dias sem falar com ele”, relatou a vítima.

A vítima ainda contou que buscou denunciar o então colega seminarista ao arcebispo de Cascavel à época, Dom Mauro Aparecido dos Santos. Mas o religioso não tomou medidas e o caso não ganhou publicidade.

“Quando ele veio para Cascavel, ele não era ordenado, creio que por essa situação. Não sei se tinha mais alguma outra. O referido bispo (Dom Mauro), ele nos deixava com sentimento de culpa, desencorajava as denúncias, dizia que era a minha palavra contra a dele, que não sabia se ia adiantar muito. Ele trouxe esse seminarista junto dele para Cascavel e encarávamos ele (padre) como um protegido dele”, complementou.

Investigação da Polícia Civil do Paraná (PCPR) apontou que o arcebispo acobertou outros casos de abusos sexuais cometidos pelo padre em Cascavel. Dom Mauro faleceu em 2021 e também é suspeito de ter cometido crimes desse tipo.

Um desses abusos foi relatado à Polícia Civil por um homem que foi seminarista e morou com o arcebispo. A vítima não teve a identidade revelada, mas a RICtv Oeste teve acesso ao depoimento dele.

“Não tenho provas dos atos cometidos com ele, mas toda vez que íamos assistir uma TV, algo em grupo, ele pedia para deitar no colo de algum dos meninos e começava a acariciar (as vítimas)”, disse o homem em depoimento.

Testemunhas ouvidas pela Polícia Civil relataram que desde 2010, o padre investigado por abusar três adolescentes tinha um comportamento abusivo, quando ainda era seminarista. Mas devido a proximidade com o arcebispo ele continuou nas funções.

Em vídeo encaminhado à imprensa, o atual arcebispo de Cascavel, Dom José Mário, detalhou os processos feitos pela Cúria Metropolitana desde a descoberta das denúncias de abuso sexual contra o padre, embora não tenha mencionado as suspeitas contra o antecessor.

“Assim que uma denúncia chegou a mesa do bispo, se tornou oficial, e rapidamente demos os encaminhamentos. Suspendemos o padre, como recomenda o direito canônico, e também abrimos uma investigação. Rapidamente, esse processo já está em andamento, temos o prazo de 90 dias da diocese e depois encaminhamos para a congregação da doutrina da fé ou clero, no Vaticano, onde eles farão o julgamento. E se de fato for confirmado que houve pedofilia a decisão de Roma tem sido clara: é demissão do estado clerical; ele deixará de ser padre”, apontou.

Padre oferecia bebidas a vítimas e tentou coagir adolescentes

Cúria de Cascavel
Arcebispo teria “passado pano” para denúncias contra padre, aponta Polícia Civil. (Foto: Reprodução/RICtv)

O padre foi preso preventivamente na última sexta-feira (22), após a Polícia Civil avaliar que ele estava obstruindo as investigações. Isso porque o clérigo estava tentando contato com as vítimas dos abusos sexuais para coagir as vítimas.

Ao todo, a Polícia Civil ouviu 11 pessoas nesse processo, incluindo as seis vítimas identificadas. Esses adolescentes apresentam o mesmo perfil: vêm de famílias carentes, eram participantes de projetos da Igreja e que teriam sido atraídos pelo eclesiástico por dinheiro e presentes.

“Esse padre em uma igreja aqui de Cascavel, tinha os acólitos, e ele oferecia bebidas alcoólicas para esses adolescentes e crianças (tinham menores de 14 anos), ele dava presentes, dinheiro, essas crianças e adolescentes até pernoitavam na casa do padre, inclusive, na cama do padre”, explica a delegada da Polícia Civil Thais Zanatta.

As investigações da Polícia Civil ainda mostraram que o padre teria oferecido bebidas alcoólicas para diversos jovens da paróquia. As apurações continuam e diversos dispositivos eletrônico do padre foram apreendidos, no objetivo de encontrar possíveis novas vítimas dos abusos sexuais.

Defesa do padre nega os abusos e pede soltura do religioso

Em pronunciamento encaminhado à imprensa, a defesa do padre negou as acusações e aponta que tem buscado a renovação da prisão do religioso. Confira abaixo a nota na íntegra:

Diante do noticiado recentemente, a defesa do Padre vem a público expor algumas considerações que entende importantes, seja à população Cascavelense, independentemente de religião, e aos meios de comunicação.

No dia 14 de agosto de 2025 o Padre foi intimado pela Diocese de Cascavel do seu afastamento, decorrente de suposta investigação por crime sexual, inclusive com determinação para deixar a cidade e “internar-se” em Fazenda localizada noutro Estado da Federação, com a justificativa de receber tratamento.

De pronto, o religioso contatou com o subscritor e na sexta-feira seguinte (15) houve conversa a respeito do fato, até enquanto totalmente desconhecido. Na segunda-feira, já munido de procuração, na sede do NUCRIA foi feito pedido de habilitação, de modo que pudéssemos tomar conhecimento do que até então produzido na investigação, deixando consignado, ali, a intenção de total colaboração com a investigação.

Apenas em 21 de agosto, quinta-feira, fomos habilitados no inquérito, e desde o início deixamos consignado, repita-se, que ele está à inteira disposição da Polícia investigativa e do Poder Judiciário, tanto que se negou a sair da cidade.

Para a surpresa da defesa, no domingo pela manhã (24), foi contatada com a informação do cumprimento de mandados de prisão temporária e de buscas e apreensões.

A respeito dos fatos, ainda em fase embrionária, de investigação, constituída essencialmente em depoimentos orais, a defesa manifesta que irá se pronunciar no processo, acompanha a investigação com o intuito de colaboração total, de modo que se busque a verdade real dos fatos, e não aquela exteriorizada pela digna autoridade policial em entrevista nos meios de comunicação.

Todos os aparelhos eletrônicos foram apreendidos e serão periciados, e deste relatório muito da verdade aparecerá, de que nada será encontrado, que denigra ou aponte o religioso como criminoso e/ou doente, como algumas pessoas estão catalogando nas redes sociais.

Neste momento, deve haver respeito ao princípio previsto na Constituição da República Federativa do Brasil, da presunção de inocência, de que ninguém é considerado culpado até que exista uma decisão judicial transitada em julgado, ou seja, aquela que não cabe mais recurso algum.

A defesa confia nas Instituições devidamente constituídas, na seriedade, da Polícia Civil, do Ministério Público e do Poder Judiciário, enaltecendo que todas as manifestações oportunas e técnicas serão exclusivamente dentro do processo, esperando que os demais responsáveis pela condução dele também assim o façam.

Trata de questão sensível a todos, um ser humano até então investido do sacerdócio, que há 12 (doze) anos o desenvolve com retidão, às questões dos menos favorecidos, moradores de rua, dependentes químicos, vulneráveis, mas sempre com a questão do auxílio ao próximo.

A Justiça deve ser feita, mas com o devido processo legal, com as garantias do contraditório e da ampla defesa respeitados, que toda a prova seja colhida perante o Judiciário, e que um Magistrado ao final julgue e profira sentença de acordo com elas (as provas), e não meros indícios, o que até aqui existentes. Prova requer todo o respeito na forma da sua produção, em Juízo, dúvidas e pré-julgamentos, de quaisquer pessoas, no futuro poderá ficar evidenciado o erro, e quiçá aí poderá ser tarde, pois o Julgamento popular e midiático já o terá condenado, mesmo, ao final, sendo inocente.

O Direito de defesa é sagrado, e se pede que todos acompanhem as notícias, mas que elas sejam dadas com cautela, a mesma que as pessoas devem ter ao pré-julgar um semelhante, recebendo o teor dessas informações.

Prossigamos na Fé de Deus, acreditando sempre na Justiça dos Homens, mas que ela venha, como dito, dentro do total respeito ao devido processo legal, contraditório, ampla defesa, presunção de inocência.

A defesa prossegue acompanhando as investigações, tomará todas as providências necessárias à busca da revogação da prisão, que entende desnecessária nesse momento, estando à disposição.

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Jorge de Sousa

Editor

Jorge de Sousa é formado em jornalismo desde 2016, pós-graduado em Direito Eleitoral e Processo Eleitoral e especializado na cobertura de pautas sobre Política, do Paraná e do Brasil, além de matérias sobre Agronegócio e Esportes.

Jorge de Sousa é formado em jornalismo desde 2016, pós-graduado em Direito Eleitoral e Processo Eleitoral e especializado na cobertura de pautas sobre Política, do Paraná e do Brasil, além de matérias sobre Agronegócio e Esportes.