
A operação ‘Piloto’ busca apurar suposto pagamento milionário no de 2014 em favor de agentes públicos e privados no Estado do Paraná
Foi deflagrada na manhã desta terça-feira (11), a 53º fase da operação Lava Jato nos estados do Paraná, São Paulo e Bahia. A Polícia Federal (PF) cumpre a ‘Operação Piloto’. Os alvos de prisão foram Deonilson Roldo, ex-chefe de gabinete de Beto Richa, Tiago COrreia Adriano Rocha, braço-direito de Jorge Theodócio Atherino, empresário apontado como operador financeiro do ex-governador.
Aproximadamente 180 Policiais Federais cumprem 36 ordens judicias nas cidades de Salvador (BA), São Paulo (SP), Lupianópolis (PR), Colombo (PR) e Curitiba (PR) com o objetivo de apurar suposto pagamento milionário de vantagem indevida no ano de 2014, pelo Setor de Operações Estruturadas do Grupo Odebrecht, em favor de agentes públicos e privados no Estado Paraná.
Três mandados são de prisão, duas preventivas e uma temporária, e 33 de busca e apreensão. Empresários também realizaram o possível direcionamento do processo licitatório para investimento na duplicação, manutenção e operação da rodovia estadual PR-323 na modalidade parceria público-privada. As condutas investigadas podem configurar, em tese, os delitos de corrupção ativa e passiva, fraude à licitação e lavagem de dinheiro.
O nome dado à operação policial remete a codinome atribuído pelo Grupo Odebrecht em seus controles de repasses de pagamentos indevidos a investigado nesta operação policial. Os presos serão conduzidos à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba onde permanecerão à disposição da Justiça.
Investigações começaram em 2014
Conforme apontaram as investigações e a denúncia recentemente oferecida pelo MPF, empresários do grupo Odebrecht realizaram, no primeiro semestre de 2014, um acerto de subornos com Deonilson Roldo, para que este limitasse a concorrência da licitação para duplicação da PR-323, entre os municípios de Francisco Alves e Maringá. Em contrapartida, a Odebrecht pagaria R$ 4 milhões a Roldo e ao seu grupo. A corrupção foi ajustada em três reuniões entre Roldo e representantes da empreiteira. As evidências mostraram que, no final de janeiro de 2014, executivos da Odebrecht procuraram o então chefe de gabinete do governador e solicitaram apoio para afastar eventuais concorrentes interessados na licitação da parceria público-privada (PPP) para exploração e duplicação da PR-323.
As provas indicaram ainda que, após uma primeira reunião, Roldo voltou a se encontrar com executivos da empresa, informando que a ajudaria ilegalmente na licitação, mas para isso contava com o auxílio da empresa na campanha do governador daquele ano de 2014. Desta maneira, segundo as evidências, ele solicitou propinas para vender atos praticados no exercício de sua função pública, com o pretexto de que supostamente elas seriam usadas em campanha. Em seguida, em 14 de fevereiro de 2014, Deonilson Roldo teve uma terceira reunião com os executivos da Odebrecht. Nesse encontro, as provas apontam que o então chefe de gabinete do ex-governador afirmou que tinha procurado as empresas CCR e Viapar, as quais indicaram que não participariam da licitação. Informou, ainda, que o Grupo Bertin tinha interesse na concorrência por intermédio da empresa Contern.
Em razão do interesse da Contern, em 24 de fevereiro de 2014, Deonilson Roldo chamou o executivo dessa empresa, Pedro Rache, para uma conversa no Palácio Iguaçu. No encontro, gravado pelo último, o ex-chefe de gabinete do ex-governador informou ao empresário que tinha “compromissos” com a Odebrecht e solicitou ostensivamente que a empresa Contern se afastasse do certame licitatório para obtenção do contrato da PR-323. No mesmo diálogo,Deonilson Roldo, de forma direta, vinculou a desistência da licitação a interesses do Grupo Bertin, que controlava a Contern, na Copel, empresa de energia elétrica do estado do Paraná.
Após diversos adiamentos dos prazos de entrega das propostas, finalmente, em 25 de março de 2014, o Consórcio Rota das Fronteiras, composto pela Odebrecht, Tucumann, Gel e America foio único a fazer proposta na licitação. Sagrou-se, assim, vencedor da concorrência pública. O contrato foi assinado em 5 de setembro de 2014. As evidências mostraram ainda que, depois de a Odebrecht vencer a licitação, em meados de julho de 2014, o empresário Jorge Atherino compareceu ao escritório da Odebrecht em Curitiba para cobrar as propinas ajustadas nos encontros com Deonilson Roldo. Diante do contato de Atherino, o diretor-superintendente da Odebrecht para a região Sul e São Paulo demandou o Setor de Operações Estruturadas da companhia – responsável por pagamentos ilícitos – para que repassasse os subornos em favor de agentes públicos do Paraná. As provas indicam ainda que foi aprovado o pagamento ilícito de R$ 4 milhões e Jorge Atherino informou os endereços em que deveriam ser entregues os valores.
Após perícia da Polícia Federal nos sistemas Drousys e MyWebDay do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, foram identificados registros de cinco pagamentos das propinas que foram estabelecidas na forma descrita acima, que totalizaram R$ 3,5 milhões, entre os meses de setembro e outubro de 2014. Os endereços de entrega eram no município de São Paulo, em condomínio relacionado à sogra de Jorge Atherino. Pelo menos R$ 3,5 milhões foram pagos por meio de entregas em espécie de: R$ 500.000,00 em 04/09/2014; R$ 500.000,00 em 11/09/2014; R$ 1.000.000,00 em 18/09/2014; R$ 1.000.000,00 em 25/09/2014; e R$ 500.000,00 em 09/10/2014. Tudo isso conforme lançamentos registrados no sistema de contabilidade ilícito da Odebrecht.
Por meio de uma série de documentos, quebras de sigilo bancário e fiscal, quebra de sigilo telefônico e de outrasprovas coletadas durante a investigação, identificou-se que os pagamentos foram feitos mediante técnicas de lavagem de dinheiro. Parte dos valores foi depositada, em espécie e de modo fracionado, em contas de Deonilson Roldo e de sua empresa, Start Agência de Notícias. Outra parte dos valores teria sido destinada à realização de depósitos, também em espécie e fracionados, em contas de Jorge Theodocio Atherino, suas empresas e associados.