Do planejamento de assassinatos de agentes federais à criação de um império que lava bilhões para o tráfico de armas e drogas, tudo ligado ao PCC hoje passa pelo Paraná. Vinte e sete anos depois de receber na Penitenciária Central do Estado (PCE) sua primeira célula, o Paraná se tornou o ponto mais estratégico do PCC em logística e operações dentro e fora do Brasil que opera uma verdadeira Fortuna de Sangue. E não! Não há exagero nisso.

O Primeiro Comando da Capital atua dentro e fora dos presídios paranaenses, movimentando a economia do crime com negócios internacionais que vão do tráfico de cocaína e armas de guerra a combustíveis e insumos agrícolas. Uma verdadeira fortuna de sangue.
Em Curitiba, células da facção agem como grupos de elite. Planejam, viabilizam e executam assassinatos, como os dos agentes federais Alex Belarmino de Souza (2016) e Melissa de Almeida Araújo (2017), ambos mortos em Cascavel, no oeste do estado. Alex, de Brasília, estava na região para dar um curso de tiro a agentes do Presídio Federal de Catanduvas. Melissa trabalhava no mesmo presídio e morava em Cascavel.
O plano de execução foi todo articulado em Curitiba, no centro da cidade. De lá saíram armas, carros e homens para os crimes. A ordem, atribuída a Roberto Soriano, então número dois do PCC preso em Catanduva, teve o salve, decreto de morte, emitido da PEP 1, na Penitenciária Estadual de Piraquara. A decisão final — quando, como e quem executaria — partiu do líder do PCC no Paraná, Claudenir Guabiraba.
Mas o PCC hoje é muito maior que homicídios e tráfico de drogas de esquinas. Aliás, o PCC nem facção é mais. Com seu crescimento e tomada do território de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, isso ficou provado. Em uma ação cinematográfica no ano de 2016, o PCC, com o apoio do Comando Vermelho, assassinou o narcotraficante Jorge Rafaat Toumani, conhecido como o “Rei das Fronteiras”. Com a morte de Rafaat, o PCC tomou posse de uma das rotas mais importantes da cocaína na América do Sul, que negocia a droga com traficantes bolivianos e peruanos. A outra rota pertence aos colombianos, uma conexão antiga, aberta e aperfeiçoada por Pablo Escobar e o Cartel de Medellín, e que trabalha com narcotraficantes do Equador, além de algumas conexões com o Peru e a Bolívia.
Com Rafaat morto e negociando a cocaína pura da Bolívia e do Peru, o PCC passou então a negociar diretamente com o mercado europeu. Sim, os consumidores europeus têm um padrão rigoroso para a cocaína que é consumida, e a droga extraída das plantas cultivadas na altitude da Bolívia e do Peru tem um índice de pureza que chega a 98%. Cocaína tipo exportação, que colocou a organização criminosa no topo dos cartéis de droga no mundo. Hoje, o PCC é maior que os poderosos cartéis de drogas mexicanos, como o Cartel de Sinaloa e de Guadalajara.
O Paraná foi determinante para o crescimento do PCC.
Falar que o PCC é maior que o Cartel de Sinaloa parece algo um pouco desconexo da realidade, mas não é. Com a abertura do mercado europeu, o PCC expandiu seu território no estado do Paraná, focando na logística de embarque de cocaína via Porto de Paranaguá. Com essa nova operação, teve início um processo de abertura de empresas de fachadas. Essas empresas começaram a operar no mercado de commodities, como insumos agrícolas e combustíveis. Não demorou muito para que a estrutura financeira passasse a movimentar milhões de dólares no mercado.
Investigações da Polícia Federal chegaram a nomes como Marcos José de Oliveira. Hoje, delator do PCC, Marcos montou em Paranaguá a base financeira onde ele era dono ou controlador de pelo menos 57 empresas. A maioria dessas empresas era de fachada ou registrada em nome de terceiros. Essas firmas eram usadas para dar aparência legal ao dinheiro e movimentar valores entre si. Pelo Porto de Paranaguá, o grupo operava contratos ligados a grãos e fertilizantes, mas o principal objetivo, além da lavagem de dinheiro, era o embarque de cocaína para a Europa. As investigações apontam que mais de R$ 100 milhões circularam pelas empresas de Marcos. Além disso, Marcos tinha crédito de até R$ 90 milhões para compra de carros de luxo, para lavagem de dinheiro.
Marcos foi preso em 2023, durante a Operação Best Seller, desdobramento da Operação Narcobroker. A PF apreendeu uma carga de papel A4 e outra de madeira com destino à Europa. Na carga de papel foram encontrados 240 kg de cocaína e, na de madeira, 325 kg de cocaína. A carga pertencia a uma das empresas de Marcos. Depois disso, ele assinou um acordo e se tornou delator do PCC. Hoje vive sob proteção policial, marcado para morrer. Mesmo com a prisão de Marcos, o PCC manteve e expandiu suas operações no Paraná.

Da fronteira com o Paraguai, em Foz do Iguaçu, até o litoral do estado, o cartel está presente. O Paraná não é só importante, ele é estratégico para o PCC. Sua expansão em território paranaense representa seu crescimento internacional. No estado ele mais que drobrou sua força financeira e operacional e encontrou um terreno fértil e próspero para seus negócios obscuros. Isso é inegável.
Combustíveis, a fortuna de sangue do PCC no Paraná
Em Curitiba, o PCC não opera apenas ordens de assassinatos e controla a região central para o tráfico de drogas. Também não se limita a ser o fornecedor de drogas para traficantes das grandes favelas, como Parolin e Vila Torres. O PCC, em Curitiba, está no mercado de combustíveis e no mercado financeiro, com investimentos.
A coluna Arquivo Aberto trouxe com exclusividade os detalhes da operação do PCC com postos de combustíveis na capital. Segundo foi apurado, o MPF aponta que Curitiba foi o centro da lavagem de dinheiro do esquema bilionário descoberto pela Operação Tank, que envolvia produção, adulteração e venda de combustíveis.
Segundo o relatório, o PCC usou 46 postos de combustíveis como fachada para lavar R$ 1,3 bilhão só na capital paranaense, além de R$ 88 milhões em dinheiro vivo sem origem declarada. A engrenagem incluía notas frias, depósitos fracionados, transferências entre empresas de fachada e uso de laranjas. O esquema operava em bairros populares — CIC, Sítio Cercado, Boqueirão, Pinheirinho, Xaxim — e também em regiões nobres, como Alto da XV, Santa Felicidade e Cascatinha, além de cidades da região metropolitana.
Para lavar todo esse dinheiro, o PCC montou outra estrutura em Curitiba, um sofisticado esquema financeiro que contava até mesmo com um banco digital, conhecido como fintech. A Operação Tank revelou que um escritório na Avenida Getúlio Vargas, em Curitiba, funcionava como quartel-general financeiro do PCC, coordenando a lavagem de bilhões de reais. Mohamad Mourad e Daniel Dias Lopes, sócios ocultos da Duvale Distribuidora de Petróleo e Álcool Ltda., controlavam repasses milionários e movimentações ilegais, integrando recursos de adulteração de combustíveis e tráfico internacional de drogas.
O esquema envolvia ainda as distribuidoras Quimifix, Arka, Brasoil e Gol Combustíveis, usadas para adulterar combustíveis, realizar transferências cruzadas e dar aparência legal às operações. Postos de gasolina funcionavam como “colocadores”, absorvendo dinheiro em espécie e transformando-o em receita aparentemente legítima. O dinheiro lavado passava por empresas intermediárias — transportadoras, lojas de conveniência e prestadoras de serviços — depois para holdings e gestoras patrimoniais, sendo convertido em imóveis, veículos e investimentos.
Só em 2022, a Duvale movimentou cerca de R$ 1,2 bilhão em operações ilegais, e a organização chegou a movimentar mais de R$ 10 bilhões em créditos externos e cerca de R$ 594 milhões em depósitos em espécie. O Paraná, com mercado de combustíveis pulverizado e proximidade com rotas de drogas, tornou-se o centro financeiro da facção, unindo adulteração de combustível, empresas de fachada e bancos digitais em um sistema integrado de lavagem de dinheiro.
Em meio a tantas operações criminosas que vão de assassinatos a lavagem de dinheiro, é fato que o PCC hoje é uma realidade poderosa no estado do Paraná, nem de longe é mais aquele problema de presídios e periferias. A força do PCC mora em bairros nobres, dirige carros importados, frequenta restaurantes caros e movimenta bilhões nessa verdadeira fortuna de sangue que é o negócio do tráfico internacional de drogas. Aliás, o negócio de tráfico hoje corresponde a pouco mais de 10% do faturamento do PCC. O grosso do dinheiro vem de negócios legítimos, que vão da gasolina ao agronegócio.
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