A tatuagem, criada no Egito há 4 mil anos, sempre foi vista como forma de comunicação. Dentro das penitenciárias, revela o perfil psicológico do criminoso e o crime que cometeu, conforme mostra o perito da Polícia Científica do Paraná Jorge Luiz Werbitzki no livro que deve lançar em dois meses. “Linguagem de cadeia” é fruto de dez anos de análise e fotografias de tatuagens de presos do sistema penitenciário.
De acordo com ele, a tatuagem é um código de hierarquia dentro do presídio. O desenho indica se o preso vai comandar uma cela ou vai ser o “submisso”, conforme é chamado. Quem pertence a organizações criminosas frequentemente tem tatuada no braço direito uma carpa (peixe que nada contra a correnteza).
Existem desenhos que são nacionalmente usados em penitenciárias, como a caveira. Indicando morte, diversas caveiras identificam o preso como homicida. Velas também indicam este crime. Caveira com facas cravadas no crânio significa assassino de policiais.
O pesquisador comenta que é importante as pessoas saberem o que os desenhos significam, pois, se forem vítimas de algum crime, pela tatuagem é possível identificar o criminoso, junto aos traços físicos solicitados para o retrato falado. “É essencial que policiais também tenham conhecimento, pois a tatuagem mostra quais crimes aquela pessoa cometeu, auxiliando no trabalho de investigação”, afirma Werbitzki.
DESENHOS – O perito conta que a tatuagem de cadeia é de péssima qualidade. Geralmente os presos usam tinta de caneta ou tinta de parede, podendo ser à base de água ou óleo até de sacolas plásticas. Agulhas de costura ou lâminas acopladas em um motor de aparelho de barbear são instrumentos usualmente utilizados para tatuar. O processo é mais doloroso que o comum.
O estudo de Werbitzki também mostra que uma mesma tatuagem pode mudar de significado dependendo do lugar do corpo em que são feitas. As mais comuns são pontos, entre o dedo polegar e o indicador. Nesse sistema, um ponto significa punguista, batedor de carteira; dois, estuprador; três, traficante; quatro, autor de furto; cinco, autor de roubo; seis, homicida; seis pontos com um círculo, homicida e chefe de quadrilha.
Já a imagem de Nossa Senhora Aparecida da nuca até o cóccix pode significar autor de estupro; se for de tamanho menor, é relacionado a matador profissional. Também pode representar estupro uma sereia tatuada na perna direita, imagem de São Sebastião, um ponto ou vários deles no rosto ou nas costas. Borboletas são tatuadas quando o preso é homossexual ou pedófilo.
Uma teia de aranha tatuada na barriga da perna é homenagem a um preso que morreu dentro do sistema penitenciário; enquanto que, no cotovelo, representa os skinheads.
ESTUDO – Werbitzki está no seu segundo livro. Ele está programando uma visita à Escola Penitenciária de São Paulo, onde existe um acervo histórico com 40 mil tatuagens, com fotos tiradas desde 1920. O perito, além das tatuagens, estuda gírias, códigos e desenhos dos presos, bem como a comunicação por espelhos, isqueiros e camisetas dentro da prisão. O livro ficará pronto em dois meses. Uma exposição será organizada por Werbitzki, que pretende apresentar o trabalho em empresas, escolas e órgãos públicos.