"Quem ama não coloca uma arma na cabeça de uma pessoa”, diz vítima de tentativa de feminicídio
Após ficar preso por quase um mês, o socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que agrediu, ameaçou e atirou contra a ex-esposa em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba, foi solto. Edson Luiz Manoel havia sido detido em flagrante no dia 14 de outubro.
Com medo, a mulher de 31 anos conversou com a RIC Record TV e contou que já mudou de residência, junto com os dois filhos que teve com o ex-companheiro, para não ser encontrada por ele, mas mesmo assim teme por sua vida.
“O que eu tenho hoje é uma sensação de medo, de pavor, toda vez que alguém fala o nome dele para mim. Eu tenho a sensação de que ele vai aparecer e concretizar o que ele já começou. Ele já tinha um comportamento agressivo, a alegação é que ele tem um emprego fixo, que trabalhava, que estudava? Eu sou a vítima e estou vendo que não há justiça, em menos de um mês ele está solto. Depois que eu estiver morta, não vai adiantar prenderem ele.”, desabafou a mulher, que prefere não se identificar. Ela ainda completou questionando o fato dos defensores do homem alegarem que ele não quis matá-la. “Primeiro houve agressão física e enquanto eu estava no chão, ele atirou contra a minha vida. A alegação que está tendo é de que ele não atirou para me matar. Mas ele atirou sim para me matar, com duas crianças presenciando tudo e pedidando para que ele parasse, ele não parou”.
Além da mulher, os filhos do casal também não conseguem esquecer o que aconteceu. Junto com a mãe, a menina de 13 anos e o garoto de 7 estão recebendo tratamento psicológico para superar o trauma.
Segundo a adolescente, no dia do crime, ela acordou com a mãe pedindo ajuda e, na sequência, viu o próprio pai agredir, ameaçar e atirar contra a mulher. “Eu estava dormindo, eu acordei com a minha mãe abrindo a porta do meu quarto, a porta do meu quarto faz bastante barulho, Ela me entregou o celular e falou ‘pega’, aí eu vi ele puxando ela pelo cabelo e levando até a porta da sala. Aí, ele começou a agredir ela, falar que ela era uma vagabunda, que ela não merecia ter tudo o que tinha”, lembrou.
Ainda conforme a filha do suspeito, o pai chegou a atirar duas vezes contra a ex-companheira.
“Meu irmão estava dentro do quarto porque ele não queria ver, ele estava em choque. Eu estava em pânico, eu estava gritando, falando para ele parar. Eu vi ele puxando o gatilho e ele apontou para ela, ela se abaixou de medo e ele começou a ameaçar ela com a arma. Ele atirou duas vezes”,
disse a menina.
Entenda o caso
O relacionamento de 14 anos entre a vítima e o suspeito chegou ao fim há cerca de dois anos, quando a mulher cansada do comportamento agressivo e manipulador do marido não quis continuar o casamento. Testemunhas afirmam que ele não deixava a esposa estudar, monitorava seus passos, era extremamente possessivo e já teria batido na vítima.
Apesar do término, ela continuou morando na mesma casa que Edson, até que tivesse condições financeiras de sair do local. No entanto, a situação piorou, ele não aceitava o fim do casamento e, dias antes da tentativa de assassinato, já havia pego a arma, quando ela tentou sair da residência com os filhos, e ameçado a ex na presença de familiares.
Foi entre a madrugada e a manhã de 14 de outubro que Edson resolveu concretizar suas ameaças. Na ocasião, a vítima chegou do trabalho por volta das 4h, foi dormir e, na sequência, foi acordado pelo socorrista, armado, que já iniciou as agressões.
Edson chegou a fazer uma chamada de vídeo para a ex-sogra com o objetivo de mostrar que estava torturando a ex-esposa e ignorou todos os pedidos dos filhos para acabar com a violência. A situação só foi controlada com a chegada da Guarda Municipal, que conseguiu negociar com Edson e convencê-lo a entregar a arma.
Apesar do medo do ex-marido, a mulher usou sua história para fazer um alerta a todas as mulheres que também são vítimas de relacionamentos abusivos.
“Que fique claro para as pessoas entenderem: isso é posse, não é amor. Quem ama não agride, quem ama não bate, quem ama não coloca uma arma na cabeça de uma pessoa, quem ama não atira contra uma pessoa, quem ama não faz isso na frente de duas crianças”,
finalizou a vítima.
A família de Edson contesta as acusações da ex-esposa e de seus familiares, segundo eles, o socorrista por problemas psicológicos e que tudo teria acontecido em meio a um surto.