Um dos nomes mais temidos do crime organizado brasileiro, Marcinho VP é frequentemente apontado como um dos líderes do Comando Vermelho (CV), uma facção criminosa do Rio de Janeiro. Citado em diversas investigações, violência e influência dentro e fora dos presídios, Márcio dos Santos Nepomuceno, seu nome de registro, se tornou um dos símbolos da articulação entre o crime e as estruturas do Estado.

Quem é Marcinho VP
Marcinho VP nasceu no dia 12 de fevereiro de 1970, na favela de Vigário Geral, zona norte do Rio de Janeiro.
Aos 13 anos, segundo relatos e investigações policiais, ele já cometia assaltos. Aos poucos, passou a atuar no tráfico de drogas, inicialmente como soldado do morro.
Marcinho se destacou na organização e durante os anos 1990, assumiu o controle do Complexo do Alemão, uma das principais bases operacionais da facção. Seu domínio na região foi marcado por disputas sangrentas com facções rivais, sobretudo com o Terceiro Comando, que também disputava o controle das bocas de fumo na zona norte.
O Comando Vermelho
Criado na década de 1970, no presídio da Ilha Grande, o Comando Vermelho nasceu da união entre presos comuns e presos políticos. O objetivo era criar uma rede de apoio mútuo, que ao longo do tempo se transformou em uma das organizações criminosas do país.
Marcinho VP é acusado de se tornar uma peça-chave da facção, liderando operações dentro e fora das prisões. Mesmo após ser preso, ele seguiu controlando o tráfico em várias comunidades, especialmente com o uso de celulares e bilhetes trocados com aliados fora das grades.
Prisão e controle de dentro do presídio
Marcinho VP foi preso em 1996, em uma operação da Polícia Federal em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Desde então, está sob custódia do Estado, mas isso não significou o fim de seu poder. Ele passou por diversas unidades prisionais, incluindo o Presídio Bangu 1, no Rio de Janeiro, e foi posteriormente transferido para presídios federais de segurança máxima em Catanduvas (PR) e Porto Velho (RO), após investigações mostrarem que ele continuava dando ordens de dentro da prisão.
Em 2023, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) informaram que ele teria dado a ordem para a execução de diversos rivais e operações de tráfico mesmo de dentro da penitenciária federal. A denúncia foi baseada em interceptações telefônicas, mensagens cifradas e depoimentos de colaboradores da Justiça.
Pai de Oruam
Nos últimos anos, Marcinho VP voltou ao noticiário nacional após a revelação de que ele é pai do cantor de trap Oruam, que tem milhões de seguidores nas redes sociais e frequentemente é visto ostentando itens de luxo. O próprio artista já declarou publicamente que é filho do traficante e que mantém uma relação próxima com o pai.

Em 2023, uma polêmica tomou conta da internet após a divulgação de um vídeo em que o cantor cantava para Marcinho VP durante uma videochamada dentro da prisão. A Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) chegou a abrir sindicância para apurar como o detento teve acesso ao celular e se houve falha na segurança.
Disputas internas e ameaças de morte
Ao longo de sua trajetória, Marcinho VP acumulou inimigos dentro e fora do Comando Vermelho. Houve momentos em que sua liderança foi questionada por outras lideranças da facção. Em 2010, ele chegou a ser acusado de tramar contra rivais dentro do presídio federal, o que culminou em ameaças de morte.
Em 2023 e 2024, investigações da Polícia Civil do RJ e do Ministério Público apontaram Marcinho VP como mandante de ações violentas no Complexo da Maré e na Vila Cruzeiro. O objetivo seria reestruturar a liderança do Comando Vermelho em meio a disputas territoriais com o Terceiro Comando Puro (TCP) e com grupos milicianos.
Essas investigações também revelaram que Marcinho mantinha contato com advogados e familiares para repassar ordens e planejar execuções. Ele nega as acusações, mas as evidências reunidas têm reforçado a percepção de que ele continua exercendo influência sobre o tráfico mesmo após quase 30 anos preso.
Ligação com o Sergio Cabral
Além da notoriedade conquistada no tráfico, Marcinho VP também protagonizou uma das denúncias mais controversas envolvendo o mundo do crime e a política fluminense. Em seu livro, escrito da prisão, intitulado Verdades e Posições: O Direito Penal do Inimigo, o traficante revela bastidores de sua vida no Comando Vermelho — incluindo uma suposta relação direta com o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
Segundo Marcinho, o contato entre os dois ocorreu em 1996, quando Cabral era candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PSDB. De acordo com o relato, eles teriam se encontrado durante um show do grupo Molejo no Complexo do Alemão. Em entrevista concedida à TV Record, Marcinho afirma que o então candidato subiu até o camarote onde ele estava, e foi recebido com festa.
“Foi em um domingo, ele subiu no meu camarote, lá comeu e bebeu, me abraçou, me elogiou pra caramba… Ele viu que eu estava armado, me abraçou, me elogiou e agradeceu por tudo que eu estava fazendo por ele”, afirmou o traficante.
Ainda segundo Marcinho VP, o Comando Vermelho teria colocado à disposição de Cabral centenas de cabos eleitorais nas comunidades da zona norte e da zona oeste, influenciando diretamente moradores das áreas controladas pela facção.
“Ajudei na campanha dele de 1996, com centenas de cabos eleitorais. Tudo 0800, ele não gastou um real. A pedido nosso, centenas de pessoas o apoiaram. Ele foi no meu palanque para fazer discurso, contou as histórias dele e me enganou direitinho.”
Na mesma entrevista, Marcinho afirmou que conseguiu aproximadamente 50 mil votos para o candidato. Ainda assim, Cabral perdeu aquela eleição, sendo derrotado por Luiz Paulo Conde (PFL, hoje DEM).
O ex-governador nunca respondeu judicialmente por essa acusação específica. Entretanto, ao longo dos anos seguintes, Cabral foi condenado em mais de 20 processos por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Já Marcinho VP permaneceu preso.
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