A mãe de Jéssica de Souza, de 22 anos, umas das oito vítimas do grave acidente na BR-277, em São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, encontrou, durante um protesto na rodovia nesta quarta-feira (2), o relógio e os brincos que a filha usava no dia da tragédia.
Abalada com a descoberta que ocorreu por acaso, a mulher precisou do amparo de pessoas que estavam no local. Jéssica voltava do culto quando ela e o amigo Lucas Moreira, de 24 anos, morreram.
“Ele estava vindo de um culto, tinha deixado a minha mãe em casa e estava indo deixar a Jéssica em casa quando entrou no meio do nevoeiro e da fumaça. Ele não teve nem tempo de nada”, contou uma irmã de Lucas.
A irmã de Jéssica também conversou com a equipe da RIC Record TV e declarou que o mínimo que se espera é que os culpados pela perda de tantas vidas sejam punidos. Para ela, a Ecovia, concessionária que administra o trecho da rodovia, foi negligente já que, conforme seu testemunho, é comum que a fumaça e a neblina deixem o local sem visibilidade.
“Foi uma negligência, uma tragédia anunciada. Eu moro aqui no bairro, sempre tem queimada, sempre tem essa neblina, nunca tem sinalização. Nosso pedágio já não é um pedágio barato, as nossas vias nunca têm responsáveis. Foi uma negligência sim, foram oito vidas jovens que perderam tudo o que tinham pela frente, minha irmã tinha 22 anos e isso não pode ficar impune. A gente precisa de Justiça, dinheiro nenhum vai trazer eles de volta, mas os responsáveis têm que pagar”, desabafou emocionada.
Protesto
Familiares e amigos das vítimas realizaram um protesto nesta quarta, dia em que a tragédia da BR-277 completa um mês, para pedir Justiça pelas vítimas que morreram no acidente.
Tragédia na BR-277
Na noite de na noite de 2 agosto, a junção da neblina que cobria o KM 77 da rodovia e de uma nuvem de fumaça, provocada por um queimada na região, causou uma colisão na pista de rolamento. Na sequência, sem poder seguir viagem, vários veículos precisaram parar na pista. Com medo de que ocorresse um segundo acidente, inúmeras pessoas saíram de dentro dos carros e ficaram às margens da BR-277. Foi então que um caminhão-baú tentou desviar dos veículos parados e acabou atropelando as vítimas, além de colidir também com outros carros.
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De acordo com o Corpo de Bombeiros, o desastre deixou 8 mortos e 22 feridos. Ao todo, 22 veículos se envolveram no acidente, sendo 15 carros de passeio, 5 motos, 1 carreta e 1 viatura policial.
Um áudio enviado pelo motorista do caminhão que atropelou as vítimas, minutos depois do acidente, mostra o desespero do homem.
“Eu preciso de ajuda, cara. Não sei o que eu faço agora, meu Deus. Estava terminando minha oração para ‘mim’ sair viajar. Nossa, está muito feio, cara, muito feio. Tem pedaço de corpo de gente no para-choque da carreta. Eu fui passando em cima de tudo, meu Deus do céu”, disse o caminhoneiro na mensagem.
O delegado Fábio Machado, responsável pelo caso, investiga a responsabilidade da Ecovia sobre as mortes. Além disso, um vídeo gravado no dia 1º de agosto, um dia antes do acidente, mostra que uma colisão já havia ocorrido pelo mesmo motivo e no mesmo local.
“Não havia visibilidade, ou seja, mesmo que tivesse uma sinalização adequada, essa sinalização não atenderia as necessidades, não evitaria o acidente em virtude da neblina e da fumaça que tapava a visibilidade naquele local. As vítimas saíram dos veículos, o motorista, ao que nós levantamos, tentou evitar o acidente desviando dos veículos a sua frente, mas infelizmente, ele não conseguiu ver as pessoas que estavam de pé, ao lado desses veículos e acabou atingindo essas pessoas”, explicou.
Marcelo Belão, que representa a concessionária, nega que houve negligência e declara que não houve tempo hábil para realizar a sinalização.
“Todo esse procedimento de mobilização estava sendo feito, só que lamentavelmente, nesse lapso temporal entre posicionamento das viaturas, ocorreu um primeiro acidente e aí houve a parada dos demais veículos e toda a tragédia se consumou”, pontuou Belão.
