Dia da Visibilidade Trans: a busca por sobrevivência e identidade

Publicado em 29 jan 2022, às 11h32. Atualizado às 11h41.

29 de janeiro é marcado pelo Dia Nacional da Visibilidade de Transexuais e Travestis no Brasil. A data poderia ser comemorativa mas, no país, a situação é considerada de violência. Um estudo desenvolvido pela Transrespect Versus Transphobia Worldwide (TvT), da ONG Transgender Europe (TGEU), que faz o levantamento de crimes repassados por instituições Trans e LGBTQIA+ espalhadas pelo mundo mostra que o Brasil, pelo 14º ano consecutivo, é o país que mais registrou mortes de pessoas transgêneros

De 1º de outubro de 2020 a 30 de setembro de 2021, 375 assassinatos foram registrados. Um aumento de 7% em relação ao período anterior. No Brasil, 125 pessoas trans foram mortas. Logo depois, vem o México, com 65 vítimas, os Estados Unidos com 53. Desde 2008, 1.645 transexuais foram mortas no Brasil. Os dados da TGEU não contabilizam todos os crimes do mundo por causa de subnotificações.

Um dos casos que mais chocou a comunidade ocorreu logo nos primeiros dias de 2021, no Ceará, em janeiro. Keron Ravach, uma menina de 13 anos, foi espancada até a morte por um adolescente de 17 anos.

Em muitos casos, no entanto, não há apenas a violência física, mas também a psicológica. Segundo as vítimas que sobrevivem, o principal desafio é apreender a “reviver” diante da família e da sociedade. 

(Foto: Noah Deolindo, estudante de Jornalismo | Foto: Arquivo pessoal)

Dificuldades simples como usar o banheiro ou buscar atendimento médico são algumas delas. Nascido em Tupãssi, no Oeste do Paraná, Noah Deolindo, de 24 anos, conta sobre as dificuldades que enfrenta no dia a dia para conviver em comunidade. 

“Existem várias dificuldades. Uma delas é a problematização que a sociedade tem com pronomes, a relutância em usar ‘ele’ e até mesmo de chamar pelo novo nome. Outra situação é a dificuldade em encontrar profissionais de diversas áreas que atendam às necessidades de uma pessoa transexual, principalmente por plano de saúde, uma vez que a maioria dos procedimentos necessários tem um alto custo, como mastectomia masculinizadora, no meu caso. Sem falar na retificação de nome.” 

Noah Deolindo – estudante de Jornalismo

Desde 1º de março de 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu o direito das pessoas trans, independentemente de cirurgia de transgenitalização ou da realização de tratamentos hormonais, à substituição de nome e sexo diretamente no cartório de registro civil.

Para a sociedade LGBTQIA+, a medida foi encarada como uma vitória, que não alivia o peso carregado por cada pessoa que compõe a sigla. Apesar do preconceito na sociedade ser mais latente, muitos casos de violência vêm de dentro da família. Inclusive as psicológicas.

Noah revela que não recebeu apoio familiar. Foi fora de casa, com auxílio de amigos, que começou sua transição com 18 anos

“Não houve apoio familiar e na realidade ainda não há. Minha família ainda reluta com a situação, insiste com pronomes femininos e com o meu antigo nome, chega a ser forçado por mencionar “filha”, por exemplo, no fim de todas as frases. Eu tomei conhecimento de quem eu era e abri minha posição para meus pais com 18 anos, sem aceitação. Saí de casa e comecei a depender da ajuda de amigos que a vida foi me apresentando. Passei por poucas e boas para, hoje, conseguir me manter e ter uma vida estável. Meu processo de transição começou em agosto de 2020 depois de muita ajuda psicológica. Procurei, de início, uma endocrinologista e, desde então, tenho uma equipe médica que me acompanha para que tudo seja feito da forma mais saudável possível”, conta Noah.

Progresso 

Em 2018, além do direito da substituição de nome e sexo, outro passo importante para comunidade foi dado. Na publicação da 11ª edição do CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) o transtorno de identidade sexual / transtorno de identidade de gênero, passou a não fazer mais parte da lista de doenças ou distúrbios mentais. 

A transexualidade permanece na CID como “incongruência de gênero”, porém, em uma categoria diferente: a das condições relativas à saúde sexual.

Para a psicóloga Daiane Pires Morais, é importante se manter no CID, porque isso garante atendimento médico e apoio pelo SUS para toda a população trans.

“Sabemos o quanto é difícil, o quanto existe preconceito e ainda vivemos em uma sociedade onde as pessoas são cruéis. Nós, independente do nosso gênero, precisamos lutar diariamente contra isso, contra o preconceito.”

Daiane Pires Morais – psicóloga

Daiane afirma que entender as definições (veja no fim do texto) é o primeiro passo para que se possa ajudar na visibilidade trans.

“Precisamos trazer para nossa sociedade, para o nosso ser como indivíduo, pra gente deixar de ser ignorado. Pode ser que a gente pense assim: ‘Ah, o direito pelo nome, que coisa boba, não é bobo. Isso é incrível. É ser visto'”

Daiane Pires Morais – psicóloga

Mesmo diante de tantas dificuldades e processos burocráticos, Noah reforça a importância de ser reconhecido, como ele se vê e como ele é.

“Não desista jamais, não se importe com os outros, cuide de você e da sua saúde mental e física, o seu corpo precisa estar bem com a sua mente, não se preocupe com aceitação. Por mais que seja difícil, por alguns momentos, se ver sem ninguém, a pessoa mais importante da sua vida precisa aceitar. E essa pessoa é você.”

Noah Deolindo

A data

O dia 29 foi escolhido no ano de 2004, quando foi o lançamento da campanha “Travesti e Respeito”, promovida pelo Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde. A ação foi lançada por um grupo de ativistas trans, no Congresso Nacional e até hoje representa um marco importante para reforçar à luta por direitos

O Dia da Visibilidade de Transexuais e Travestis no Brasil tem como objetivo promover reflexões a respeito da identidade de gênero e levar conhecimento para a sociedade. Além disso, a data também é um momento de alerta diante da quantidade de crimes envolvendo transexuais. Para quem busca ser tratado como ser humano, a data se resume em uma palavra: resistência

“Resistência e amor. É um dia em que toda a classe LGBTQIA+ se une para juntar forças, lutar por direitos que quaisquer pessoas têm. É o significado de fazer a diferença. É mostrar que amor não tem bandeira, não tem cor, não tem raça e nem gênero, nós somos livres como todo mundo, para amar e cuidar de quem nos faz bem sem nos importar se é do mesmo sexo ou não”, ressalta Noah.

Exemplo de Amor 

Durante a semana da Visibilidade Trans, muitas cidades realizaram atuações alusivas como forma de apoio e pedido de respeito e tolerância. Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, que faz fronteira com o Paraguai e a Argentina, promoveu movimentos que chamaram a atenção. 

A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Relações com a Comunidade promoveu uma ação simbólica na Praça da Paz para despertar a atenção da sociedade sobre os altos índices de pessoas assassinadas por conta da identidade de gênero. 

(Foto: Divulgação/ Prefeitura de Foz do Iguaçu)

Pessoas trans que foram vítimas de assassinato foram homenageadas com cruzes com seus nomes e idades, fixadas na Praça. 

“Foz do Iguaçu faz jus ao título de Destino do Mundo. Aqui, recepcionamos e acolhemos a todos, independente da cor de pele, traços culturais, credo religioso ou identidade de gênero. Por isto, a intenção desta ação é chamar a atenção de todos para o respeito, a inclusão e a necessidade de respeitarmos a diversidade social.” 

Kelyn Trento – secretária municipal de Direitos Humanos e Relações com a Comunidade

A cidade, que tem em seu território uma das 7 maravilhas do mundo, também grifou no solo as cores da bandeira LGBTQIA+. A faixa de pedestre em frente à Fundação Cultural, na Rua Benjamin Constant, foi modificada, em apoio à data. A ação teve grande repercussão nas redes sociais. 

(Foto: Reprodução/Prefeitura de Foz do Iguaçu)

Além de fotos, a faixa também gerou polêmica. O Deputado Estadual Coronel Lee foi até a cidade da fronteira e protocolou um pedido no Ministério Público Estadual, pedindo para que a faixa fosse colocada no padrão do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Além disso, relatou que o ato era considerado falta de respeito. 

“O que falta na sociedade, sobretudo, é respeito. Mas não aceitar/concordar com a orientação sexual do outro não te dá o direito de ir em um post nas redes sociais e comentar emojis de nojo, não dá o direito de agredir um homossexual na rua, de tratar com diferença dos demais. Então, respeitar o espaço do outro, seria um primeiro, grande passo”, finaliza Noah.

É bom saber!

  • Identidade de Gênero
    É como você se reconhece: mulher ou homem cisgênero (se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer), mulher ou homem transgênero, gênero não binário e agênero
  • Orientação Sexual:
    Por quem você sente atração:
Heterossexual:sente atração pelo gênero oposto
Homossexual:sente atração por alguém do mesmo gênero
Bissexual:sente atração pelos gêneros feminino e masculino
Pansexual:sente atração por outras pessoas, independentemente de ser gay, hétero, bi, transgênero, não binária etc.
Assexual:não tem qualquer tipo de desejo, atração sexual ou afetiva

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