Falta de âncora fiscal é um dos fatores responsáveis pela alta de juros, dizem especialistas

por Erick Mota
Com informações da Agência Estadão
Publicado em 24 fev 2023, às 14h21.

Diante dos constantes aumentos nas projeções de inflação para 2023 e 2024, o Banco Central (BC) tem encontrado dificuldade para reduzir a taxa básica de juros (Selic), que atualmente está em 13,75%. Para especialistas, dentre os fatores mais relevantes para este cenário está o governo Lula, que não tem apresentado âncora fiscal factível ao mercado.

No cenário atual, os economistas já projetam que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar 2023 no patamar de 6%, acima do teto da meta definida pelo governo, que é de 4,75%. A nova estimativa de inflação é quase 1 ponto porcentual a mais do que se previa na virada do ano. Para 2024, as projeções já estão em 4%.

O que os economistas têm apontado é que os primeiros movimentos do governo Lula na economia têm provocado uma desancoragem das expectativas inflacionárias. O presidente, por exemplo, criticou publicamente a condução da política monetária pelo BC, e o governo chegou a indicar que poderia rever metas de inflação.

A equipe econômica também tem sido cobrada para apresentar a nova âncora fiscal que vai substituir o teto de gastos. Sem uma sinalização do controle das contas públicas, há uma piora da percepção de risco dos investidores com a economia brasileira.

“Poderíamos ter uma inflação mais baixa desde que houvesse uma sinalização do governo em relação ao novo arcabouço fiscal”, afirma o economista Heron do Carmo, professor sênior da FEA/USP. O economista, que chegou a projetar alta de 5,5% para o IPCA deste ano, agora espera uma taxa mais próxima de 6%. Apesar de ter aumentado a previsão, Heron diz acreditar que, se o governo introduzir uma nova âncora fiscal factível, será possível atenuar as expectativas e a economia como um todo ter uma evolução melhor do que se espera hoje.

“Basicamente, todas as revisões que temos feito este ano têm sido por conta de preços administrados (serviços e produtos com reajustes definidos por contratos ou regulados pelo setor público)”, afirma Júlia Passabom, economista do Itaú Unibanco. O banco aumentou de 5,8% para 6,3% a previsão para a inflação deste ano. Os administrados devem subir entre 10,5% e 11%.

A lista de medidas que vão influenciar os administrados inclui a volta da cobrança de PIS e Cofins sobre gasolina e etanol e a de ICMS (imposto estadual) sobre eletricidade.

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