Professores de cursinho preparatório para polícia estão na mira do MPPR
Os professores do Alfacon, escola de cursos preparatórios para concursos policiais de Cascavel, no Oeste do Paraná, estão na mira do Ministério Público do Paraná.
Um ofício encaminhado no dia 30 de maio, por meio da 12ª Promotoria de Justiça, instaurou um inquérito para investigar suposta violação de direitos coletivos/humanos de alunos, por alguns professores da instituição. Segundo o ofício, as aulas incitam a prática de crimes. Os professores citados são Evandro Bittencourt Guedes, Ronaldo Bandeira e Norberto Florindo.
O fundador da Uneafro Brasil, Douglas Belchior, publicou em suas redes sociais, sobre o pedido realizado ao MP.
“Pedimos, no Ministério Público do Paraná, o fechamento da Alfa Concursos , a responsabilização criminal de Evandro Guedes por racismo e incitação ao crime, além da exclusão de todas as videoaulas dos canais da empresa.
O assassinato brutal de Genivaldo Jesus dos Santos não foi resultado de um improviso dos agentes da PRF, houve método e esse método foi pensado, desenvolvido e ensinado nas “aulas” da Alfacon.
Douglas Belchior -fundador da Uneafro Brasil.
“Favelado mesmo, feio pra caralho…mijo de favelado, a porra de favelado, criolada”. Quem diz isso é @prof_evandro , dono da AlfaCon, empresa que oferece cursos preparatórios para policiais federais (inclusive os rodoviários). Quer saber quem é o racista?
— Douglas Belchior (@negrobelchior) May 28, 2022
Segue ?
(1/10) pic.twitter.com/lPVa7f0tYP
O Alfacon se pronunciou em relação ao ofício e informou, por meio de nota, que está à disposição do Ministério Público para colaborar com as investigações e declarou que a empresa vem reforçando orientações e treinamentos direcionados aos times pedagógico e de recursos humanos.
“De acordo com o que está sendo noticiado pela mídia sobre vídeos de professores em aulas ao
vivo, o Alfacon Concursos informa que se trata de fatos antigos e isolados, não tendo qualquer
relação com o atual contexto. […]O Alfacon reafirma que repudia a qualquer tipo de prática discriminatória ou violência, seja física ou psicológica, e que, em seus 13 anos de atuação, sempre prezou pela formação apropriada, valorizando a carreira policial, assim como todas as demais carreiras em que atua, de forma ética, entendendo a importância desses profissionais para a segurança pública e para a sociedade”,
diz a nota.
Entenda
Na última semana um vídeo do professor Ronaldo Bandeira, que também é Policial Rodoviário Federal, “ensinando” a fazer uma câmara de gás dentro de uma viatura, viralizou na internet, e vem gerando muitos comentários. A gravação foi compartilhada, logo após um homem morrer asfixiado após uma abordagem policial na quarta-feira (25), na cidade de Umbaúba, em Sergipe.
No trecho da gravação, Bandeira, que lecionava aula no curso preparatório Alfacon, descreve uma situação em que a pessoa detida, já no porta-malas, tentava chutar o vidro para sair.
“O que o policial faz? Abre um pouquinho, pega o spray de pimenta e taca (risos). Foda-se, é bom pra caralho, a pessoa fica mansinha”“ Daqui a pouco escuteu ‘vou morrer’, ‘vou morrer’. Aí fiquei com pena, cara, aí eu abri, tortura, e fechei denovo. (risos).
Trecho do vídeo
Depois ele completa dizendo, “sacanagem, fiz isso não”. A “orientação” dada pelo professor foi acompanhada pelos alunos que deram risada sobre o fato.
Segundo a assessoria de imprensa do Alfacon, na época em que o vídeo foi gravado, em 2016, o professor fazia parte da instituição, no entanto não faz mais parte do quadro de funcionários desde 2018.
Em conversa com o professor ele informou que foi um exemplo infeliz.
“Foi uma fala infeliz. Foi um exemplo muito infeliz. Quando a gente entra em sala de aula como professor, a gente não representa uma instituição é uma atividade de cunho profissional. Segundo ponto, ali foi um exemplo literalmente sobre a lei de tortura (Lei Penal 9.455) do que realmente não se deve fazer, e no final a gente entra no personagem, é como se a gente fosse um personagem dentro da sala de aula para trazer um caso fictício ou elucidativo para que o aluno fiz aquele conteúdo. E eu utilizei infelizmente esse exemplo, que foi o mesmo, utilizado no Sergipe.”
Ronaldo Bandeira – professor e PRF
Genivaldo
Genivaldo Alves de Jesus, de 38 anos estava junto com o sobrinho quando foi abordado por policiais rodoviários federais. De acordo com o parente que acompanhava, ele possuía transtornos mentais e ficou nervoso com procedimento dos agentes.
Pelas imagens que foram gravadas é possível ver Genivaldo no chão, cercado de policiais, que logo levam ele para o porta-malas da viatura. Outro policial joga uma espécie de gás dentro do espaço, e, para evitar que a detido saia dali, outro segura a porta.
Tempo depois, o rapaz fica inconsiente e não se mexe mais. Diante disso, os policiais até levaram ele para o hospital, mas ele havia morrido por asfixia e insuficiência respiratória. No bolso dele, foram encontrados remédios contra esquizofrenia.
Em nota, a PRF afirmou que o homem teria “resistido ativamente” à abordagem, e que foi necessário “técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo” para conter a vítima, que passou mal no caminho para a delegacia.