A vitória de Ratinho Junior na eleição para o Senado

Explica Aí!

por Jeulliano Pedroso
Publicado em 17 nov 2022, às 15h10. Atualizado em: 17 abr 2023 às 17h14.

Ao contrário do que poderia se supor, que ter apoiado um candidato que não saiu vencedor no pleito poderia representar uma derrota política do governador, os dados que apresentamos explicitam justamente o oposto: Ratinho Junior tem um potencial de transferência de votos impressionante (fato novamente verificado no segundo turno da eleição presidencial, quando conseguiu auxiliar na ampliação da margem pró-Bolsonaro no Paraná). Posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que apesar do resultado de Paulo Martins, Ratinho Junior saiu vencedor deste pleito e se consolida como um cabo eleitoral prioritário para as eleições de 2024 e de 2026.

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Como nos mostram os dados, Paulo Martins teve um crescimento proporcional muito maior nos menores municípios (Tabela 1), onde sabidamente a força do governador e dos prefeitos mobilizados por ele tem um peso relativo enorme. A relevância do apoio do governador fica mais evidente quando olhamos a média de crescimento conforme o desempenho do governador, neste caso Paulo Martins teve um crescimento muito superior nos municípios em que Ratinho teve percentuais acima dos 52,2%.

É possível perguntar se a transferência de votos não poderia ter sido maior, afinal o governador alcançou quase 70% dos votos do eleitorado paranaense. É preciso entender um pouco das duas candidaturas e destes dois políticos. Mesmo tendo uma amizade com o governador,  Paulo Martins possui pouca identificação com o governo, esteve junto no palanque ou em visitas  somente nos momentos da eleição e não possui uma base eleitoral nos municípios em que Ratinho atuou enquanto parlamentar.

Inclusive, nas redes sociais onde tem uma atuação bastante acentuada, foi possível observar apenas 5 tweets citando Ratinho no período de 1 de janeiro de 2019 até 31 de dezembro de 2021, podemos chegar a um total de 12 interações  com referência ao governador se incluirmos comentários a outras postagens ou respostas a questionamentos de outros usuários, sendo um deles em tom crítico quanto às medidas adotadas no enfrentamento à pandemia. Isso num universo que passa dos milhares de tweets.

Em 2018, quando foi candidato a deputado federal, Paulo Martins obteve 118.754 votos. Já neste pleito, para o Senado (eleição de caráter majoritário), era esperado que ele obtivesse uma votação maior, o que de fato aconteceu  com 1.697.962 votos.  Porém, esse crescimento não foi uniforme, permitindo observar de forma mais precisa qual foi o peso de Ratinho nesse desempenho. Veja as tabelas a seguir:

Tabela 1: Média de crescimento da votação do Paulo Martins entre os anos de 2018 e 2022 por tamanho do eleitorado dos municípios

Tamanho do eleitorado no municípioMédia de crescimento da votação entre os anos de 2018 e 2022Quantidade de municípios 
de 1 até 4.3 mil eleitores152 vezes100
de 4.3 até 7.4 mil eleitores84 vezes104
de 7.4 até 14 mil eleitores69 vezes95
de 14 até 43 mil eleitores33 vezes69
mais de 45 mil eleitores  20 vezes 31

Tabela 2: Média de crescimento da votação do Paulo Martins entre os anos de 2018 e 2022 por percentual de votos no Ratinho Júnior em 2022 por município

Percentual de votos recebidosMédia de crescimento da votação entre os anos de 2018 e 2022Número de municípios 
de 26,7% até 42,4% de votos78 vezes101
de 42,4% até 48,1% de votos78 vezes99
de 48,1% até 52,2% de votos78 vezes155
de 52,2% até 69,8% de votos131 vezes44

No início do mês de agosto fiz uma análise sobre o impacto do apoio do governador para as eleições ao Senado com um olhar retrospectivo, ou seja, olhando para as eleições passadas. Agora, com o pleito finalizado, é possível olhar de forma mais assertiva para o que aconteceu nesta eleição de 2022. E o que ficou evidente é o fato de o governador ter conseguido transferir de forma bastante eficiente seu capital político para seu candidato ao Senado.

Sobre o colunista

Jeulliano Pedroso é sociólogo, formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em ciência política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e mestrando em Antropologia Social também pela UFPR. Atualmente é Analista-chefe na Brasil Sul Inteligência.

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