Entenda o que é autismo, principais sinais e quando procurar tratamento
As pesquisas e avanços no conhecimento sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista) aumentaram a discussão sobre o tema na comunidade científica e as investigações e diagnósticos mais precoces nos últimos anos, o que é considerado fundamental para o início das intervenções e o desenvolvimento das crianças que se encontram dentro do espectro.
Além disso, ocorreram mudanças na classificação diagnósticas nas últimas décadas e por se tratar de um espectro, os autistas possuem características diferentes, apesar do mesmo diagnóstico, o que exige intervenções multidisciplinares de acordo com a necessidade individual de cada um.
O que é autismo?
Autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, é uma condição que se inicia desde o nascimento da criança, que interage, se relaciona e tem contato com o mundo de forma diferente.
Dentro deste transtorno, algumas características são obrigatórias para se fazer o diagnóstico. “Quando a gente fala de TEA, por ser um espectro, é bem delicado se comparar uma pessoa com a outra e falar ‘isso é autismo’, isso não é autismo, porque a gente tem uma gama de sintomas que podem ser mais ou menos presentes, dependendo da característica de cada um. Por mais que seja uma condição comum a todos, cada indivíduo têm diferentes características, que podem ter mais intensidade em algo e menos em outro”, explica a médica psiquiatra Karen Magalhães, especialista em desenvolvimento infantil.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico do TEA é feito por observação clínica por uma equipe de profissionais com treinamento específico para investigação individual de cada caso. Exames laboratoriais são pedidos para excluir outras possibilidades e avaliar se existem comorbidades que também necessitam de tratamento ou medicação.
Existe tratamento para autismo?
O principal tratamento é a intervenção multidisciplinar, com a presença de fonoaudióloga, psicóloga, psicomotricista, psicopedagoga, acompanhante terapêutica, terapeuta ocupacional, integração sensorial e outros. Mesmo assim, a médica psiquiatra ressalta a necessidade da avaliação individual antes do início das intervenções.
“Isso é para todos? Não, pois a avaliação é sempre individualizada, então o tratamento também é individualizado. Avaliar aquela criança e entender o que ela precisa que seja trabalhado. O que é primordial, o que está gerando mais angústia. Então o tratamento é bastante individualizado. Não há um tratamento único e protocolar para todos. Existem coisas que têm evidências científicas e existem coisas que não tem evidência científica, sempre, o tratamento deve ser baseado na evidência científica”, destaca Magalhães.
Além das intervenções, o tratamento também pode ser associado a medicamentos para melhorar a qualidade de vida e autonomia do autista. “Não é para o TEA (medicamentos) e, sim, para o sintoma alvo. Uma criança pode ficar mais ansiosa, irritada, mais agressiva ou ter dificuldade no sono. O paciente é medicado com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e para que consiga participar de outras intervenções e ter um pouco de autonomia”, esclareceu.
O que os pais devem prestar atenção e como proceder se estiverem em dúvidas sobre os filhos?
A idade limite para o diagnóstico precoce do TEA ainda é uma questão em debate na comunidade médica e entre as pessoas que possuem algum contato com o tema, principalmente os familiares de pessoas dentro do espectro.
Independente disso, a especialista recomenda que a partir de qualquer atraso observado, os pais podem procurar atendimento para início de uma investigação clínica.
“Geralmente, o bebê tem uma interação com os pais. Então, o olhar na hora de amamentar é importante e reparar se o bebê se aconchega no colo. Por volta de 1 ano, a criança é chamada pelo nome e olha. Quando acontece alguma coisa em casa, ela segue com os olhinhos. A comunicação não verbal também é importante, se ela compartilha e sorri. São sutis, delicadas, não significa que se a criança não fizer isso, ela tem um diagnóstico de TEA, mas é importante que seja visto e avaliado”, analisou a médica psiquiatra.
Outra dica é conversar com o pediatra que é quem faz a triagem, pois acompanha o desenvolvimento do paciente desde pequeno e existe uma lista de habilidades que as crianças devem adquirir, conforme a idade.
Na dúvida, é necessário buscar a avaliação. Mais do que qualquer pessoa, os pais estão o tempo todo com os filhos. Então, são os principais informantes que vão perceber algo diferente.
E os adultos? Também podem ser diagnosticados e tratados?
A procura por atendimento entre adultos com suspeita também aumentou nos últimos anos, principalmente por falta de incentivo ou acesso ao diagnóstico durante a infância, em uma época marcada por mais preconceito do que ainda existe hoje contra as pessoas com transtornos e doenças psiquiátricas. Assim, muitas famílias evitavam o diagnóstico.
Vale lembrar que o TEA não é uma doença, pois se trata de uma condição de neurodesenvolvimento que repercute nas relações sociais.
“O tratamento no adulto é feito da mesma forma e procuramos pontos individuais que necessitam ser trabalhados, como socialização, relações familiares e adequação ao mercado de trabalho. É muito importante que essas pessoas possam ter diagnóstico pensando em autonomia e qualidade de vida”, reforça Magalhães.