PM que matou ex e tirou a própria vida deixou carta para justificar crime

por Daniela Borsuk
com informações de Thais Travençoli, da RICtv
Publicado em 16 set 2022, às 15h07.

O policial militar Dyegho Henrique Almeida da Silva, que matou a ex-mulher e tirou a própria vida, enviou uma carta para grupos de amigos e de policiais antes de cometer o crime. Na mensagem, que tem cerca de três páginas, o PM justifica as ações, dizendo ter sido vítima de um relacionamento abusivo. Ainda, ele afirma que a ex, Franciele Cordeiro e Silva, o induziu à fazer empréstimos, resultando em dívidas financeiras.

Dyegho começa a carta dizendo que era um homem “otimista” antes de conhecer Franciele, que planejava viagens e que achou que, ao ficar com a ex, seria apenas um relacionamento casual. O PM relatou que convidou a jovem para morar com ele, pela amizade, depois que ela foi expulsa de casa pela mãe. “Já no primeiro mês ela não recebeu do trabalho, tendo eu que pagar as custas da casa. Ela alegou que tinha um processo na Justiça, que já havia ganhado, só faltava o pagamento. Pediu então que eu pegasse um empréstimo a fim de mobiliar melhor a casa, eu cedi”, escreveu ele.

Na mensagem, o policial contou que as brigas começaram e que decidiu deixar a casa para a mulher. Sobre a gravidez, que em boletim de ocorrência Franciele disse que Dyegho tentou abordar o bebê, ele confessou que não queria a criança, mas alegou que ela tomou remédio abortivo sozinha.

“Nesse interim ela engravidou, ela armou isso e foi manipulando diversas vezes, quando num dia eu decidi parar de ser chantageado, peguei minhas coisas e fui embora. No dia seguinte ela tomou o [remédio abortivo] sozinha e sem eu por perto, me chamou para ficar com ela e aguardar o efeito. A noite minha filha nasceu e viveu apenas dias, eu não amava e nem queria saber da criança, mas é uma sensação surreal e eu me perdi naquela humaninha pequena e depois foi levada como um anjo no céu”, registrou.

Com relação ao episódio, a advogada de Franciele, Nicolly Dal’Apria, que representa agora a família da vítima, mostrou um print de uma conversa do casal que contraria a versão. Na mensagem, o PM aparece passando uma receita de remédio abortivo e Franciele pedia para que ele parasse.

“Ele demonstra ali na carta que ele não sabia inclusive do aborto, que ele estava longe. Mas conforme já foi divulgado [através de prints] foi ele que manipulou, foi ele inclusive que ensinou à ela como manipular os remédios para aborto, né?! Isso demonstra mais uma contradição dele nesta carta, que ao contrário do que possa parecer, foi ele que induziu isso, foi ele que cometeu esse ato”, contestou a advogada.

A advogada disse que a família da vítima teve acesso à carta e ficou indignada. “Uma revolta, várias informações que constam ali são inverdades, são justificativas para o ato que ele cometeu. Tanto a mim quanto à mãe que recebeu esta carta, causou uma grande revolta”.

Sobre o relacionamento, o policial descreveu como “abusivo” e disse que os homens precisam “ter cuidado”. “Ela surtava e gritava sem motivos, era muito abusivo. Enfim um pincelada sobre a merda que foi minha vida nesse período. Só sei que perdi dinheiro, pessoas que gostavam de mim e psicológico abalado”.

“Por fim, descobri que ela é técnica de enfermagem, nada contra, só não precisava mentir. Tirou o diu pra engravidar, me acusou de aborto sem consentimento, me deu um rombo no empréstimo de 96x 2100 descontado em folha, móveis da casa, uma moto, em média 13k que tinha aplicado e em casa. Fora mais coisas e ainda saiu me culpando e mandando eu correr atrás, me virar, acho que ninguém aguentaria tanto”, escreveu na carta. “Mas hoje acabo e mostro para ela que nem tudo é assim. Se alguém vai acabar com a minha historia, serei eu, apenas eu”.

Em vários momentos, o policial afirmava que iria “acabar” com a situação, o que mostra que o crime foi planejado, segundo a advogada de Franciele. “Era algo premeditado, ele já sabia o que ele ia fazer naquela tarde, ele já saiu com a sua arma do quartel, já premeditado este crime, esta barbaridade”, disse Nicolly.

Na carta, o PM ainda distribuiu seus bens, como uma espécie de testamento, deixando veículos e videogames para os amigos e dinheiro que teria a receber para a mãe.

Relembre a cronologia do caso Rebouças:

  • Nesta terça-feira (13), o policial militar recebeu a arma da PM e saiu da sede em direção a Rua Francisco Nunes.
  • No bairro Rebouças, já no final de tarde, 14 minutos após deixar a sede da PM, o policial abordou o carro da ex-mulher, que voltava de mais uma denúncia na Corregedoria da Polícia Militar. Ele estava de moto, desceu do veículo e começou a atirar. Franciele estava com a filha de 11 anos no automóvel e ainda deu a ré ao perceber os tiros. Ela bateu em outro carro e foi obrigada a parar.
  • A adolescente de 11 anos conseguiu sair do carro correndo, sem ferimentos, gritando que o padrasto havia atirado na mãe. A Polícia Militar foi acionada e Dyegho entrou no carro da ex.
  • A mulher foi baleada e ficou refém do ex-companheiro dentro do veículo. As equipes começaram as tentativas de negociação para que a Franciele pudesse ser socorrida e para que o policial se entregasse.
  • As negociações duraram cerca de quatro horas, sem sucesso.
  • Por volta das 21h30, Dyegho atira contra si mesmo e comete suicídio. A mulher não resistiu aos ferimentos e morreu pouco antes, dentro do veículo.