Review: Power

por TOMMO
Publicado em 18 ago 2020, às 18h45.

Que atire a primeira pedra quem não está morrendo de saudades da poltrona de couro, do cheirinho de pipoca amanteigada e da luz baixa que dá vez àquele blockbuster super descompromissado e repleto de efeitos visuais. Enquanto os drive-ins representam uma boa opção ao cinema tradicional — acessíveis somente para quem tem carro, claro, e isentos de novidades imediatas das distribuidoras —, os serviços de streaming se viram para oferecer ao público produções inéditas e dignas da sua forma estética mais impressionante.

No mesmo leque de Resgate e The Old Guard, o novo filme original da Netlix Power (ou Project Power) vem com a mesma premissa de comprimir uma grande produção para as televisões, tablets, celulares e quaisquer outros gadgets que projetem imagem e tenham conexão com a internet.

A trama acompanha a jornada de um misterioso ex-soldado em busca de uma fonte por trás de uma droga em forma de pílula. Esta, ao invés de proporcionar efeitos alucinógenos, desperta superpoderes temporários no usuário, podendo variar entre invisibilidade, domínio do fogo, pele à prova de balas, entre outros. Um policial de Nova Orleans e sua amiga, no entanto, cruzam o caminho do justiceiro e aí o barraco está armado.

Inspirado em absolutamente tudo o que a gente viu por aí do quesito herói, a dupla de diretores Henry Roost e Ariel Schulman oferece uma ótima sacada ao mesclar poderes especiais e o submundo narcótico. Torna-se reconhecidamente autêntico, afinal.

Mas os percalços logo surgem no andar da carruagem, que trilha no modo automático. A estereotipagem se faz presente em todos os rumos previsíveis que a trama toma. Não há surpresa em qualquer decisão ou incidente que os personagens venham a se deparar, o que vai pulverizando o clímax cena após cena. As mesmas obviedades marcam negativamente a presença do elenco, que conta com nomes de peso. De forma resumida? Jamie Foxx é o justiceiro stand alone extremamente habilidoso com pose de badass, Joseph Gordon-Levitt é o policial que entende das maracutaias todas, mas que se revela uma boa pessoa, Dominique Fishback é a ajudante e alívio cômico que demonstra um enorme potencial e, no papel de um “sub-chefe”, Rodrigo Santoro está esquecido nesse churrasco vide participação esquecível.

Para todos os efeitos, quem opta por conferir Power certamente busca o deleite visual, e não vai se decepcionar aqui. Arrisca-se a dizer que o longa de Roost e Schulman detém os melhores efeitos especiais já vistos nos exclusivos da Netflix. A cena de Machine Gun Kelly correndo em chamas dentro de um corredor é exemplo disso, dado a sua riqueza de detalhes e um excelente trabalho de mixagem sonora. A fotografia tem cores fortes e um contraste equilibrado, imprimindo personalidade forte ao longa em conjunto com uma trilha sonora recheada de batidas perfeitamente sincronizadas com as cenas de ação. Falando nelas, existe pouca dívida com o que é visto em blockbusters semelhantes e dá para se divertir tranquilamente com a pancadaria alheia, apesar de pontuais exageros.

No final das contas, Power é despretensioso e entrega o pipocão que amávamos assistir nas telonas. Tem efeitos especiais competentes, cenas de ação bem coreografadas e um elenco mais que convidativo. Não é original, mas é autêntico em sua premissa e tem potencial para ser aprimorado em uma eventual sequência. Por enquanto pode-se dizer que o longa é digno de Tela Quente ou Cine Maior, o que é bom para quem deseja desligar o cérebro e só se deixar levar pelos tiros, porradas e bombas.