Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar trabalhava sem rumo claro contra o real nesta última sessão de 2020, de olho na fraqueza da divisa norte-americana no exterior em meio a um clima global otimista, com os investidores domésticos avaliando a volatilidade e os reajustes de posições à medida que o ano se aproxima do fim.

Às 10:39, o dólar avançava 0,61%, a 5,2143 reais na venda, enquanto o dólar futuro negociado na B3 caía 0,14%.

Mais cedo, na mínima do dia, a divisa norte-americana havia caído para 5,1546 reais, em linha com a perda de 0,3% apresentada pelo índice do dólar contra uma cesta de moedas, que rondava mínimas desde 2018. Divisas arriscadas pares do real, como dólar australiano, lira turca e rand sul-africano registravam ganhos expressivos nesta quarta-feira.

A busca por ativos mais arriscados refletia o bom humor generalizado depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sancionou no domingo um pacote de ajuda pela pandemia e de gastos no valor total de 2,3 trilhões de dólares, restaurando o auxílio-desemprego a milhões de norte-americanos e evitando a paralisação do governo federal.

Embora houvesse indefinição em torno da votação nos EUA da ampliação de cheques diretos para os cidadãos, a presença de mais ajuda fiscal na maior economia do mundo, aliada ao avanço da vacinação contra a Covid-19 nos principais países do mundo, apoiava o bom humor dos mercados.

“Você vê otimismo nos mercados mais fortes, nos Estados Unidos e na Europa, e moedas emergentes se valorizam contra o dólar”, disse à Reuters Rafael Panonko, analista chefe da Toro Investimentos. “O mercado está mais otimista em relação à vacinação, a uma virada de página na Covid.”

Ele ressaltou, no entanto, a presença da volatilidade de fim de ano nesta quarta-feira, com volumes de negociação reduzidos.

Já Thomás Gibertoni, analista da Portofino Multi Family Office, chamou a atenção para movimentos de ajuste de posição que têm dominado o radar dos investidores e podem impulsionar a moeda norte-americana contra o real.

Com o fim do ano, “temos remessas de capital para fora, saídas relevantes do país”, disse ele. “Tem a reconstituição de hedge, com o mercado voltando a fazê-lo para proteger posições em bolsa.”

Vários analistas também citavam o desmonte do ‘overhedge’ –uma proteção cambial adicional adotada por bancos que deixou de ser interessante depois de mudanças em regras tributárias– como um fator importante neste fim de ano, uma vez que zerá-lo implica compra de dólares.

A moeda norte-americana caminhava para fechar 2020 em alta de aproximadamente 29% contra o real, o que deixaria a divisa doméstica com o segundo pior desempenho global no acumulado do ano, atrás apenas do peso argentino.

Entre os fatores que têm impulsionado a busca pelo dólar, a forte incerteza fiscal no Brasil é apontada por analistas como o principal, em meio a temores de que o governo fure seu teto de gastos em 2021. O controle de gastos e retomada da agenda de reformas estruturais brasileira são vistos como essenciais para fornecer algum apoio aos mercados domésticos.

“A questão das contas públicas tem importância. Se você passa a imagem de um ambiente de compromisso e austeridade fiscal, isso atrai mais investidores”, disse Panonko, da Toro.

Além disso, um ambiente de juros extremamente baixos no Brasil –que prejudica a rentabilidade de investimentos locais atrelados à taxa Selic– e o impacto econômico da Covid-19 ajudaram a minar o apetite por risco dos operadores neste ano.

Mas ainda há otimismo dos investidores em relação ao cenário para o próximo ano.

“O avanço das vacinas está sendo rápido, e a tendência para 2021 deve ser de um ‘gás’ no consumo bem forte no mundo como um todo. Se o Brasil conseguir fazer seu papel em casa de manter o fiscal em ordem, pode aproveitar essa melhora global”, disse Thomás Gibertoni.

Na véspera, a moeda norte-americana spot registrou queda de 1,10%, a 5,1827 reais na venda.

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30 dez 2020, às 10h50.
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