Crítica: Eu Me Importo

por TOMMO
Publicado em 28 fev 2021, às 11h38. Atualizado às 11h40.

Os últimos filmes estrelados por Rosamund Pike ou que contaram com participação relevante da atriz têm um fator em comum: a personalidade de “fachada” que ela é capaz de arquitetar. A ex-Bond Girl passou a ganhar notoriedade nesse sentido a partir de Orgulho e Preconceito (2005), passando por Educação (2009) e consolidando seu trabalho mais expressivo em Garota Exemplar (2014). Seu sorriso simpático e amigável é capaz de ocultar uma personalidade calculista, imprevisível e até mesmo perigosa. É esta capacidade de manipulação psicológica que levou Pike a protagonizar o novo thriller com pitadas de comédia de J Blakeson, Eu Me Importo, distribuído pela Netflix aqui na América Latina.

O diretor que assina A 5ª Onda e O Desaparecimento de Alice Creed entrega um trabalho divertido, apesar dos exageros. Pike é Marla Grayson, uma cuidadora nomeada pela justiça que se aproveita da incapacidade de idosos para forçá-los à curatela e, eventualmente, tomar posse de seus bens com ajuda da sua namorada, Fran, e de outras partes interessadas. Mas uma de suas vítimas — uma senhora de 70 anos aparentemente sozinha e sem família —, esconde uma ligação perigosa com gangsteres, aí temos um jogo de gato e rato do qual ninguém vale nada.

Por não haver mocinhos e mocinhas, o roteiro permite que o espectador faça suas predileções sem necessariamente se preocupar com alguém. É para o circo pegar fogo mesmo. A construção da disputa até os idos do segundo ato alimenta o senso de preferência. Quando o conflito vai para as vias de fato, embora muito divertido, a direção se utiliza de resoluções repletas de conveniências para construir situações e desfechos que beiram o absurdo de tão intangíveis, mas não há problema se você não levar a trama tão a sério, pois nem ela o faz: o longa é um pipocão inveterado.

Rosamund Pike, como dito anteriormente, é o cerne do filme e o principal motivo para assisti-lo, mas a personagem de Dianne West também surpreende por transitar de uma senhora amistosa a uma pessoa ameaçadora no melhor estilo passivo agressiva, provocando intimidação com sorrisos e gestos. Peter Dinklage não fica para trás e interpreta um vilão anedótico e caricato, sobretudo por seus trejeitos e manias. Ele “odeia ficar nervoso” e o visual é simplesmente memorável. Demais personagens, como o de Elza Gonzáles e Alicia Witt, são apenas complementos para que as tramoias dos rostos principais aconteçam freneticamente.

Embora ofereça resoluções cômodas e situações completamente fora da realidade, Eu Me Importo ainda é um divertido suspense com toques de comédia, especialmente por mérito de Rosamund Pike, portadora de um estilo quase único de atuação. O longa canoniza justamente essa característica da atriz britânica e permite que o espectador assista a um conflito caótico sem se preocupar em queimar neurônios. Fica a dica: escolha um lado e torça pela treta.

Por Fabrício Calixto.

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