Vídeo de policial ensinando a usar viatura como câmara de gás viraliza após morte de Genivaldo, em Sergipe
O vídeo de um professor de curso preparatório para provas policiais, “ensinando” a fazer uma câmara de gás dentro de uma viatura, viralizou na internet, e vem gerando muitos comentários. A gravação foi compartilhada, logo após um homem morrer asfixiado após uma abordagem policial na quarta-feira (25), na cidade de Umbaúba, em Sergipe.
No trecho da gravação, o Policial Rodoviário Federal Ronaldo Bandeira, que lecionava aula no curso preparatório Alfacon, descreve uma situação em que a pessoa detida, já no porta-malas, tentava chutar o vidro para sair.
“O que o policial faz? Abre um pouquinho, pega o spray de pimenta e taca (risos). Foda-se, é bom pra caralho, a pessoa fica mansinha”“ Daqui a pouco escuteu ‘vou morrer’, ‘vou morrer’. Aí fiquei com pena, cara, aí eu abri, tortura, e fechei denovo. (risos).
Trecho do vídeo
Depois ele completa dizendo, “sacanagem, fiz isso não”. A “orientação” dada pelo professor foi acompanhada pelos alunos que deram risada sobre o fato.
A equipe do Portal RIC Mais entrou em contato com a instituição que emitiu uma nota relatando sobre a situação. Segundo a assessoria de imprensa do Alfacon, na época em que o vídeo foi gravado, em 2016, o professor fazia parte da instituição, no entanto não faz mais parte do quadro de funcionários desde 2018.
“O Alfacon Concursos informa que repudia qualquer tipo de violência, seja física ou psicológica, contra civis. A empresa, tanto por meio da plataforma de cursos como pela editora, acredita que a educação é o motor de transformação social e de estabilidade financeira, promovendo, nos seus 13 anos de existência, acesso de estudantes ao conhecimento técnico necessário para concursos públicos das mais variadas naturezas.
Em que pese o fato de o referido professor não fazer mais parte do curso desde 2018, o Alfacon não compactua com as informações, que não condizem com as políticas e os valores da companhia. Esse discurso tampouco está em alinhamento com os treinamentos pelos quais todos os educadores são submetidos ao ingressarem no corpo docente. O Alfacon preza pela formação dos oficiais, valorizando a carreira policial de forma ética, entendendo a importância desses profissionais para a segurança pública.”
Nota Alfacon
Nossa equipe também procurou o professor envolvido no fato, que deu sua versão sobre o assunto. ele relatou que foi um exemplo infeliz.
“Foi uma fala infeliz. Foi um exemplo muito infeliz. Quando a gente entra em sala de aula como professor, a gente não representa uma instituição é uma atividade de cunho profissional. Segundo ponto, ali foi um exemplo literalmente sobre a lei de tortura (Lei Penal 9.455) do que realmente não se deve fazer, e no final a gente entra no personagem, é como se a gente fosse um personagem dentro da sala de aula para trazer um caso fictício ou elucidativo para que o aluno fiz aquele conteúdo. E eu utilizei infelizmente esse exemplo, que foi o mesmo, utilizado no Sergipe.”
Ronaldo Bandeira – professor e PRF
Ronaldo explica que começou a lecionar, antes mesmo de ser policial e que não fala sobre a instituição durante as suas aulas. O professor enfatiza que nunca praticou o exemplo utilizado em sala de aula.
“Nunca pratiquei nada do tipo. Sou totalmente contra qualquer tipo de violação física ou psicológica aos Direitos Humanos. Foi uma coincidência infeliz. Uma brincadeira, pode ter sido, mas eu tentei utilizar em primeira pessoa, para que os alunos pudessem fixar o conteúdo, mas eu não realizei o ato.”
Ronaldo Bandeira – professor e PRF
Genivaldo
Genivaldo Alves de Jesus, de 38 anos estava junto com o sobrinho quando foi abordado por policiais rodoviários federais. De acordo com o parente que acompanhava, ele possuía transtornos mentais e ficou nervoso com procedimento dos agentes.
Pelas imagens que foram gravadas é possível ver Genivaldo no chão, cercado de policiais, que logo levam ele para o porta-malas da viatura. Outro policial joga uma espécie de gás dentro do espaço, e, para evitar que a detido saia dali, outro segura a porta.
Tempo depois, o rapaz fica inconsiente e não se mexe mais. Diante disso, os policiais até levaram ele para o hospital, mas ele havia morrido por asfixia e insuficiência respiratória. No bolso dele, foram encontrados remédios contra esquizofrenia.
Em nota, a PRF afirmou que o homem teria “resistido ativamente” à abordagem, e que foi necessário “técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo” para conter a vítima, que passou mal no caminho para a delegacia.
Veja a nota completa:
“Na data de hoje, 25 de maio de 2022, durante ação policial na BR-101, em Umbaúba-SE, um homem de 38 anos resistiu ativamente a uma abordagem de uma equipe PRF. Em razão da sua agressividade, foram empregados técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo para sua contenção e o indivíduo foi conduzido à Delegacia de Polícia Civil em Umbaúba.
Durante o deslocamento, o abordado veio a passar mal e socorrido de imediato ao Hospital José Nailson Moura, onde posteriormente foi atendido e constatado o óbito.
A Polícia Civil de Sergipe afirmou que investiga o caso e colhe depoimentos dos envolvidos. A família registrou um Boletim de Ocorrência.