Renato Freitas não é menino!

Minuto Riva

por Guilherme Rivaroli
Publicado em 6 jul 2022, às 16h56. Atualizado em: 7 jul 2022 às 08h47.

Me chamou atenção uma declaração da defesa de Renato Freitas, vereador de Curitiba cassado, que, pela justiça (acertadamente avaliação feita por muitos colegas de mandato) retornou ao cargo. Ana Júlia, suplente, deve ficar até o final do recesso, quando o amigo será reempossado. A frase usada foi a seguinte, em resumo: Renato teria sido julgado e cassado por ser um menino, pobre e preto. Não, nem de longe!

O político se fez por seus méritos, e isso é louvável, saindo da periferia, podendo estudar e se tornar advogado, inclusive, mestre, atendendo de forma popular, encabeçando lutas nobres pela periferia, por comunidades, educação, contra o racismo, carregando características rebeldes – o que me soa até juvenil.

Já não mais pobre, segundo os quesitos do IBGE, pois ganha salários que passam de R$ 15 mil reais mensais, já ministrando aula em universidades (nota: com 33 milhões de brasileiros próximos da linha da miséria, com ordenado em tão monta, dizer-se pobre, é uma afronta àqueles que inclusive diz dar voz e lutar). Não há nenhum erro nisso! O que o trouxe até aqui é representativo e motivador, em especial pelas pautas de luta e conquistas. O erro consiste em tratá-lo como menino.

Ele é um homem, estudado, inteligente, eleito, portanto, deve ter um comportamento, uma liturgia que o cargo pede.

Se faz necessário lembrar: ser preso pichando, ocupando (invadindo) igreja e outras situações polêmicas não condiz com a conduta de um vereador.

Eu gosto de rebeldia, sou assim também, contudo, há limites, e por isso foi cassado, por quebra de decoro parlamentar.

Se é menino, saia da Câmara de Vereadores: ali é local de cidadãos com enorme peso de responsabilidade, se criança fosse, os deslizes seriam perdoados; adulto, o modo de tocar a vida política deve ser outro. 

Acreditava que pudesse ser um furacão na política quase estática do Legislativo municipal; não. Perdeu-se em arroubos dignos de primeira infância. 

Sei de bastidores com vereadores de várias legislaturas: usar o secador de cabelo durante uma sessão on-line, fez com que houvesse a interpretação de que não considerava os outros eleitos, agindo com soberba por sobre os pares. Foi a gota d’água, a manifestação na Igreja do Rosário extravasou o copo. 

O eleitor, mais uma vez, fica perdido. A nova posse deve ocorrer depois do recesso. 

O que vai acontecer? 

Ou segue no cargo, ou pode ser bi-cassado ( neologismo) , afinal, nunca se viu isso antes. A tendência de futuro está na segunda opção. Não se descarta refazer o processo sem a posse, como passado com Collor, que renunciou e ainda assim sofreu impeachment – confesso que não sei se é possível, demonstrando minha ignorância, mas, estuda-se essa opção.

Torço para que se torne um adulto responsável! As brigas que toma a frente são justas e plausíveis, numa sociedade que nega o preconceito estrutural (seja de etnia, classe ou orientação sexual).

Se continuarmos a tratá-lo como garotinho, estaremos cometendo um desserviço a ele mesmo. Meninos podem tudo, não se importam com regras. É isso que queremos de um representante do povo?

Cresça e apareça! Desse modo, será levado a sério! 

Viva a democracia e as responsabilidades e liberdades que ela nos dá!

Era isso!

Me siga em minhas redes: @rivarivaroli

Sorte e paz!

Atualizado às 19h13:

Vereador Renato Freitas (PT) reassume o cargo, cumprindo determinação judicial, segundo direção da Câmara. Novas sessões que deliberam cassação têm data prevista para agosto. Pode ser entrar, para sair de novo. Ana Júlia (PT) volta à suplência. Ambos são pré-candidatos a deputados estaduais.

Mostrar próximo post
Carregando