Muitos meios de comunicação deixaram de frequentar o chiqueirinho diante do Palácio da Alvorada, onde o presidente Jair Bolsonaro recebe fiéis devotos e os vê agredirem repórteres. Chamou de entrevista o monólogo do rancor. Mas alguém ousou fazer uma pergunta e ele não berrou o “cala a boca” de vez anterior, mas deixou claro que, na modalidade cloroquina de entrevistas, perguntas nunca interrompem suas arengas de baixo calão.

Aos berros, como aprendeu na casa paterna e os usa para tornar o Brasil uma republiqueta de bananas do Vale do Ribeira, onde foi criado, deu a própria versão do “diga ao povo que fico” do príncipe Dom Pedro ao ser convocado a voltar para Lisboa. “Acabou, porra!”, resumiu o recado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Tradução social: “Ordens absurdas não se cumprem”. Defendia bandidos que pagam ou são pagos para disparar mentiras em redes sociais, inspiradas no “gabinete do ódio” do filhote 02.

À tarde, na live das quintas dos infernos, disse que pretende nomear o procurador-geral da República, hoje na prática “puxa-saco oficial do presidente”, para a terceira vaga que preencherá no STF. Mas só dois ministros se aposentarão na vigência de seu mandato atual (quem lhe garante que haverá outro?). Ué, na hipótese de algum dos remanescentes desaparecer. Lembrou aí desaparecidos na ditadura ou uma nova forma de assassinato de milícias da periferia do Rio, onde mora? Quem vai saber? Certo é que Augusto Aras lhe tem prestado excelentes serviços no cargo para o qual o nomeou, à revelia das listas tríplices dos procuradores. O petista baiano, como deixou claro o chefão, tem-lhe prestado bons serviços.

Bobocas como o autor deste texto imaginavam que isso seria feito mesmo, mas não às escâncaras. Será que o fez por escassez de inteligência ou falta de finura no trato institucional? Tanto faz. Pois no dia seguinte o leão de comédia da Metro baliu como cordeiro em pele de lobo ao falar para o público amestrado, respondendo a um admirador sobre abertura de escolas. “A decisão das escolas cabe aos governadores e prefeitos”, afirmou, fugindo a essa e outras oportunidades de criticar o STF. Dá para entender Bolsonaro? Perfeitamente. Ele sempre dá dois passos à frente e um para trás com o objetivo de solapar as instituições e dar um autogolpe. Na proclamação desse golpe do gogó, falou em “armas da democracia”.

Mas os generais Hamilton Mourão, seu vice, e Augusto Heleno Ribeiro, chefe de sua segurança pessoal, deixaram claro que os fardados armados não apoiarão golpe algum. O general Santos Cruz, amigo desde a Academia Militar de Agulhas Negras, que vilmente expulsou do Palácio do Planalto , renegou o devaneio. Aí, ele afinou. E miou, que besta ele não é.

*Jornalista, poeta e escritor

31 maio 2020, às 18h00. Atualizado em: 5 jun 2020 às 10h19.
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