Em outubro de 2018, segundo relato de seu suplente no Senado, Paulo Marinho, o senador Flávio Nantes Bolsonaro foi avisado por bolsonarista da Polícia Federal, que seria deflagrada pelo Ministério Público do Estado do Rio a Operação Furna da Onça com revelações comprometedoras sobre as finanças de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj).

O Conselho de Controle da Atividade Financeira (Coaf) detectou movimentações “atípicas” de R$ 1,2 milhão na conta de seu faz-tudo Fabrício Queiroz. Conforme o relato, foi aconselhado a demitir o flagrado e avisar ao pai, Jair Bolsonaro, então deputado federal, para fazer o mesmo com a filha do ex-subtenente da Polícia Militar fluminense, Nathalia, personal trainer no Rio e servidora fantasma no gabinete parlamentar do capitão da nova política em Brasília. Só as demissões comprovam que Marinho não mentiu.

Há 18 meses, o parlamentar já recorreu (e perdeu) nove vezes às altas instâncias do Judiciário, não para ser inocentado no processo, mas para paralisá-lo. Mas entrou na história do Judiciário brasileiro ao conseguir do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, amigo de seu pai, a suspensão de todas as investigações de ilícitos financeiros pelo Coaf, que, por decisão deste, saiu da alçada do Ministério da Justiça, então sob Sérgio Moro, para a do Banco Central. Seis meses depois, contudo, seu calvário recomeçou, porque o “pretório excelso” acabou com a decisão atrabiliária e danosa ao Estado de Direito. A proeza foi conseguida por seu ex-advogado, Frederic Wassef, que foi obrigado a demitir pelo empréstimo de um escritório de advocacia de fachada em Atibaia para manter Fabrício Queiroz fora do alcance do MP do Rio.

À véspera de ser denunciado pela mesma instituição como “chefe de organização criminosa” de um esquema de peculato, corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, já com novos advogados, conseguiu dos desembargadores Mônica Tolledo de Oliveira e Paulo Rangel do Nascimento dois votos para vencer o relatório, que nega seu pedido de retardar mais uma vez o mesmo inquérito, da lavra de Suimei Meira Cavalieri.

Este voto isolado contra permitirá recurso e, portanto, abrirá caminho para o caso chegar ao STF, que já regulamentou a questão do tal do foro de prerrogativa de função, deixando claro que seu direito ao privilégio se extinguiu no exato momento em que findou seu mandato de deputado estadual. Muita água ainda correrá neste moinho, mas já se sabe que, a cada manobra desta, mais Flávio expõe sua culpa. E ainda faz aquilo que atribui aos inimigos: desgasta o pai presidente, que só entra oficialmente no caso como patrão relapso da filha do amigo paraquedista.
*Jornalista, poeta e escritor

26 jun 2020, às 11h34.
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