Estudantes relatam falta de infraestrutura e se dizem abandonados
De estatização da educação a planos de governo genéricos, candidatos que disputam a chefia do executivo terão pela frente grandes desafios. Prova disso, é o resultado divulgado no final do mês de agosto, que aponta que pouco mais de 1% dos estudantes brasileiros recebem ensino adequado, quando o assunto é língua portuguesa. E esse dado não diz respeito somente ao ensino público, envolve também o ensino particular. “O ensino médio no Brasil está absolutamente falido e no fundo do poço”, desabafou o Ministro da Educação, Rossielli Soares, durante a divulgação do SAEB, Sistema de Avaliação da Educação Básica.
Para o escritor do livro “País mal educado”, Daniel Barros, “crianças e adolescentes vão à escola, mas não conseguem adquirir o conhecimento esperado. Para crescer mais, será preciso fazer mudanças estruturais. Essas mudanças devem envolver a disseminação pelo país de aspectos centrais em casos de sucesso de estados e municípios brasileiros, mas também deve ter modificações mais basilares, a exemplo do que fizeram outros países que revolucionaram a educação”, relata.
A diretora de um colégio estadual da região metropolitana de Curitiba, Aparecida Pavan diz que “um grande desafio é a reestruturação das escolas, desde a parte física até a pedagogia”. Segundo ela, é preciso que o novo governante “resgate a valorização do ensino público”.
O professor da rede estadual, Celso de Freitas, aponta um outro desafio: “combater a evasão escolar”. Ele conta que alguns problemas foram resolvidos. Anos atrás, professores ministravam aulas em disciplinas das quais não tinham formação. “este não é mais um problema devido aos processos seletivos, que direcionam os professores para suas áreas”, garante.
De fato, a evasão escolar é um grande desafio. Segundo o Relatório de Desenvolvimento 2012, realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), um a cada quatro alunos que inicia o ensino fundamental no Brasil abandona a escola antes de completar a última série. Com a taxa de 24,3%, o Brasil tem a terceira maior taxa de abandono escolar entre os 100 países com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), só atrás da Bósnia Herzegovina (26,8%) e das ilhas de São Cristovam e Névis, no Caribe (26,5%).
A divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), reforça a preocupação com o ensino médio. O Paraná tinha como meta a nota 5, mas alcançou apenas, 4. “Estamos muito distantes das metas propostas. É mais uma notícia trágica para o ensino médio do Brasil”, destacou o ministro da Educação Rossieli Soares.
E o problema é geral no país. Para se ter ideia, dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos, relatados pelo Banco Mundial, colocam o país em uma triste espera: estudantes brasileiros podem demorar 260 anos para atingir a proficiência de leitura de jovens de países ricos e 75 para atingir a pontuação média registrada por estes países.
Resolver o problema da educação, perpassa tanto pela falta de vagas no ensino infantil, quanto por problemas estruturais, falta de professores e valorização da carreira. Para resolver o problema, a solução, para a vice diretora de uma escola pública em Curitiba, Sueli Erthal Bazani, é simples: “criar estratégias que valorizem as boas práticas educativas desenvolvidas por bons profissionais”. Para ela, “nós sabemos que existem professores e educadores, principalmente na rede pública, que fazem isso por paixão, pela crença em um futuro melhor, mas infelizmente, diante do cenário, em alguns momentos, os professores e inspetores estão desestimulados”, relata.
“O melhor modelo de educação seria desmontar o modelo sindical de sala de aula. Criar um prêmio, em dinheiro, para professores que desenvolvem trabalhos diferenciados. Isto iria estimular a educação, melhorar a qualidade. Este modelo já é utilizado em outros países”, afirma o comentarista de política do grupo RIC, Denian Couto.
As principais queixas entre os estudantes do ensino público é a falta de infraestrutura das escolas. A maioria relata que os professores têm vontade, que diretores e educadores se esforçam para dar a eles algum alento e vontade de ir ao colégio, porém, em regiões mais periféricas, o poder público parece não olhar para o básico. É o que relatam estudantes do ensino médio, de um colégio público em Colombo, na região metropolitana de Curitiba.
ENSINO SUPERIOR
O Paraná tem hoje sete Universidades Estaduais, em 32 campus. Mais de oitenta mil pessoas cursam graduações, especializações, mestrados e doutorados em todo o estado. Atualmente, a verba para custeio do ensino superior estadual está na casa dos R$ 2,6 bilhões por ano, segundo o Portal da Transparência. E o desafio orçamentário é grande.
As instituições de ensino federais devem ver o orçamento cair praticamente pela metade, já que o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias 2019 prevê destinação de recursos pela metade em 2019, aponta a consultoria de orçamento da Câmara dos Deputados.
O estudo conduzido pela ONG Todos pela Educação divulgou o 7º Anuário Brasileiro da Educação Básica que mostra que apesar de o Brasil ter conseguido se manter entre os 15 países com maior volume de publicações científicas ainda é preciso ampliar o desenvolvimento de estudos em tecnologia e inovação. Essa produção não só impulsiona o crescimento da economia, como garante a inovação dentro da sala de aula.
Estudantes das universidades públicas estaduais enaltecem as instituições e garantem que a presença deles, disseminadas pelo interior do estado, contribuem para o desenvolvimento do estado, mas fazem o alerta: é preciso investir mais. Confira o que dizem estudantes de diversos cursos da Universidade Estadual de Ponta Grossa, nos Campos Gerais.
Por: Fabiana Genestra/RICTV